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Não há reparos a fazer na política de ajustes, diz Tombini

23/02/2014 10h55

O Brasil não tem reparos a fazer na sua política de ajuste para resolver problemas internos ou para melhorar a capacidade de enfrentar a menor liquidez internacional, afirmou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, neste domingo em Sydney ao final da reunião das principais autoridades financeiras do planeta.

Tombini destacou que o Brasil vem adotando "políticas bastante clássicas" no enfrentamento da situação atual de transição para a normalização das políticas monetárias nos países desenvolvidos, que tem causado abalos nos fluxos de capitais e turbulências nos mercados emergentes.

"Ajuste da política, aperto da política monetária por razões internas. Estamos apertando. Agora foi anunciado o corte do orçamento, ou seja, aperto de política. E flexibilidade no câmbio. E países que têm condições, como o Brasil, usam o colchão acumulado nos tempos bons, ou seja, as reservas internacionais de forma a oferecer proteção contra as variações cambiais e que ela seja absorvida com tranquilidade no país", afirmou a autoridade monetária.

Tombini procurou mostrar no G-20 para seus parceiros emergentes que a desvalorização da moeda é parte da solução e não do problema, no rastro da retirada a dos estímulos monetários ("tapering") nos EUA.

"Se temos déficit em conta corrente e o real desvalorizou ao longo dos últimos meses, essa desvalorização faz com que nossos produtos fiquem mais baratos no exterior e as importações um pouco mais caras. Isso ajuda no ajuste da conta corrente, milita no sentido de diminuir os desbalanços e não aumentar", afirmou.

Numa contestação indireta a avaliação do Federal Reserve, que colocou o Brasil como um dos "cinco frágeis", Tombini foi enfático: "Desvalorização não significa vulnerabilidade, significa mudança de preços relativos, refletindo uma condição financeira global de menor liquidez, de menos fluxos para os mercados emergentes".

O presidente do BC disse que a posição brasileira foi "uma tese vencedora" no G-20. A delegação brasileira estima que tirou da mesa uma engrenagem que estava tomando corpo, de que a normalização das políticas monetárias nos desenvolvidos geraria uma potencial crise nos emergentes, porque não poderiam se financiar.

Para Tombini, o fato é que o "tapering", ou redução da injeção de dinheiro na economia americana, reflete o crescimento da maior economia do planeta, com PIB de US$ 16 trilhões, e isso deve resultar em mais comércio internacional e será benéfico também para os emergentes.

Só que esse processo de retirada dos estímulos monetários têm volatilidade. Daí porque o Brasil e outros emergentes defenderam no G-20 que isso seja conduzido de forma gradual, bem comunicado e com flexibilidade. Ou seja, se as condições econômicas não evoluírem de forma como as autoridades estão prevendo, que elas tenham flexibilidade para ajustar sua política.

O presidente do BC julga que as autoridades monetárias dos países desenvolvidos entenderam essa posição, e não pela razão de cooperação internacional, e sim pelo fato de os emergentes representarem hoje mais de 40% da atividade global. "Se há alguma volatilidade nos emergentes, isso tem impacto nas economias avançadas, e isso é levado em consideração", afirmou.

Na reunião do G-20, um dos anúncios foi o compromisso das maiores economias do mundo com uma meta de crescimento global adicional de 2% nos próximos cinco anos, o que levará também o Brasil a adotar novas medidas para crescer mais.

Tombini destaca nesse contexto, primeiro, a parte conjuntural. Os países constatam a existência de muito desemprego e baixa utilização da capacidade em algumas economias. E a estratégia é manter o caráter acomodatício das políticas no mundo para preencher esse hiato do produto.

A outra dimensão é mais estrutural, sobre o que cada país tem de fazer para elevar o produto potencial da economia mundial. "Cada país vai ter o seu conjunto de reformas", disse. No caso do Brasil, relatório do FMI aponta para infra estrutura, para diminuir os gargalos pelo lado da oferta. Ou seja, cada país deve continuar a fazer o seu dever de casa.

A terceira questão é o rebalanceamento do crescimento global, com países superavitários devendo estimular reformas também.

Indagado se o ajuste fiscal anunciado pelo governo na semana passada era suficiente, o presidente do BC saiu pela tangente, argumentando que não falaria sobre macroeconomia brasileira em razão da proximidade com a reunião do Copom esta semana.

Tombini negou confronto entre emergentes e desenvolvidos, na reunião do G-20, sobre o "tapering".