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Bovespa e dólar descolam da cena externa após pesquisa Ibope

23/07/2014 14h10

Os mercados financeiros globais estão longe de mostrar euforia nesta quarta-feira, mas de forma geral as bolsas de valores operam em leve alta, divididas entre balanços corporativos melhores e tensões geopolíticas. Os ativos domésticos, entretanto, têm um desempenho mais fraco, pressionados por ajustes em reação aos resultados de uma nova pesquisa de intenções de voto para a Presidência da República, que sinalizaram menores chances de uma vitória da oposição nas elei ções de outubro.

A sondagem do Ibope mostrou vitória da presidente Dilma Rousseff (PT) em duas simulações de segundo turno - contra Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). No primeiro turno, Dilma tem 38% das intenções de voto, seguida por Aécio (22%) e Campos (8%).

Pesquisas recentes do Datafolha e do Sensus chegaram a mostrar um empate técnico num eventual segundo turno entre Dilma e Aécio.

Não por acaso, o Ibovespa operava em baixa, devolvendo parte das altas recentes conseguidas com o aumento das apostas de uma derrota de Dilma. As estatais - justamente as que mais se valorizaram com o noticiário eleitoral - figuravam entre as maiores quedas.

O impacto também é visto no mercado de câmbio. Os investidores receberam os números do fluxo cambial da semana passada, que registrou um saldo positivo de US$ 1,388 bilhão, ainda insuficiente, contudo, para compensar a forte saída de US$ 3,819 bilhões da semana anterior.

Além da questão eleitoral e dos fluxos, o mercado cambial operava na expectativa em torno da conclusão das rolagens de swaps cambiais com vencimento em agosto e também deve começar a monitorar a sinalização do BC para a postergação dos papéis com vencimento em setembro.

No mercado de juro futuro, o resultado da pesquisa Ibope leva investidores a ampliar ligeiramente o prêmio de risco, o que dita alta nas taxas mais longas.

Do lado externo, o tom é ligeiramente positivo, mas suficiente para levar o S&P 500 a uma nova máxima recorde intradia. As preocupações no campo geopolítico, no entanto, seguem no radar, o que ajuda a explicar a queda do rendimento dos bônus alemães de dez anos para próximo de mínimas recordes.

Bolsa

O Ibovespa opera em queda, na contramão do exterior, aproveitando para um momento de correção após a pesquisa Ibope de intenção de voto para a Presidência da República. O índice recuava 1,15% às 14 horas, para 57.314 pontos.

Petrobras PN devolvia ganhos e figurava entre as maiores baixas do dia, com queda de 3,42%. Ainda entre estatais, recuavam Eletrobras ON (-2,63%) e Cemig PN (-2,56%). BB já melhorava a cotação e cedia 0,17%.

"A pesquisa de intenção eleitoral realizada pelo Ibope relativiza o empate técnico no segundo turno entre Dilma e Aécio. As últimas pesquisas do Datafolha e Instituto Sensus indicaram os candidatos com o mesmo número de pontos dentro da margem de erro", diz o Banco Fator em nota.

No primeiro turno, Dilma Rousseff caiu de 39% para 38%, Aécio Neves subiu de 21% para 22% e Eduardo Campos recuou de 10% para 8%. "Nesse cenário a necessidade de segundo turno fica indefinida, já que os votos na atual presidente ficam em empate técnico com o total sobre os demais candidatos", afirma o banco. Em um eventual segundo turno, Dilma ganharia de Aécio Neves com 41% contra 33% dos votos, ante 43% contra 30% na pesquisa anterior.

Segundo a Guide, a pesquisa indica "um quadro um pouco menos desfavorável para Dilma do que as recentes pesquisas Datafolha e Sensus". E continua. "Vale reparar: ontem, o Ibovespa terminou em alta de 0,61%, pouco abaixo dos 58 mil pontos, mas nem todas as ações que costumam responder aos rumores eleitorais subiram de forma mais expressiva. Nesse contexto, podemos ver alguma correção na bolsa no dia de hoje, após ganhos recentes".

O Itaú Unibanco também comenta em nota que a aprovação do governo permanece em mínimas históricas (31%) e que as intenções de voto permaneceram praticamente inalteradas.

Na outra ponta, as ações da fabricante de celulose Fibria estavam entre as altas, com 3,25%. A companhia informou que seu lucro líquido chegou a R$ 630 milhões entre abril e junho, contra prejuízo de R$ 596 milhões um ano antes. O Ebitda ajustado somou R$ 594 milhões e superou os R$ 578 milhões aguardados.

Câmbio

O dólar volta a subir frente ao real nesta quarta-feira, levando a moeda brasileira a destoar da apreciação vista em outras divisas emergentes. O mercado torna a comprar dólares depois de os resultados de uma nova pesquisa eleitoral enfraquecerem apostas de uma descontinuidade do atual governo, considerado intervencionista por agentes de mercado.

A sondagem do Ibope mostrou vitória da presidente Dilma Rousseff (PT) em duas simulações de segundo turno - contra Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). No primeiro turno, Dilma tem 38% das intenções de voto, seguida por Aécio (22%) e Campos (8%).

Pesquisas recentes do Datafolha e do Sensus chegaram a mostrar um empate técnico num eventual segundo turno entre Dilma e Aécio. Operadores comentam que boa parte da queda de 0,52% do dólar ontem decorreu de expectativas de que a pesquisa do Ibope referendasse os resultados de sondagens divulgadas recentemente, o que não se confirmou.

"O mercado vai ficar cada vez mais sensível a essas pesquisas", diz o diretor de câmbio da Intercam Corretora, Jaime Ferreira.

Investidores receberam os números do fluxo cambial da semana passada, que registrou um saldo positivo de US$ 1,388 bilhão, ainda insuficiente, contudo, para compensar a forte saída de US$ 3,819 bilhões da semana anterior.

No acumulado do mês, o fluxo cambial ainda é negativo em US$ 4,039 bilhões, pressionado pelo rombo na conta financeira, que sozinha tem déficit de US$ 3,617 bilhões.

Às 14 horas, o dólar comercial subia 0,43%, a R$ 2,2216. O dólar para agosto avançava 0,36%, a R$ 2,2270.

No exterior, o dólar recuava 0,68% ante o rand sul-africano, 0,74% contra a lira turca e 0,14% frente ao peso mexicano.

Além da questão eleitoral e dos fluxos, o mercado operava na expectativa em torno da conclusão das rolagens de swaps cambiais com vencimento em agosto e também deve começar a monitorar a sinalização do BC para a postergação dos papéis com vencimento em setembro.

Cruzando dados do BC e da BM&FBovespa, chega-se a um estoque de 201.400 contratos de swap com vencimento em 1º de setembro, num total de US$ 10,070 bilhões.

O Banco Central (BC) fez a rolagem de todos os 7 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão nesta quarta-feira, em operação que postergou os vencimentos do equivalente a US$ 247,6 milhões.

Dos 189.130 contratos de swap com vencimento em 1º de agosto (US$ 9,457 bilhões), ainda restam 91.130 (US$ 4,557 bilhões) passíveis de rolagem.

Mantido o atual ritmo de rolagens (7 mil papéis por dia), o BC deve deixar vencer 56.130 contratos, algo como US$ 2,807 bilhões.

Na prática, isso equivale a uma retirada de dólares do sistema financeiro em igual montante. Além d sso, há um lote de cerca de US$ 2,2 bilhões em linhas de dólares a vencer na virada do mês, segundo o profissional de uma gestora.

Mais cedo, o BC vendeu todos os 4 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão, " injetando" no mercado futuro o equivalente a US$ 198,7 milhões. Tomando como base dados da BM&F, é possível estimar que o estoque de swaps do BC de posse do mercado alcançou US$ 91,563 bilhões, ou 1.831.250 de papéis. No fim de junho, esse montante era de US$ 89,873 bilhões (1.797.450 contratos).

Juros

Os juros futuros mais longos avançam neste início de tarde na BM&F em uma resposta ao abalo que a pesquisa Ibope para a Presidência da República provocou na perspectiva de uma disputa renhida entre Dilma e Aécio em um eventual segundo turno. Enquanto os DIs longos esboçam uma reação, os curtos permanecem sem fôlego, girando perto da estabilidade.

Pesam sobre as taxas curtas hoje a queda preliminar da confiança da indústria em julho, que confirma o quadro de desaquecimento da atividade, e a desaceleração da inflação revelada pelo IPC-S da terceira quadrissemana.

Entre os vencimentos longos, o DI para janeiro de 2017 subia de 11,05% para 11,10%, e o DI para janeiro de 2021 passava de 11,36% para 11,44%. No exterior, as taxas dos títulos do Tesouro americano seguiam em queda, em parte por conta da fuga para a qualidade provocada pela aversão ao risco em meio as tensões geopolíticas.

Pesquisa Ibope não chancelou o quadro apresentado pelos levantamentos do Datafolha e do Instituto Sensus, que apontavam para uma disputa acirrada entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o tucano Aécio Neves (PSDB) em um eventual segundo turno.

Entre os contratos curtos, o DI para janeiro de 2015 ? que abriga as apostas para o rumo da Selic até o fim do ano ? ia de 10,72% para 10,73%. O DI para janeiro de 2016 apresentava ligeiro avanço, de 10,90% para 10,92%.

A deterioração do cenário para a atividade econômica e a apreciação do real ao longo deste ano, embora mitiguem as pressões inflacionárias, "não garantem tranquilidade às perspectivas para o IPCA", com a queda da inflação em 12 meses para a casa de 5,5%, algo que deve acontecer apenas em meados de 2016. "Sob este cenário, por mais que as preferências da atual diretoria do BC privilegiassem a atividade econômica (e isto não equivale a dizer que elas o fazem), é difícil contar com queda da taxa de juro este ano", afirma a LCA Consultores.

Mercados internacionais

Em um dia de poucos indicadores importantes, os mercados reagem a balanços e outras notícias de empresas nesta quarta-feira. As questões geopolíticas preocupavam menos hoje, mas ainda assim atraíam a atenção, diante dos riscos de piora no cenário na Faixa de Gaza ou nas relações entre o Ocidente e a Rússia.

Por volta das 14 horas, o índice Dow Jones recuava 0,18%, o Nasdaq subia 0,29% e o S&P 500 tinha alta de 0,12%.

Um dos destaques nas bolsas americanas é o setor de tecnologia e biotecnologia, após a Apple e outras empresas da área divulgarem balanços positivos.

Hoje, o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou sua previsão de crescimento para os Estados Unidos neste ano, dos 2% estimados em junho para 1,7%. Ainda assim, o Fundo nota uma aceleração em curso na economia americana. O FMI afirmou que ainda vê muita ociosidade na economia do país e apontou a possibilidade de que os juros demorem mais para subir.

Um dos destaques do dia na Europa foi a divulgação da última ata do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês). Os dirigentes do BoE afirmam não ter um cronograma antecipado sobre quando começarão a elevar os juros, segundo o documento. Além disso, há entre eles visões contrárias e a favor de uma alta antecipada nos juros, diante de sinais divergentes da economia.

A Bolsa de Londres fechou em alta de 0,07%, Frankfurt avançou 0,26% e Paris teve alta de 0,16%. Por volta das 12h55, o euro operava estável a US$ 1,3643.

A atenção dos mercados também está no imbróglio da dívida argentina. Hoje, uma delegação do Ministério da Economia do país viajou a Nova York, onde terá na quinta-feira uma reunião para tentar resolver o impasse em torno da batalha com os credores que não participaram da dívida reestruturada (os chamados "holdouts"). Ontem, o juiz americano Thomas Griesa refutou o pedido do governo argentino para suspender a sentença que bloqueou o pagamento de credores da dívida reestruturada do país. Caso não haja acordo até o dia 30, o país entrará oficialmente em default.

Na arena geopolítica, os confrontos continuam entre Israel e os militantes palestinos na Faixa de Gaza, com mais mortes.