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Leilão de petróleo tem recorde de R$8,9 bi; grupo da Total bate o da Petrobras

Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
Imagem: Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier

Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier

Em Rio de Janeiro

10/10/2019 09h53

Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O governo brasileiro arrecadou 8,9 bilhões de reais em leilão de blocos exploratórios de petróleo e gás nesta quinta-feira, com um total de 12 blocos arrematados por dez empresas, incluindo a francesa Total , que liderou o consórcio que bateu grupo integrado pela Petrobras ao ofertar uma combinação de bônus e programa exploratório por área na Bacia de Campos.

O bônus de assinatura arrecadado no leilão foi mais que o dobro do mínimo de 3,2 bilhões de reais previsto para todas as 36 áreas ofertadas, embora apenas tenham sido negociados blocos das bacias de Campos e Santos, enquanto não houve ofertas por outras três bacias de menor potencial conhecido.

Com essa arrecadação em bônus, recorde para leilões em regime de concessão, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e o diretor-geral da ANP, Décio Oddone, disseram que o certame superou todas as expectativas.

"O resultado... demonstra que a política para o setor está no caminho e no rumo certo e abre novas perspectivas para os leilões que ainda ocorrerão", disse o ministro, que mais cedo afirmou que os leilões deverão colocar o Brasil entre os cinco maiores produtores de petróleo.

Um consórcio sob operação da Total (com participação de 40%), em parceria com a QPI (40%), do Catar, e a Petronas (20%), da Malásia, arrematou o bloco C-M-541 (Bacia de Campos) com bônus de 4,029 bilhões de reais, segundo informações da reguladora ANP.

"Isso está alinhado à nossa estratégia de continuar construindo nossas posições de operador nas profundezas do mar do Brasil, onde podemos agregar valor graças às nossas competências em águas profundas", disse em nota o CEO global da Total, Patrick Pouyanné.

Um consórcio sob a liderança da Petrobras, em parceria com a norueguesa Equinor, chegou a ofertar um bônus de assinatura maior pelo principal bloco da rodada, mas a oferta foi vencida pelo outro critério do leilão, que considera investimentos no programa exploratório mínimo.

A petroleira brasileira, historicamente uma grande protagonista das rodadas no Brasil, levou apenas o bloco C-M-477 (Bacia de Campos), com o segundo maior bônus de assinatura da rodada, de 2,045 bilhões de reais. Nessa área, ela será operadora, com 70% de participação, em parceria com a BP.

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, saiu sem dar entrevistas.

OUTRAS VENCEDORAS

Um consórcio integrado por Shell, Chevron e QPI levou o bloco C-M-659 (Campos), com bônus de 714 milhões de reais.

O mesmo consórcio (Shell-Chevron-QPI) arrematou o bloco C-M-713 (Campos), com bônus de 550,81 milhões de reais.

Ao vencer mais dois blocos no Brasil, o presidente da Shell no país, André Araujo, afirmou que a empresa reforçou seu interesse e aposta na região. "A nossa participação foi bem positiva e eu estou feliz com isso", disse, a jornalistas.

A Petronas também arrematou sozinha o bloco C-M-661 (Campos), pagando bônus de 1,115 bilhão de reais, segundo a ANP. A petroleira malaia não tinha atualmente concessões ativas no país, segundo a autarquia.

"O que vocês viram foi um leilão de sucesso, o Brasil, depois de todo o trabalho que foi feito de melhoria do ambiente regulatório, mostra que tem segurança jurídica para atrair investimento, e de porte", disse o secretário executivo de E&P do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Antonio Guimarães.

Como resultado dessa rodada, Oddone, da ANP, afirmou que são esperados de três a quatro novas plataformas no litoral do Rio de Janeiro e São Paulo, uma produção de 400 mil a 500 mil barris por dia e arrecadação na ordem de 100 bilhões de reais em tributos e participações governamentais ao longo da vida dos projetos.

BLOCOS "VAZIOS"

Apesar do grande sucesso do leilão, apenas foram negociados blocos nas já conhecidas bacias de Campos e Santos e nenhuma oferta foi feita para Camamu-Almada, Jacuípe, Pernambuco-Paraíba, consideradas de novas fronteiras.

Antes do leilão começar, Oddone afirmou que a rodada prometia ser a mais competitiva do ano, devido a variedade de alternativas, que permitiriam que as empresas fossem mais agressivas em seus parâmetros.

Os dois outros leilões previstos para o ano são a 6ª rodada de licitação do pré-sal e o do excedente da cessão onerosa, em novembro, sob regime de partilha, com áreas em Santos e Campos.

Questionado após o leilão, Oddone afirmou que o baixo interesse em áreas de nova fronteira é natural e acontece, devido ao pouco conhecimento que se tem ainda sobre essas áreas.

Oddone ressaltou que o governo e a ANP estão trabalhando para facilitar que haja mais conhecimento sobre outras bacias brasileiras, por meio da oferta permanente.

Nessa modalidade, as empresas tem mais tempo para estudar as oportunidades. As áreas não arrematadas nesta quinta deverão entrar nesse outro modelo de licitação.

Outra fator que pode ter pesado na ausência de interesse nas novas fronteiras foi uma ação contra a oferta de sete blocos próximos ao Arquipélago de Abrolhos, que corria na Justiça, apesar de haver áreas já em produção mais próximas da região de grande diversidade ambiental marítima.

Guimarães, do IBP, ressaltou a jornalistas a necessidade de uma previsibilidade maior sobre o processo de licenciamento em áreas ainda pouco exploradas.

O diretor-geral da ANP ainda disse, após o evento, não acreditar que a mancha de petróleo que se espalha há mais de um mês por praias do Nordeste possa ter tido alguma influência no resultado do certame.

(Com reportagem adicional de Gram Slattery)