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Diretor do Datafolha vê voto anti-PT mas indica 'uma avenida à frente'

22/07/2014 21h55

O desempenho dos candidatos de oposição em um eventual segundo turno da eleição presidencial chegou a surpreender os que acompanham as pesquisas eleitorais. Este cenário indicaria que grande parte dos eleitores descontentes canalizam a intenção de voto nos dois principais opositores, incluídos aí parte dos que afirmaram que votariam em branco ou nulo ou se dizem indecisos no primeiro turno. Na interpretação do diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, a explicação está no sentimento de mudança que permeia a atual eleição.

"É um voto anti-PT e não um voto preponderantemente nos candidatos atuais da oposição", disse Paulino ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. "Ainda vamos ver quem vai convencer o eleitor que representa a mudança".

Paulino acredita, no entanto, que a maior exposição dos candidatos a partir da propaganda gratuita na TV e no rádio e da realização de debates, sabatinas e entrevistas vai fornecer um panorama mais claro para o eleitor. Pelos dados do Datafolha, os que conhecem bem a presidente Dilma Rousseff (PT) somam 53%; o senador Aécio Neves (PSDB), 17%, e o ex-governador Eduardo Campos (PSB), 7%.

"Só para se apresentar ao eleitor, há uma avenida ainda", afirmou Paulino. Sociólogo e atuante no Datafolha há mais de 20 anos, ele afirma que o nível de conhecimento dos candidatos vai se igualar após dez dias do início do horário eleitoral.

Sobre a presidente Dilma, diz que pesa contra ela a pior avaliação de seu mandato detectada na recente pesquisa do instituto, aliada ao baixo desempenho da economia. Por outro lado, a campanha na TV e nas ruas vai expor seu principal aliado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cabo eleitoral que deixou o governo em 2010 com aprovação de 82%, a mais alta já alcançada por um presidente na série histórica do Datafolha.

A oposição tem a seu favor o índice de 74% dos eleitores que manifestam desejo de mudança. Mas Paulino afirma que Aécio Neves tem um ponto fraco: carrega a rejeição aos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Já Campos é de oposição mas nem tanto ? ataca Dilma mas não Lula e tem tempo muito curto na TV (1min49s) para explicar esta postura e ainda se fazer conhecer, apresentar seu programa de governo e mostrar que é o candidato de sua vice, Marina Silva.

Tudo somado, as pesquisas atuais são um bom indicativo, mas é preciso esperar a campanha engrenar para uma avaliação mais precisa.

Aécio leva votos de Campos

Na disputa contra a presidente Dilma, Aécio passa de 20% no primeiro turno para 40% no turno final, enquanto o ex-governador Campos sobe de 8% para impressionantes 38%. Dilma teria 44% contra Aécio, um empate técnico pela margem de erro de 2 pontos, e venceria Campos com 45%, conforme avaliação do Datafolha feita entre 15 e 16 de julho.

É intrigante que, enquanto a presidente lidera na primeira fase com 36% e recebe oito pontos a mais em um eventual segundo turno contra o tucano, Aécio, por sua vez, dobra o desempenho, o que deve significar que ele absorve boa parte dos votos de Campos (e vice-versa), uma identidade entre os dois candidatos de oposição que não está clara nesta eleição.