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Vale pressiona Ibovespa e dólar tem forte queda ante real

24/02/2014 13h55

Os mercados de ações internacionais são o destaque nos negócios desta segunda-feira, com o índice S&P 500 da Bolsa de Nova York batendo novo recorde histórico, em meio a uma série de notícias positivas em âmbito corporativo nos EUA.

Os mercados no Brasil, no entanto, destoam dos negócios no exterior - em todos os sentidos. O Ibovespa não consegue acompanhar a alta de seus pares e operava no campo negativo, pressionado pela queda nas ações da Vale, dois dias antes da divulgação do balanço da empresa referente ao quarto trimestre de 2013. O dólar tinha forte queda de quase 1% e bate mínimas não vistas desde 20 de janeiro. E os juros futuros oscilavam em baixa moderada, em ajustes antes da decisão de política monetária na quarta-feira.

Câmbio

As vendas de dólares voltam a dominar o mercado de câmbio brasileiro nesta segunda-feira, depois de um início de sessão mais hesitante. Perto de 13h50, o dólar comercial caía 0,84%, para R$ 2,3330. O dólar para março recuava 0,59%, para R$ 2,3360, depois de marcar uma mínima de R$ 2,3335.

Em quatro dias, o dólar acumula um tombo de 2,75%, num movimento que claramente destoa do comportamento em relação a divisas como o dólar australiano, o rand sul-africano, a lira turca e o peso mexicano, que operam entre queda e estabilidade no período.

Segundo profissionais, o mercado ainda reflete um desmonte de posições compradas em dólar que ocorre desde a semana passada, boa parte ditada pela recepção positiva ao anúncio das metas fiscais.

A venda de swaps cambiais pelo Banco Central (BC), que funciona como uma injeção de liquidez no mercado futuro, serviu para reforçar o movimento de vendas de dólares.

O BC fez a rolagem de mais 10.500 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão nesta segunda-feira, movimentando o equivalente a US$ 517,1 milhões. Com isso, o BC elevou a US$ 6,8655 bilhões o montante em swaps cujo vencimento já foi postergado para além de março, podendo completar a rolagem do lote total (US$ 7,378 bilhões) na operação de amanhã. Mais cedo, a autoridade monetária havia colocado cerca de US$ 200 milhões em leilão dentro do programa de oferta diária de hedge (proteção) cambial.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que o anúncio das metas fiscais foi o grande gatilho para esse alívio no dólar, mas ressalva que esse desmonte de apostas contra o real pode ser interrompido caso o BC opte por reduzir o passo do aperto monetário, elevando a Selic em 0,25 ponto percentual e não 0,50 ponto como boa parte do mercado ainda espera. "Se isso acontecer, é dólar para cima", diz.

Juros

Na semana do Copom, o mercado de juros segue ajustando suas posições, mas sem abandonar a aposta majoritária em uma alta de 0,25 ponto percentual da Selic. O comportamento do dólar, que recua sob efeito de um fluxo de recursos externos, e o ambiente externo, cheio de dúvidas sobre o desempenho da economia americana, corroboram essa expectativa.

Operadores dizem que a evolução da inflação é, de fato, um ponto ainda de atenção, a despeito do alívio observado no início do ano.

A deterioração das expectativas para a atividade neste ano, confirmada pela pesquisa Focus hoje, tem importante peso nas definições das apostas para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A mediana das projeções para o cerescimento PIB em 2014 saiu de 1,79% para 1,67% e, para 2015, de 2,10% para 2%. Já há agentes projetando um resultado muito pior para este ano, abaixo de 1%. "Há riscos efetivos de o país entrar em recessão técnica e, por isso, o aperto monetário deve acabar em breve", diz um operador.

Para a inflação, entretanto, a estimativa é de um avanço de 6% no IPCA, em vez de 5,93%, enquanto a projeção para o próximo ano seguiu em 5,70%.

Além de dar algum alento do ponto de vista de inflação, o recuo da cotação do dólar pode ser entendido como um sinal de melhora do humor dos investidores em relação ao Brasil - o que afasta, de vez, os riscos de um prolongamento do atual ciclo. E isso se deve, segundo especialistas, a fatores locais e externos. Aqui, o anúncio do contingenciamento fiscal e da meta de superávit, de 1,9% do PIB, não são suficientes para gerar euforia, mas não confirmaram os cenários mais pessimistas, de compromissos inviáveis ou insuficientes para manter a condição de neutralidade da política fiscal - receio que justificou uma postura bem mais cautelosa dos investidores recentemente.

Além disso, no front externo, o investidor vê os Estados Unidos crescendo em ritmo mais lento do que o antecipado, ao mesmo tempo em que um avanço mais brando da economia chinesa parece já estar totalmente "no preço". "É um quadro que dá alguma folga ao Banco Central", diz um operador.

Na BM&F, o DI janeiro/2017 tinha taxa de 12,13%, de 12,22% na sexta-feira. O DI janeiro/2015 operava a 11,04% (11,06% na sexta-feira).

Bolsa

A bolsa brasileira ignora os recordes de Wall Street e segue ladeira abaixo nesta segunda-feira, ameaçando inclusive perder a linha dos 47 mil pontos. Embora o noticiário corporativo esteja carregado de novidades nesta segunda-feira - a confirmação da fusão entre ALL e a Rumo, empresa de logística da Cosan, a revisão de projeções de demanda da Gol e ainda o balanço do Magazine Luiza - faltam eventos capazes de mudar a direção do mercado e trazer fluxo de capitais para a Bovespa.

No exterior, o mercado preferiu ignorar a desaceleração nos preços de novas residências na China em janeiro observada pela primeira vez em um ano e reage com força ao aumento do índice Ifo de ambiente para os negócios da Alemanha. Além disso, há o comportamento dos preços ao consumidor na zona do euro. Em Wall Street, o índice S&P 500 cravou novo recorde de pontuação.

Vale lembrar que a semana está apenas começando e reserva ainda uma enxurrada de balanços relevantes - Vale, Petrobras, Ambev, Vivo, Gol, Embraer, Cosan, ALL, entre outros - e eventos de peso, como a reunião do Copom e a divulgação dos PIBs de Brasil, EUA e Reino Unido.

Ao redor de 13h50, o Ibovespa recuava 0,13%, aos 47.318 pontos. Vale PNA cedia 2,38% e Petrobras PN tinha alta de 0,64%.

"Hoje é um dia de observação. Estamos aqui olhando para nós mesmos e nos perguntando o que está errado", resume o analista técnico da Clear Corretora, Raphael Figueredo, sobre a falta de animação nos negócios no mercado local. "Você tem algumas notícias corporativas, que colaboram para que haja volatilidade em alguns papéis, mas falta uma notícia capaz de movimentar o mercado com um todo e trazer fluxo."

No topo do Ibovespa, estavam ALL ON (12,58%) e Kroton ON (3,84%).

A ALL confirmou notícia antecipada pelo Valor, de que recebeu proposta da Rumo, braço logístico do grupo Cosan, para combinarem suas atividades. A operação prevê que a Rumo irá incorporar as ações da ALL. A proposta considera um valor de referência para a ALL de R$ 6,958 bilhões, equivalente a R$ 10,184 por ação, um prêmio de 56% em relação ao fechamento da ação na sexta-feira.

Para a Rumo, a proposta considera valor de R$ 4 bilhões, o que corresponde a um preço implícito de R$ 3,90 por ação. Os acionistas da ALL passarão a deter 63,5% da nova companhia, enquanto os acionistas da Rumo ficarão com 36,5%. Com a incorporação, a nova companhia será listada no Novo Mercado.

Já as ações da Kroton reagem à notícia também do Valor, de que a fusão entre Anhanguera e Kroton, anunciada em abril do ano passado, está sendo questionada por minoritários da Kroton e por analistas de bancos. "Acho que o valor da Anhanguera está muito alto, principalmente, devido ao desempenho da companhia no último ano", diz James Gulbrandsen, sócio da gestora americana NCH que tem participação na Kroton.

Há outros minoritários da Kroton insatisfeitos com as condições acordadas no ano passado, segundo o Valor apurou. A fusão prevê uma troca de ações entre as duas companhias. A razão de troca acordada na época era que cada ação ordinária da Anhanguera valeria 1,36429 ação da Kroton. De lá para cá, os papéis da Kroton subiram 50,7% enquanto os da Anhanguera recuavam 6%.

Mercados internacionais

Notícias positivas vindas da Europa e a perspectiva de um pacote de ajuda financeira para a Ucrânia, agora que seu presidente foi afastado, garantem uma jornada de vigor para as bolsas globais. Minutos após a abertura de Wall Street, o S&P 500 atingiu novo recorde intradia.

Analistas apontam, no entanto, para a possibilidade de correção. Tudo vai depender da agenda agitada da semana. Entre indicadores previstos, estãoa confiança do consumidor, encomendas de bens duráveis, números do setor imobiliário e a revisão dos números trimestrais do desempenho do PIB dos EUA. Há ainda o depoimento da presidente do Federal Reserve (Fed), Janet Yellen, ao Senado americano na quinta-feira.

Além das questões de praxe sobre o ritmo da retirada dos estímulos monetários, os participantes apostam que haverá questionamentos sobre as transcrições das reuniões do BC americano em 2008, divulgadas na sexta-feira passada.

Ao redor de 13h50, o Dow Jones aumentava 1,12%, o S&P 500 avançava 1,13% e o Nasdaq tinha alta de 1,05%.

Na Europa, o FTSE 100, de Londres, registrava elevação de 0,41%, o CAC 40, de Paris, apresentava valorização de 0,87% e o DAX, de Frankfurt, marcava aumento de 0,54%.