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Safras de soja e de milho em São Paulo poderão recuar até 30%

20/02/2014 16h31

O clima no Centro-Sul do país, desde o fim do ano passado, tem sido caracterizado pela escassez de chuvas, baixa umidade relativa do ar e alta incidência de luminosidade, o que afeta a agropecuária paulista. Pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta) da Secretaria de Agricultura do Estado fizeram uma avaliação sobre os possíveis danos para as principais culturas cultivadas no Estado.

Em janeiro, o volume de chuvas em território paulista ficou bem abaixo de 200 a 250 milímetros historicamente registrados. Na lavoura de cana-de- açúcar, principal cultivo paulista, a seca prolongada poderá afetar a produção, pois o período de calor sem chuvas é inapropriado ao desenvolvimento da planta. Associada às altas temperaturas, a cana poderá não atingir seu potencial, resultando na queda da produção.

Na citricultura, estimava-se que a produção de laranja em São Paulo na temporada 2014/15 poderia crescer até 20%. Todavia, o potencial de expansão da safra, diante da escassez de chuva, poderá ser reduzido consideravelmente.

Para a cafeicultura, quinto item no valor da produção paulista, o levantamento da safra 2014/15, divulgado em dezembro de 2013, previa colheita de 4,441 milhões de sacas, representando avanço de 10,76% frente à safra anterior. Mas a irregularidade das precipitações, associada à baixa umidade relativa do ar e às elevadas temperaturas registradas nos principais cinturões de cultivo do produto, indicam uma diminuição no volume colhido de 10% a 20% nas lavouras mais antigas e de 15% a 20% nas de primeira safra e segunda safras.

Nas áreas de cerrados, os frutos da parte superior da planta (ponteiro) já entraram em processo de maturação. Como os talhões ainda não foram preparados para a colheita, esses frutos provavelmente virão ao chão e se perderão quando se iniciar a colheita, a partir de maio. Se confirmada essa ocorrência, o potencial de perda saltará para a parte superior do limite estabelecido, de 20%.

Para as culturas da soja e do milho, foram adotados três cenários para estimativas de perdas. No primeiro, o mais otimista, projeta-se que a produção de milho poderia ser reduzida em 8%, e a de soja, em 10%. As estimativas de novembro de 2013 apontavam a produção de soja em 2,13 milhões de toneladas, e a de milho em 3,2 milhões de toneladas.

No segundo cenário, estima-se redução de 20% nas safras de milho e soja. E no terceiro, o mais pessimista, prevê quebra de 30% para as duas culturas, de acordo com as pesquisas do IEA.

Nas lavouras de amendoim, a seca pode comprometer a formação das vagens, o desenvolvimento dos grãos e a ocorrência de fissuras na casca que favorecem a contaminação do grão por fungos que causam a aflatoxina. Nessas condições, fica evidenciada a possibilidade de redução da produtividade e do comprometimento da qualidade do grão, resultando na retração da oferta e queda dos preços devido à baixa qualidade.

Na principal região produtora de mandioca industrial, o Médio Vale do Paranapanema, a estiagem que se prolonga por mais de dois meses dificultou sua retirada do solo, exigindo maior dependência de máquinas nessa operação, conforme o IEA. Porém, praticamente não há mais mandioca da safra velha em campo. Quanto à mandioca nova (com até um ano de plantio), ela deverá ser arrancada a partir de março, quando começa a melhorar seu rendimento industrial (aumento da concentração de amido).

No caso das hortaliças, são as culturas que mais precisam de irrigação. No entorno da capital (200 quilômetros), está a maior parte da produção de folhosas e legumes. Nas regiões das encostas das serras do Mar e da Mantiqueira já está previsto o racionamento de água nas cidades. Os municípios do Alto Tietê e os da Serra do Paranapiacaba (Ibiúna, Piedade até Capão Bonito), em razão do racionamento implementado, já não possuem água suficiente para irrigação.

Devido aos altos preços praticados para o tomate de mesa ao início de 2013, houve forte aumento da área cultivada. Todavia, com o excessivo calor a maturação dos frutos foi acelerada, havendo perdas no campo e preços baixíssimos, devido à perda de qualidade. Entre fevereiro e março se realiza a semeadura do tomate para indústria. Portanto, esse cultivo não foi ainda afetado pela estiagem.

Do mesmo modo, a semeadura da batata colhida na seca iniciou-se em janeiro e deverá se encerrar em fevereiro. Com a estiagem, esse calendário deverá ser atrasado.

Alguns produtores de leite também já apontam problemas na produção, pois muitos pastos estão secos. Os meses do verão constituem o período do ano em que a pecuária leiteira deveria ter à disposição pastagens de boa qualidade, graças ao volume de precipitações, característico da época.

Essa condição garantiria a produção de volumosos necessários para resultar em maior produção de leite. Todavia, sob efeito da estiagem, os pastos encontram-se muito fibrosos, tendo seu valor nutricional comprometido e insuficiente na alimentação do animal. Isso afeta a produtividade do leite, principalmente se a alimentação não for suplementada, diz a pesquisa do IEA.