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China e Ucrânia mantêm investidor na defensiva

10/03/2014 14h15

As preocupações com a saúde da economia chinesa e as recorrentes tensões com a Ucrânia servem de argumento para mais um dia de venda de ativos de risco nesta segunda-feira, que tira o S&P 500 de suas máximas recordes e leva o Ibovespa às mínimas desde julho de 2013.

A China registrou um déficit comercial de US$ 22,98 bilhões em fevereiro, contrariando previsões de um superávit de US$ 11,90 bilhões. As exportações desabaram 18,1% contra um ano antes, ante uma alta esperada de 5%. A desaceleração na inflação ao consumidor no mês passado, de 2,5% para 2%, bem abaixo da meta oficial de 3,5%, também não foi vista com bons olhos por sinalizar uma perda de fôlego na economia.

Câmbio

O dólar zerou as perdas frente ao real nesta segunda-feira, com investidores recompondo posições e realizando lucros. Ao redor de 14 horas, o dólar recuava 0,34%, para R$ 2,34. O contrato de abril cedia 0,08%, saindo a R$ 2,3540.

Um gestor da área de câmbio nota que mais cedo o mercado comentava sobre um volume de captação entre US$ 6 bilhões e US $ 8 bilhões. "O mercado viu os US$ 3 bilhões e achou melhor realizar lucro e voltar a comprar", diz.

As seis tranches da emissão da Petrobras, segundo informou uma fonte, têm volume de emissão de pelo menos US$ 500 milhões cada uma. Mas esse valor pode ser elevado no fechamento da captação, o que aumentaria o montante total emitido para acima de US$ 3 bilhões.

Segundo o mesmo profissional, o Banco Central (BC) provavelmente já tinha conhecimento da pretensão da Petrobras em emitir, o que pesou na decisão da autoridade monetária de não se comprometer em realizar ofertas de swaps que possibilitariam a rolagem integral dos US$ 10,148 bilhões em swaps com vencimento em 1º de abril. "E como muita gente ainda está comprada em dólar, o anúncio de cronograma de rolagens e da captação da Petrobras poderia provocar uma onda de ?stop loss' que provavelmente derrubaria o dólar abaixo dos R$ 2,30 logo."

O BC fez a rolagem de todos os 10 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão nesta segunda-feira, em operação que teve giro financeiro de US$ 492,2 milhões. A liquidação da operação está prevista para 1º de abril. Com a rolagem de hoje, resta o equivalente a US$ 9,656 bilhões em swaps.

Diferente dos últimos anúncios, no entanto, o BC não divulgou comunicado informando explicitamente sobre as rolagens e informou na sexta-feira apenas as condições da oferta desta segunda-feira. Nos últimos quatro anúncios de rolagens (referentes aos contratos vincendos em dezembro, janeiro, fevereiro e março), o BC havia divulgado comunicados contendo a expressão "dando início" ao se referir à postergação dos vencimentos, algo lido pelo mercado como uma intenção do BC de realizar operações que poderiam, de acordo com a demanda dos agentes, resultar na rolagem integral dos referidos lotes.

Tanto o operador de câmbio de um banco dealer quanto o tesoureiro de um banco nacional chamaram atenção para essa ausência de comunicado explícito e concluem que o BC pode estar menos inclinado a fazer a rolagem in tegral dos swaps do que em meses anteriores.

"A falta de um comunicado mais explícito como os anteriores é um claro sinal de que talvez o BC não queira rolar todo o lote", diz o operador. "Pelo visto, o dólar abaixo de R$ 2,30 não interessa mesmo ao governo", afirma o tesoureiro.

O gestor da área de câmbio citado anteriormente, no entanto, não descarta que o BC "apresse" o passo no decorrer do mês, aumentando as chances de uma rolagem integral do lote de abril. Ele calcula que, mantendo ofertas de US$ 500 milhões, o BC deixaria "morrer" no fim do mês o equivalente a cerca de US$ 3 bilhões em swaps, o que teria efeito de compra de dólar. "É um montante muito expressivo para se recomprar num cenário como o atual", diz, chamando atenção para o risco de uma nova alta do dólar pelos problemas domésticos e por sinais de desaceleração na China e fortalecimento da economia americana.

Mais cedo, o BC vendeu todos os quatro mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilã o hoje, em operação que funcionou como uma injeção de US$ 197,8 milhões no mercado futuro. A colocação ficou restrita ao vencimento 1º de dezembro, e a liquidação da venda está prevista para amanhã, terça-feira, dia 11. Com esse leilão, a posição vendida em dólar do BC via swaps juntos ao mercado atingiu a marca de US$ 84,403 bilhões.

Bolsa

O Ibovespa tem um começo de semana de perdas. O índice recuava 1,63%, para 45.488 pontos, ao redor de 14 horas. "Foi perdido um importante suporte, de 46.100 pontos. O destino do mercado agora é buscar as mínimas de 2013, entre 44.800 pontos e 43.500 pontos", disse o analista grafista da Clear Corretora Raphael Figueredo.

Não bastasse o mau humor do mercado com o andamento da economia brasileira, a China, importante direcionador de negócios para a Bovespa, não para de trazer notícias negativas. A China registrou um déficit comercial de US$ 22,98 bilhões em fevereiro, contrariando previsões de um superávit de US$ 11,90 bilhões. As exportações desabaram 18,1% ante um não antes, ante uma alta esperada de 5%.

Com isso, as ações de mineração seguem sofrendo. Seu peso, forte no índice, elimina qualquer chance de recuperação do Ibovespa. Usiminas PNA cedia 5,17%. Também tinham perdas CSN (-4,59%), Bradespar (-3,68%) e Vale PNA (-3,25%).

Petrobras PN cedia menos que Vale PNA - 2,48%"A ação cai porque é uma blue chip e se transforma em porta de saída. Mas segue o mau humor do mercado com a ingerência política sobre a companhia", diz um operador. Outro motivo é o anúncio de emissão de bônus global. De acordo com fontes, a empresa pretende fechar hoje uma emissão de bônus de pelo menos US$ 3 bilhões. A demanda já atinge US$ 12 bilhões. Operadores comentam que a emissão eleva o nível de endividamento da empresa, que já é alto.

O dia não é negativo apenas na Bovespa. A bolsa de Xangai fechou em forte queda de 2,86% e praticamente todos os mercados do mundo caem hoje.

Juros

Os juros futuros operam em ligeira alta neste início de tarde na BM&F, dando sequência ao movimento ascendente das taxas iniciado nos últimos pregões da semana passada. Sinais de inflação pressionada, mau humor externo e riscos no front fiscal ajudam a sustentar os prêmios de risco ao longo da curva a termo e estimulam uma postura cautelosa dos doadores de recursos, que se retraem à espera de dados de inflação e atividade relevantes nos próximos dias.

Os investidores já começaram os negócios sob a sombra de uma eventual depreciação do real por conta de queda de 18,1% das exportações da China em fevereiro (na comparação anual), na contramão das expectativas, de alta de 5%. Mesmo sem o esperado tombo da moeda brasileira, os juros futuros iniciaram a sessão apontando para cima. Ao longo da manhã, ficou claro que o vaivém do câmbio não ditaria o sinal dos DIs, mas apenas a intensidade do avanço. As taxas futuras atingiram as máximas do dia justamente nos momentos em que o dólar subia em relação ao real.

O comportamento dos títulos do Tesouro dos EUA também não abriu espaço para um alívio dos juros longos locais. A T-note de 10 anos praticamente não sai do lugar, girando ao redor de 2,80%. O presidente do Federal Reserve da Filadélfia, Charles Plosser, afirmou que o BC americano pode até ter que acelerar o ritmo de corte do volume mensal de compra de bônus, caso a economia americana acelere. A taxa de desemprego, segundo Plosser, pode cair abaixo de 6,2% até o fim do ano, levando o Fed a "enfrentar um desafio de comunicação".

Também dá suporte aos prêmios ao longo da curva o ressurgimento das preocupações com as contas públicas. O resultado fraco do superávit primário do Governo Central em janeiro deu lugar a uma recomposição dos prêmios de risco na ponta longa, que haviam murchado após o anúncio da meta fiscal para este ano. Voltou à baila a tramitação no Congresso do projeto que prevê a mudança retroativa do indicador dos Estados e municípios, apesar do interesse do governo em barrar a proposta, em mais uma etapa para tentar evitar o rebaixamento do rating do país. O imbróglio no setor de energia, cuja conta pode cair no colo do Tesouro, segue no radar dos investidores.

Segundo Paulo Petrassi, diretor de gestão de renda fixa da Leme Investimentos, a combinação de um ambiente externo preocupante com leituras de inflação elevada e dúvidas sobre o cumprimento da meta fiscal justificam o nível dos prêmios ao longo da curva. "O ?tapering' vai continuar nos Estados Unidos e há a questão da China, que pode afetar o câmbio. O ambiente é ruim", afirma Petrassi.

Na ponta curta, a inflação corrente e as expectativas, que teimam em não ceder, desautorizam apostas de que o aperto monetário terminou com a alta de 0,25 ponto da Selic no mês passado, para 10,75%. Antes da abertura dos negócios, a FGV divulgou que o IGP-DI fechou fevereiro com variação de 0,85% (ante 0,40% em janeiro), com alta nos preços agropecuários no atacado.

Na quarta-feira, sai o IPCA de fevereiro. A estimativa da consultoria LCA é que o índice apresente variação de 0,62%, aceleração ante janeiro (0,55%). Isso apesar de a economia andar a passos lentos. Espera-se amanhã o resultado da produção industrial em janeiro, que deve ter encolhido. Na quinta, saem os dados das vendas de varejo em janeiro e, na sexta, o IBC-Br, ambos referentes a janeiro.

A pesquisa Focus mostra que as expectativas de inflação seguem mais perto do teto (6,5%) que do centro (4,5%) da meta, apesar de o BC já ter elevado a Selic em 3,5 pontos percentuais no atual ciclo de aperto monetário. A projeção para o IPCA em 12 meses (suavizada) foi mantida em 6,12%. Pela mediana agregada, a expectativa para inflação este ano permaneceu praticamente inalterada (passou de 6% para 6,01%), enquanto a estimativa para a meta da Selic no fim do ano caiu de 11,13% para 11%. Na mediana TOP 5 de médio prazo, nada mudou em relação às projeções para este ano. Foram mantidas as expectativas para o IPCA (5,89%) e taxa Selic (11,75%).

Com máxima de 12,63%, DI janeiro/2017 era negociado a 12,56% (ante 12,55%). Entre os curtos, DI janeiro/2015 tinha taxa de 11,15% (ante 11,14%).

Mercados internacionais

Na segunda-feira sem indicadores nos Estados Unidos, dados econômicos provenientes da Ásia mantêm os investidores na defensiva. As exportações chinesas caíram 18,1% em fevereiro na comparação com igual mês do ano passado, contrariando a previsão de crescimento de 5%. Esse desempenho foi o principal responsável por um inesperado e raro déficit comercial de US$ 22,98 bilhões no mês.

Ainda que não faltassem analistas ponderando que o dado pode ter sido distorcido pelo feriado do Ano Novo Lunar, o número alimentou preocupações com a saúde da economia mundial. Além disso, seu efeito somou-se ao da alta anual de apenas 2% do índice de preços ao consumidor do país em fevereiro, a menor desde janeiro de 2013, num possível indício de que a demanda interna também fraqueja.

Os dados fortaleceram as teorias de que o recente enfraquecimento do yuan foi induzido para estimular a competitividade da China. "A conclusão inicial sobre esse déficit comercial, combinado com a queda das exportações, é a de que pode ter contribuído para a recente decisão do governo da China de depreciar a moeda", apontou o Goldman Sachs.

Não à toa, no câmbio o maior impacto foi sentido pelo yuan. O banco do Povo da China fixou a taxa central de paridade a 6,1312 yuan por dólar, de 6,1201 de sexta-feira; a desvalorização de 0,18% é a mais acentuada desde julho de 2012. O BC chinês fixa essa taxa todos os dias, e permite que a moeda oscile 1% em torno dela, para cima ou para baixo, no mercado de balcão. Na máxima de hoje, o dólar foi a 6,1458 yuan no balcão, de 6,1260 de sexta-feira.

Outra moeda que é vendida desde o início do dia é o dólar australiano, já que a China é importante compradora das exportações australianas. Na mínima, a moeda foi a US$ 0,9012, de US$ 0,9070 de sexta-feira; no início da tarde era trocada por US$ 0,9024.

Completando o quadro de números asiáticos desfavoráveis, o Japão revisou de 1% para 0,7% seu crescimento anualizado no quarto trimestre do ano passado. As bolsas da região fecharam em queda generalizada e acentuada - Xangai terminou em baixa de 2,86%, Hong Kong cedeu 1,75% e Tóquio perdeu 1,01%. Essas perdas contaminavam as bolsas europeias. Como a China é importante compradora de metais e a segunda maior consumidora mundial de petróleo, os contratos dessas commodities também recuam, o que prejudica ações de mineradoras e petroleiras e alimenta as quedas das bolsas.

E tudo isso ocorre em um cenário ainda marcado pelo receio com a Ucrânia, que tende a crescer à medida que o fim de semana e o referendo separatista da Crimeia se aproximam. No caso das bolsas de Wall Street, essa reunião de notícias negativas motiva uma pausa entre os investidores, depois de o S&P 500 ter encerrado em nível recorde na sexta-feira. E pela quinta vez em sete pregões.

"Os investidores tentam reduzir parte de sua exposição que vieram construindo ao longo do ano", disse o diretor de derivativos de ações do UBS Jeffrey Yu. Ainda assim, ele apontou que, ao menos em Nova York, os investidores parecem proteger suas apostas em vez de vender ações indiscriminadamente. Por isso, explicou, há um movimento de vendas de ações casado com compras de derivativos, o que mantém os participantes expostos aos ganhos potenciais do mercado mais à frente.

Ao redor de 14 horas, o Dow Jones caía 0,35%, enquanto o S&P 500 cedia 0,16% e o Nasdaq perdia 0,17%.

Já os títulos do Tesouro americano parecem dar menos atenção aos dados da Ásia, e operam com os yields em leve queda, com os investidores ainda digerindo os dados americanos melhores que o esperado sobre o mercado de trabalho na sexta-feira. O juro da T-note de 10 anos recuava para 2,786% no mesmo horário acima, e compradores aparecem quando a taxa esbarra nos 2,8%, o que contém qualquer impulso de alta. Além disso, a perspectiva de leilões totais de US$ 64 bilhões nesta semana pelo Departamento do Tesouro também mantém os rendimentos pressionados.