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IPCA-15 provoca ajuste moderado nos juros; Bovespa reage a balanços

21/02/2014 13h51

O IPCA-15 foi o principal dado desta sexta-feira no mercado local, e embora o resultado tenha vindo ligeiramente acima do esperado, não teve força para mudar as apostas de alta de 0,25 ponto da Selic na próxima semana.

No câmbio, o real novamente se destaca em alta entre as demais moedas de risco em relação ao dólar, por conta do fluxo de entrada de recursos e desmonte de posições compradas. Na Bovespa, apesar do clima positivo, o sentimento ainda é de cautela, com os investidores de olho na safra de balanços.

No mercado internacional, o dia é de relativa tranquilidade, com poucos indicadores de peso para influenciar os mercados.

Juros

O resultado do IPCA-15 de fevereiro até provocou um ajuste modesto no mercado de juros, que vem há dias operando em queda firme. Mas, na visão de especialistas, o dado não altera a perspectiva de redução do ritmo de aperto monetário e, portanto, não deve impedir a tendência de recuo das taxas nos próximos dias.

O avanço de 0,70% veio acima da média das projeções do mercado (0,67%). Chamou a atenção dos analistas a alta da inflação de serviços, de 0,50% para 1,27%.

De todo modo, os números não devem ser suficientes para tirar o Banco Central (BC) do seu plano de voo, segundo especialistas, de começar a preparar o fim do atual ciclo de aperto monetário.

Para especialistas, tanto os sinais já emitidos pelo BC recentemente como a reação ao pacote fiscal de ontem e o alívio do câmbio podem, sim, justificar uma dose menor de alta de Selic, de 0,25 ponto.

No último Copom, o dólar valia R$ 2,40 e, agora, caminha para R$ 2,35. Todos os sinais apontam no sentido de alívio da cotação, e não o contrário. Além disso, na decisão passada, não havia a confirmação sobre a neutralidade da política fiscal - o que parece ter sido a leitura dos analistas a partir dos anúncios feitos ontem pelo governo.

"Se o Banco Central tiver gostado das medidas, será um grande incentivo para mudar o passo para 0,25 ponto, e o IPCA-15 de hoje passa a ser secundário", afirma um analista.

"O conjunto da obra que se formou desde a última reunião do Copom autoriza o plano de voo que o Banco Central traçou para a política monetária, que é de redução do ritmo", diz o economista-chefe da MCM Consultores, Fernando Genta. Como parte desse ambiente, ele cita a piora do desempenho da atividade econômica, que está gerando uma forte onda de revisão de projeções do PIB, inclusive pelo próprio governo, que rebaixou para 2,5% sua expectativa de expansão para este ano. Além disso, o arrefecimento do estresse com emergentes, que interrompeu o processo de "voo para qualidade" e teve efeitos diretos tanto sobre os juros dos Treasuries como sobre o câmbio, corrobora a expectativa de alta menor da Selic.

O BC tem um plano de voo que está claro e o IPCA-15 não é capaz de colocar uma ?pulga atrás da orelha' do Banco Central", afirma.

Na BM&F, às 13h40, o DI janeiro 2015 tinha taxa de 11,07% (11,04% ontem). O DI janeiro 2017 marcava 12,22%.

Câmbio

Após um início de sessão mais hesitante, as ordens de venda voltaram a prevalecer no mercado de câmbio brasileiro nesta sexta-feira, levando novamente o real a se destacar positivamente entre as divisas de risco.

De modo geral, os negócios refletem os mesmos fatores dos últimos dias: fluxo positivo, desmonte de posições compradas em dólar ainda pelo alívio com relação às perspectivas para a política fiscal, um dia após o mercado te r enxergado mais comprometimento da parte do governo com as contas públicas para evitar o rebaixamento da nota de crédito soberano.

Às 13h40, o dólar comercial recuava 0,63%, para R$ 2,3580. O contrato de março declinava 0,61%, ficando R$ 2,3620.

Em três dias seguidos de baixa, o dólar já acumula queda de 1,59%. No mesmo período, a moeda sobe 0,75% frente ao rand sul-africano, opera perto da estabilidade contra a lira turca e avança 0,16% ante o peso mexicano.

Boa parte dessa queda do dólar decorreu especialmente de um desmonte de posições compradas por parte de estrangeiros e fundos de investimentos, que refletem apostas na continuação da alta da moeda americana.

Segundo operadores, essa posição já vem "pesando" há tempos, devido ao elevado custo de carregamento, e precisava apenas de um gatilho para ser reduzida. "Esse gatilho veio ontem com o anúncio da meta fiscal, que foi bem recebida pelo mercado", diz um operador de câmbio de uma corretora.

Para se ter uma ideia, apenas ontem, estrangeiros e fundos locais venderam o equivalente a US$ 1,4875 bilhão em contratos de dólar futuro e cupom cambial (DDI), ditando a queda de 0,71% do dólar comercial.

"O mercado viu ontem um governo mais preocupado com a questão fiscal. Mas agora o desafio é vermos a execução do corte de gastos. É disso que vai depender a continuidade do ganho de credibilidade", diz o especialista em câ mbio da Icap Corretora, Italo Abucater, chamando atenção para o fato de, a R$ 2,35, o dólar estar num bom ponto de compra.

Segundo ele, a "tentação" do governo de eventualmente reduzir o ritmo de aperto monetário será um elemento que pode pesar contra o real. "Se o BC der [uma alta de] 0,25 ponto [percentual] no juro, isso vai ter efeito de alta no dólar", afirma.

Por outro lado, os comentários do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre os benefícios de uma estabilidade da taxa de câmbio para o aumento do investimento reforçam a tese de que o governo não permitirá uma nova onda de desvalorização do real e um aumento da volatilidade, o que esfria a percepção de que o dólar deve, por exemplo, alcançar R$ 2,50 no curtíssimo prazo. O ministro afirmou ainda que a alta taxa de juros é um componente que tende a atrair capital ao país.

E é exatamente o aumento do juro que tem sido citado por muitos analistas como um dos fatores para a melhora no fluxo cambial desde o início do ano. Só neste mês, por exemplo, o saldo cambial é positivo em US$ 1,008 bi lhão até dia 19. Apenas em três dias - entre segunda e quarta-feira desta semana -, houve entrada de US$ 691 milhões, sendo US$ 410 milhões só pela conta financeira, por onde ingressos investimentos para renda fixa, que se tornam mais atrativos com a elevação da Selic.

Mantendo o cronograma de intervenções, o Banco Central fez a rolagem de mais 10,5 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão nesta sexta-feira, movimentando o equivalente a US$ 516,8 milhões. A colocação ficou restrita ao vencimento 2 de janeiro de 2015, e a liquidação da venda está marcada para o próximo dia 5. Com isso, o BC elevou a US$ 6,3484 bilhões o montante cuja rolagem já foi concluída, referente ao lote de US$ 7,378 bilhões a vencer em 5 de março.

Além disso, o BC vendeu novamente todos os 4 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão nesta sexta-feira, movimentando o equivalente a US$ 197,5 milhões.

Bolsa

A bolsa brasileira marca seu terceiro pregão seguido de alta nesta sexta-feira, mas ainda não conseguiu apagar as perdas expressivas do início desta semana. Apesar do clima positivo, o sentimento ainda é de cautela, com o s investidores de olho na safra de balanços, que ganhará forças na semana que vem com os resultados de Vale e Petrobras.

"Os investidores não estão assumindo grandes posições. A preferência ainda é pela cautela, de olho nos balanços e à espera de uma definição para o setor de energia", comenta o especialista em bolsa da Icap Brasil, Rogério Oliv eira.

Às 13h43, o Ibovespa subia 0,10%, para 47.338 pontos. Vale PNA recuava 0,29% e Petrobras PN tinha estabilidade.

Internacional

Nesta sexta-feira de baixo fluxo de indicadores macroeconômicos, os mercados internacionais parecem operar numa espécie de inércia dos movimentos que ditaram o ritmo da semana. E o tom geral é positivo, com bolsas, juros dos Treasuries e moedas mais arriscadas em alta, ainda que não muito acentuada.

Contribui para esse cenário ameno o anúncio de um acordo político na Ucrânia entre o presidente, Viktor Yanukovych, e líderes da oposição, após longas negociações que envolveram representantes de diversas potências globais. O pacto prevê a redução dos poderes presidenciais, a formação de um novo governo de coalizão e a convocação de eleições antecipadas. O presidente do França, François Hollande, pediu a implementação integral do acordo.

Enquanto isso, os bancos do país estão limitando o volume de saque em caixas eletrônicos, numa aparente tentativa de conter a depreciação da moeda local, que já caiu para mínimas históricas.

Da agenda de indicadores macroeconômicos, o único destaque nos Estados Unidos foi a queda de 5,1% das vendas de imóveis residenciais usados em janeiro, para a taxa anualizada ajustada sazonalmente de 4,62 milhões de unidades. O resultado ficou levemente abaixo da previsão de analistas, de 4,70 milhões de unidades, e mexeu pouco com os ativos.

Às 13h43, o Dow Jones avançava 0,27%, o Nasdaq subia 0,34% e o S&P 500 tinha elevação de 0,28%.