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As mulheres são melhores tomadoras de decisão?

Therese Huston

Em Seattle (EUA)

22/10/2014 06h00

Recentemente, Kirsten Gillibrand, senadora de Nova York, disse que se quiséssemos consertar o impasse no Congresso, nós precisaríamos de mais mulheres. As mulheres são mais focadas em encontrar um meio-termo e colaborar, ela argumentou.

Mas há outro motivo para nos beneficiarmos com mais mulheres em posições de poder, e não é por agirem de modo agradável.

Neurocientistas descobriram evidência sugerindo que, quando pressionadas, as mulheres oferecem pontos fortes singulares na tomada de decisões.

Sob pressão, decisões sobre risco são diferentes

Mara Mather, uma neurocientista cognitiva da Universidade do Sul da Califórnia, e Nichole R. Lighthall, uma neurocientista cognitiva atualmente na Universidade Duke, são duas dentre os muitos pesquisadores que descobriram que, sob circunstâncias normais, quando tudo está tranquilo e administrável, homens e mulheres tomam decisões sobre risco de formas semelhantes.

Nós obtemos informações da melhor forma que podemos. Nós comparamos os custos potenciais com os ganhos potenciais e, então, decidimos como agir.

Porém, adicionando estresse à situação --reproduzido em laboratório ao fazer os participantes submergirem suas mãos em uma água dolorosamente fria, a 1,6ºC--, homens e mulheres começam a divergir.

Mather e sua equipe ensinaram às pessoas um jogo simples de computador, no qual ganhavam pontos por encher balões digitais. Quanto mais enchiam cada balão, maior seu valor e o risco de estourá-lo.

Quando estavam relaxados, homens e mulheres assumiam riscos semelhantes e conseguiam uma média semelhante de enchimentos de balão.

Porém, após serem submetidos à água fria, as mulheres estressadas paravam mais cedo, sacando seus ganhos e optando por um resultado mais garantido.

Os homens estressados faziam o oposto. Eles continuavam enchendo os balões --em média 50% a mais que as mulheres--, correndo maior risco. Neste experimento, os homens que correram risco ganharam mais pontos. Mas esse nem sempre é o caso.

Homens correm mais riscos quando estão estressados

Em outro experimento, os pesquisadores pediram aos participantes para tirarem cartas de múltiplos montes, alguns mais seguros, fornecendo pequenas recompensas frequentes, e outros arriscados, com recompensas maiores, porém com menor frequência.

Os pesquisadores descobriram que homens mais estressados retiravam 21% mais cartas dos montes arriscados do que dos montes seguros, em comparação com a maioria das mulheres estressadas, perdendo mais no geral.

Por toda uma variedade de jogos, os resultados foram semelhantes. Os homens corriam mais riscos quando estavam estressados. Eles se tornavam mais focados em grandes ganhos, mesmo quando eram mais caros e menos prováveis.

Níveis de hormônio cortisol influenciam

Os níveis do hormônio do estresse, o cortisol, parecem ser um fator importante, segundo Ruud van den Bos, um neurobiólogo da Universidade Radboud, na Holanda.

Ele e seus colegas descobriram que a tendência de correr riscos maiores sob pressão é mais forte nos homens que experimentam um pico maior de cortisol.

Mas nas mulheres, ele descobriu que um ligeiro aumento no cortisol na verdade parece melhorar o desempenho na tomada de decisão.

Consciência de decisão tomada sob estresse?

Todos nós estamos cientes quando nossa tomada de decisão se torna tendenciosa sob estresse? Infelizmente não.

Em um estudo de 2007, Stephanie D. Preston, uma neurocientista cognitiva da Universidade de Michigan, e seus colegas disseram para pessoas que, após 20 minutos, elas fariam um discurso e seriam julgadas de acordo com sua habilidade de falar. Mas primeiro, elas participariam de um jogo de aposta.

Ansiosos, tanto homens quanto mulheres tiveram inicialmente dificuldade em tomar boas decisões no jogo.

Quanto mais próximas as mulheres chegavam do evento estressante, melhores se tornavam suas decisões. As mulheres estressadas tendiam a tomar decisões mais vantajosas, buscando por sucessos menores, mas mais garantidos.

O mesmo não ocorria com os homens estressados. Quanto mais próximo a contagem se aproximava do zero, mais questionáveis se tornavam as decisões dos homens, arriscando mais por uma chance mínima de um grande acerto.

Os homens também eram menos cientes de que sua estratégia era mais arriscada. Nos últimos poucos minutos do jogo, Preston interrompia cada pessoa imediatamente após ele ou ela perderem muito dinheiro. Ela pedia a cada pessoa que avaliasse quão arriscadas foram cada uma de suas decisões, incluindo a mal-sucedida que tinham acabado de tomar.

As mulheres apresentavam uma maior probabilidade de avaliar sua estratégia perdedora como sendo ruim.

Empatia X egocentrismo

Em um estudo interessante, uma equipe liderada por Livia Tomova e Claus Lamm, da Universidade de Viena, descobriu por meio de três experimentos que, sob condições estressantes, as mulheres se tornam mais afinadas com outros.

Em uma, as pessoas estendiam a mão por trás de uma cortina e tocavam algo agradável, como uma pena ou uma bola de algodão, ou algo desagradável, como um cogumelo viscoso ou uma lesma de plástico. Cada pessoa podia ver uma foto do que ele ou ela estava tocando, e o que outra pessoa estava tocando a poucos metros de distância, e tinham que avaliar quão agradáveis foram suas respectivas experiências.

Geralmente, as pessoas mesclavam a experiência de outra pessoa com a sua --se estou tocando em algo agradável, então eu avalio sua experiência de tocar na lesma como sendo mais agradável do que normalmente avaliaria.

Quando as mulheres estavam estressadas, entretanto, por terem que fazer um discurso público, elas na verdade apresentavam mais facilidade que o normal para terem empatia e assumir o ponto de vista do outro. O oposto ocorria com os homens estressados: eles se tornavam mais egocêntricos. Se estou tocando em pedaço de seda, aquela língua de vaca que você está tocando não deve ser tão ruim.

Funciona também na vida real?

É claro, só porque funciona dessa forma em um laboratório não significa que o mesmo aconteça no mundo real complicado. Organizações com mulheres no comando na verdade tomam decisões menos arriscadas e decisões com maior empatia sob circunstâncias estressantes?

Algumas evidências sugerem que sim. O Credit Suisse examinou quase 2.400 empresas globais de 2005 a 2011 --incluindo os anos que antecederam e os que se seguiram à crise financeira-- e descobriram que grandes empresas com pelo menos uma mulher em suas diretorias apresentaram desempenho 26% melhor em comparação a empresas com conselhos diretores totalmente masculinos.

Mulheres só no momento difícil

Infelizmente, o que acontece com frequência é que é pedido às mulheres para liderar apenas durante períodos de estresse intenso. Isso se chama "penhasco de vidro", um fenômeno primeiro observado pelos professores da Universidade de Exeter, Michelle K. Ryan e Alex Haslam, que atualmente está na Universidade de Queensland, no qual mulheres altamente qualificadas só são chamadas para liderar organizações em momentos de crise.

Pense em Mary T. Barra, na General Motors, ou Marissa Mayer, no Yahoo, que só foram trazidas depois que as coisas começaram a ruir. Se mais mulheres fossem importantes tomadoras de decisão, talvez as organizações pudessem responder de modo mais eficaz aos estresses menores, em vez de permitirem uma escalada para estresses maiores.

Nós não podemos tornar os grandes cargos no governo ou nas empresas menos estressantes. Mas podemos assegurar que quando a pressão aumente, haja um melhor equilíbrio entre correr grandes riscos e conseguir progresso real.