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Contra desmatamento, ONGs pedem para França não validar acordo UE-Mercosul

Bandeiras do Mercosul, da União Europeia e do Brasil - Wikimedia Commons
Bandeiras do Mercosul, da União Europeia e do Brasil Imagem: Wikimedia Commons

24/08/2020 10h48

Um manifesto de 24 ONGs francesas foi publicado hoje pela emissora FranceInfo sobre os incêndios na Amazônia. As entidades pedem ações concretas da França contra as queimadas, como a recusa do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, assinado no ano passado entre os dois blocos.

"Enquanto os incêndios continuam a bater recorde na Amazônia, não há nem indignação, nem ação. Sob o incentivo do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, o desmatamento continua a avançar em um ritmo alarmante", afirma o texto assinado por 24 ONGs francesas, entre elas, o Greenpeace.

O manifesto, publicado no site da FranceInfo, denuncia o imobilismo do governo francês e diz que o país não pode ser cúmplice da destruição da floresta. O documento lembra que em 2019, durante a cúpula do G7 em Biarritz, no sudoeste da França, o presidente francês prometeu agir para diminuir as queimadas.

No entanto, um ano depois, "na falta de medidas concretas, os incêndios devastam novamente as florestas da América do Sul dentro de uma indiferença geral", reitera o texto.

O manifesto também apresenta dados alarmantes fornecidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), segundo os quais 9.212 km2 de vegetação foram destruídos entre agosto de 2019 e julho de 2020, um número que mostra um aumento de 34,5% em relação ao período anterior.

As terras são utilizadas para a criação de gado e a produção de soja. "E a França, que tem soluções a propor, não faz nada", diz o texto.

As ONGs avaliam que, um ano após as promessas de Macron, não há melhoras em vista. Os ambientalistas também lembram que a França tem uma parte de responsabilidade no desmatamento na América do Sul, especialmente devido à importação da soja proveniente da Amazônia e do Cerrado, que alimentam as criações de animais para abate no país europeu.

"O mundo se tornou insensível, cansado de ouvir falar das florestas que queimam?", questionam.

Como exemplo, os ecologistas citam os gigantes da distribuição na França, como o Carrefour e o Casino, que comercializam em seus supermercados no Brasil carne de gado que tem relação com o desmatamento.

Gigantes franceses do mundo das finanças também não escapam: segundo o manifesto, os bancos BNP, Société Générale e o Crédit Agricole "que ostentam seus esforços por um mundo verde, injetam bilhões para apoiar responsáveis pela destruição das florestas".

Por isso, os ambientalistas fazem um apelo para que sejam colocados em prática "sistemas transparentes e robustos de traçabilidade (...) para engajar uma profunda transformação de seus canais de fornecimento".

A Amazônia pode se tornar uma savana

O texto cita especialistas e alerta para o processo irreversível de "savanização" da Amazônia. Segundo o documento, o limite de desmatamento da floresta está em 20% no Brasil, a partir do qual os danos podem ser permanentes.

"Se nenhuma ação radical for realizada agora, a Amazônia iniciará um ciclo de desertificação e chegará a um ponto do qual não será possível retornar, com a destruição irreversível de um ecossistema essencial à sobrevivência da humanidade", afirma.

Por isso, para os ambientalistas, o governo francês não deveria se contentar em se expressar contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia e os países do Mercosul.

"Ele deveria garantir que esse tratado, que representa uma séria de ameaças para as florestas sul-americanas, seja enterrado. Se ele não for adotado, além de valorizar as produções francesas e europeias, diminuiria as exportações sul-americanas de gado, principal motor do desmatamento na América do Sul."

O manifesto também não poupa críticas ao Brasil. "Jair Bolsonaro e seu governo não escondem que sua ambição pela Amazônia não é protegê-la, mas explorá-la. O presidente brasileiro recentemente, em uma mentira vergonhosa, negou a realidade dos incêndios, enquanto seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, explicou, em um vídeo publicado em maio, que ele esperava aproveitar a oportunidade em que a imprensa estava focada no coronavírus para relaxar as regras de proteção da Amazônia", ressalta.