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Parlamento ucraniano nomeia presidente interino

23/02/2014 13h05

O Parlamento da Ucrânia designou neste domingo como presidente interino do país Oleksander Turchynov, chefe da Rada Suprema. Braço direito da ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko - que foi libertada ontem depois de passar 30 meses na prisão - ele fica no cargo até as eleições marcadas para 25 de maio.

A nomeação de Turchynov, aprovada por 285 dos 339 deputados presentes ao plenário, ocorre um dia depois que o presidente Viktor Yanukovich foi destituído por abandono de suas funções.

Turchynov tem até a terça-feira para formar um governo de unidade nacional, que será responsável por organizar as eleições e por tentar cicatrizar as feridas abertas pela crise política que, desde novembro, deixou pelo menos 80 mortos e aprofundou ainda mais a divisão do país, que passa por uma grave situação financeira.

O centro de Kiev, que durante a semana praticamente virou uma praça de guerra, parecia recuperar o ar de normalidade, apesar da presença das forças de segurança e das barricadas dos manifestantes.

Em Maidan (praça da Independência) a sensação era de alívio e cautela. Um grupo cantava o hino nacional e alguns gritavam "Glória à Ucrânia". Nas proximidades, as lojas, que permaneceram fechadas nos últimos dias, começaram a abrir as portas.

Ao mesmo tempo foram registrados saques na sede do Partido Comunista, aliado do partido de Yanukovich no Parlamento, e a fachada do prédio foi pintada com palavras como "criminosos", "assassinos", "escravos de Yanukovich".

Desde o começo da semana quase 40 estátuas de Lênin foram derrubadas ou destruídas, principalmente na região leste do país.

Na luxuosa residência do presidente deposto foram encontrados documentos que detalham um sistema de subornos organizado e uma lista de jornalistas que deveriam ser vigiados.

A casa, que será restituída ao Estado por decisão do Parlamento, permaneceu aberta durante a noite para que os cidadãos pudessem constatar o luxo e a suntuosidade do lugar, considerado o símbolo da corrupção do regime.

Apesar da crise do país estar na agenda da reunião deste domingo de ministros das Finanças do G-20, em Sydney, o comunicado final não fez qualquer menção ao país.

Jack Lew, secretário do Tesouro americano, no entanto, afirmou que os Estados Unidos e outros países estão dispostos a ajudar a Ucrânia "em seus esforços de voltar à democracia, estabilidade e crescimento".

A comunidade internacional teme que a crise tenha aprofundado a divisão entre o leste, de língua russa e pró-Moscou, majoritário, e o oeste nacionalista de língua ucraniana.

Em Kharkiv, cidade do leste do país, as autoridades locais questionaram a legitimidade do Parlamento ucraniano. A região terá manifestações pró-Rússia.

O panorama político da Ucrânia mudou radicalmente em 24 horas com a liberação da ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko, que estava detida desde 2011. Ela é uma candidata de peso para a eleição presidencial antecipada agendada para 25 de maio.

Ao sair da prisão a musa da Revolução Laranja de 2004 seguiu para Maidan e pediu aos "heróis" da Ucrânia que prossigam com o combate. O Parlamento votou ontem por sua libertação imediata. Pouco depois, os deputados votaram o que apresentaram como vazio de poder para justificar a destituição de fato do chefe Estado e convocar eleições presidenciais antecipadas.

Em discurso exibido pela TV ontem, Yanukovich afirmou ser vítima de um golpe de Estado e que foi eleito de modo legítimo, em um discurso divulgado no sábado.

Segundo Turchynov, Yanukovich, que tem paradeiro desconhecido, tentou fugir para a Rússia, mas a guarda de fronteira o impediu. Os agentes afirmaram que ele ofereceu suborno para tentar obter a permissão de voo. "Yanukovich foi nocauteado", disse um dos líderes da oposição, o campeão mundial de boxe Vitali Klitschko, que pode ter um papel político importante nos próximos meses.