IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Dossiê mostra que ex-secretário de Covas recebeu propina, diz jornal

11/03/2014 10h50

Um extenso relatório de 282 páginas revela passo a passo como o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Robson Riedel Marinho, ex-chefe da Casa Civil do governo Mário Covas (PSDB), recebeu US$ 1,1 milhão em uma conta secreta no banco Crédit Lyonnais Suisse de Genebra. O documento apresenta o depoimento do executivo da multinacional francesa Michel Cabane, segundo o qual o conselheiro foi destinatário de propinas.

As informações estão publicadas na edição desta terça-feira do jornal "O Estado de S.Paulo".

De acordo com a reportagem, o dossiê é composto de 90 documentos da Procuradoria da Suíça, enviados às autoridades brasileiras.

Michel Cabane era o responsável pela área comercial do Consórcio Cogelex Alstom no Brasil, contratado para a execução do projeto Grupo Industrial para o Sistema da Eletropaulo (Gisel), fonte do esquema de propinas, segundo a Procuradoria da República.

De acordo com o jornal, em depoimento aos procuradores suíços, Cabane declarou: "Na ocasião de conversas informais com o sr. Foigel [Jonio Foigel, diretor de uma coligada da Alstom] e o sr. Botto [ex -diretor comercial da Alstom na França], compreendi que se tratava de uma pessoa, de certo senhor Robson Marinho. Ele era membro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Essa é a última instância que fiscaliza as companhias estaduais, assim com o estabelecimento das contas".

Conforme a reportagem, Cabane foi indagado se Marinho foi o único destinatário dos pagamentos. "Eu não sei se apenas essa pessoa recebeu dinheiro ou se o senhor Marinho o distribuiu ou não".

O Ministério Público Federal está convencido, segundo a reportagem, de que os valores foram creditados na conta 17321-1, cujo titular é Marinho, como propina no caso Alstom, suposto esquema de corrupção no setor de energia do governo paulista entre 1998 e 2002, governos de Mário Covas e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB.

Documentos apontados na reportagem que reforçam suspeitas contra Marinho foram recebidos pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça. Eles reconstituem desde a abertura da conta, em 10 de março de 1998, até a sucessão de ordens de transferências em favor do conselheiro pelo empresário Sabino Indelicato, réu no caso Alstom por corrupção e lavagem de dinheiro.

Uma dessas ordens, revelou a reportagem, foi dada de punho próprio - Indelicato mandou, via fax, orientação ao Crédit Lyonnais, onde também mantém conta, para repasse de US$ 242.962. A operação é datada de 24 de fevereiro de 2005. Entre 1998 e 2005, Indelicato fez oito remessas para o conselheiro, que também recebeu da offshore MCA Uruguay, usada pelo esquema Alstom.

Na segunda-feira, informou o jornal, o governador Alckmin defendeu investigação rigorosa. "Em relação a Robson Marinho acho que tem que apurar. O que todos nós queremos é que haja uma apuração rigorosa, que se esclareçam as questões e as punições devidas. Então, é avançar com a investigação".

O criminalista Celso Vilardi, que defende o conselheiro, foi categórico. "Essas conversas [a que Cabane fez referência] se referem a 1998. Eu reafirmo que não fazem o menor sentido, tendo em vista que em 1998 não existia nenhum contrato sob julgamento do TCE. Mais do que isso, naquela época ninguém sabia que, três anos depois, seria julgada a garantia do seguro [dos equipamentos do contrato Gisel], único contato que o conselheiro teve com o caso".