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BCE precisa de revisão de política e deveria aumentar foco em mudança climática, diz Lagarde

Nicholas Kamm - 7.mar.2017/AFP
Imagem: Nicholas Kamm - 7.mar.2017/AFP

Balazs Koranyi e Francesco Guarascio

Em Frankfurt (Alemanha)

04/09/2019 09h37

O Banco Central Europeu (BCE) precisa manter a política acomodatícia por um longo tempo, mas deve realizar uma revisão mais ampla da política que também leve em conta desafios globais, como as mudanças climáticas, disse Christine Lagarde, provável próxima presidente do banco.

Diante de choques sem precedentes, o BCE foi forçado a reinventar seu conjunto de ferramentas na última década e agora esgotou muitas das medidas não convencionais à sua disposição, sem elevar a inflação ao seu objetivo de quase 2%.

Reconhecendo que o mundo mudou desde a última revisão do BCE em 2003, Lagarde argumentou que, como o Federal Reserve (Fed) e o Banco do Canadá (BoC), o BCE também deveria realizar uma revisão mais ampla.

"(O ano de) 2003 foi há muito tempo, e muitas coisas mudaram no que diz respeito ao BCE", disse Lagarde à comissão de assuntos econômicos do Parlamento Europeu, em uma audiência de confirmação.

"Minha forte convicção é que a análise de custo-benefício (da política) e, possivelmente, uma revisão da estrutura monetária —que teria que ser conduzida não apenas pelo BCE, mas também em coordenação com outras instituições do banco central de todo o mundo— é justificável dadas as circunstâncias", afirmou.

Embora a nomeação de Lagarde como presidente do BCE a partir de novembro ainda esteja para ser confirmada, o processo é em grande parte uma formalidade, pois os líderes da zona do euro, que tomam a decisão final, parecem unidos no apoio à sua indicação.

Reconhecendo que o papel principal do BCE é manter a estabilidade de preços, Lagarde se esforçou para enfatizar o papel da instituição no combate às mudanças climáticas.

"Minha opinião pessoal é que qualquer instituição precisa realmente ter o risco de mudança climática e a proteção ao meio ambiente no cerne da compreensão de sua missão", disse Lagarde.

"O mandato primário é a estabilidade de preços, é claro. Mas é necessário que as mudanças climáticas e os riscos ambientais sejam uma missão crítica", acrescentou.

Novos estímulos

Lagarde evitou amplamente os comentários sobre a política monetária atual, mas argumentou que é necessário um período prolongado de política extremamente acomodatícia, dados os desafios globais, o crescimento fraco e a inflação desconfortavelmente baixa.

Ela acrescentou, no entanto, que o BCE também deve estar atento aos efeitos colaterais negativos de medidas não convencionais.

Lagarde também pareceu apoiar a interpretação do BCE de que sua meta de inflação é simétrica, o que significaria que, após um período de descumprimento da meta, poderia ser aceitável um período de taxas acima do objetivo.

Com a desaceleração do crescimento e a inflação ficando abaixo da meta do BCE por anos, o banco central praticamente prometeu novos estímulos quando os formuladores de política monetária se reunirem em 12 de setembro, uma das últimas medidas que o chefe do BCE, Mario Draghi, poderá tomar antes de deixar o cargo em 31 de outubro.

Como parte do pacote, espera-se que o BCE corte os juros para níveis ainda mais negativos, faça uma nova promessa de manter as taxas baixas por mais tempo e compense os bancos pelos efeitos colaterais dos juros negativos.

Embora os analistas também estejam convencidos de que o BCE reiniciará a compra de ativos, o ceticismo ou a oposição direta de vários membros importantes da zona do euro, como Alemanha, França e Holanda, torna essa discussão mais complicada.

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