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Mau humor dá o tom aos negócios; Bovespa cai e dólar sobe ante real

25/07/2014 14h00

O mau humor dá o tom aos mercados nesta sexta-feira. A percepção é que as tensões geopolíticas ? a crise no leste da Ucrânia e os confrontos no Oriente Médio ? já se refletem nos indicadores econômicos.

Os ativos brasileiros acompanham o mau humor externo. Depois de registrar pequenas oscilações pela manhã, o Ibovespa opera em leve queda. O tombo só não é maior porque as ações da Petrobras avançam. Já os papéis dos bancos, à exceção das units do Santander, recuam, mesmo após o Banco Central (BC) anunciar mudanças nas regras dos recolhimentos compulsórios que liberam pelo menos R$ 30 bilhões para eventual concessão de crédito.

No mercado de câmbio, o dólar avança em relação ao real, mas as variações são limitadas. Além do ambiente externo de maior aversão ao risco, impulsiona a moeda americana a aproximação dos vencimentos de contratos de câmbio na BM&F.

Já os juros futuros trabalham em queda, devolvendo parte das altas do dia anterior.

Bolsa

O Ibovespa operou com pequenas oscilações pela manhã. Perto de 13h45, o índice recuava 0,22%, para 57.851 pontos. Segundo o analista da Clear Corretora Raphael Figueredo, a resistência do Ibovespa tem nome: Petrobras.

A ação da estatal petrolífera, que caiu essa semana após uma pesquisa Ibope mais favorável à presidente Dilma Rousseff, se recupera hoje - os papéis PN tinham alta de 0,89%.

Na cena externa, os investidores receberam a queda na confiança dos negócios na Alemanha. Além disso, balanços nos Estados Unidos pressionam as bolsas americanas.

Os bancos oscilam em reação à decisão do BC de fazer ajustes nas regras dos recolhimentos compulsórios. Em nota, a autoridade monetária afirma que os ajustes visam a melhor distribuição de liquidez na economia e estima um impacto d R$ 30 bilhões com a medida. A decisão vem um dia depois de o BC explicar os motivos que o levaram a manter o juro básico em 11% ao ano e ocorre em meio a sinais flagrantes de desaceleração na economia.

Para economistas, as medidas devem ter efeito limitado sobre o crescimento dos empréstimos. Na visão deles, a maior liquidez trazida pelas ações, que incluem ajuste nos compulsórios, não reverte o cenário de seletividade dos bancos, uma vez que os riscos de um quadro econômico adverso são crescentes.

"Na nossa avaliação, as medidas devem ter impacto um tanto limitado no crescimento do crédito, uma vez que a recente desaceleração dos empréstimos é causada especialmente pela percepção mais aguda de risco de crédito dos bancos, dada a visível desaceleração da economia e os riscos crescentes de desemprego", afirma o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, em relatório.

As ações da Oi tinham forte perda pelo segundo pregão seguido. A baixa era de 3,87%. Acionistas minoritários da Oi encaminharam um pedido de esclarecimentos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre os acontecimentos recentes envolvendo a aplicação de 897 milhões de euros realizada pela Portugal Telecom (PT) na Rioforte, hol ding de seu sócio, Grupo Espírito Santo (GES). A Rioforte entrou em recuperação judicial e os recursos não foram pagos.

No documento encaminhado à autarquia, o advogado Raphael Martins, da Faoro & Fucci Advogados, representante de acionistas minoritários da Oi, afirma que foram solicitadas informações à Oi, BTG, coordenador líder da oferta da Oi, Santander, avaliador dos ativos da PT e também coordenador da oferta da Oi, e KPMG, auditor, sobre "eventuais falhas" ocorridas no processo da oferta pública de ações e na elaboração do laudo de avaliação dos ativos da PT e que podem vir a provocar prejuízos para a Oi, seus acionistas e aqueles que aderiram à oferta.

Câmbio

O dólar volta a subir frente ao real nesta sexta-feira, mas as variações seguem limitadas, mantendo a cotação na estreita faixa entre R$ 2,20 e R$ 2,25 em que tem operado desde o início de junho.

A alta hoje é influenciada pelo ambiente de maior aversão a risco no exterior, em meio a sinais de que as tensões geopolíticas começaram a gerar impactos no plano econômico. A Alemanha, maior economia europeia e quarta do mundo, viu seu índice de sentimento de negócios cair em julho bem mais que o esperado. O instituto Ifo, que calcula o indicador, afirmou que empresários citaram a crise na Rússia como um dos principais fatores para a deterioração da confiança. A Alemanha mantém vínculos econômicos com Moscou.

Às 13h47, o dólar comercial avançava 0,11%, a R$ 2,2295. O dólar para agosto ganhava 0,22%, a R$ 2,2260.

No exterior, o dólar subia 0,23% ante uma cesta de divisas, impulsionado sobretudo pelos ganhos de 0,24% contra o euro.

O profissional da área de derivativos cambiais de uma corretora em São Paulo nota que a demanda do mercado por dólares também pode ser explicada pela aproximação dos vencimentos de contratos de câmbio na BM&F. Com isso, explica ele, os agentes com posição comprada na moeda americana tentam garantir uma Ptax mais conveniente a suas posições.

A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo BC que serve de referência para a liquidação de contratos futuros e outros derivativos.

Pelos dados de ontem da bolsa, os mais recentes, tanto bancos quanto investidores institucionais e estrangeiros mantêm posições líquidas compradas em dólar via mercado de derivativos - considerando contratos de dólar futuro, cupom cambial (DDI) e swap cambial.

Os bancos fecharam ontem com o equivalente a US$ 40,09 bilhões em posições que ganham com a alta do dólar. Os investidores nacionais institucionais - grupo formado principalmente por fundos de investimento, de caráter mais especulativo - sustentavam US$ 20,65 bilhões na mesma posição, enquanto os não residentes tinham o equivalente a US$ 28,52 bilhões nessa direção.

Essas posições somadas (US$ 89,29 bilhões) são quase que totalmente compensadas pelo BC, o grande vendedor de dólares do mercado. Até ontem, a autoridade monetária tinha o equivalente a US$ 91,76 bilhões em posições vendidas em dólar no mercado via swaps cambiais. Esse montante aumentou hoje para cerca de US$ 91,96 bilhões por meio da venda de todos os 4 mil contratos de swap cambial ofertados nesta sexta-feira.

Além da oferta líquida de swaps, o BC fez a rolagem de todos os 7 mil papéis ofertados em leilão nesta sexta-feira, em operação que postergou os vencimentos do equivalente a US$ 345,4 milhões em papéis que inicialmente seriam liquidados no início de agosto.

Dos 189.130 contratos de swap com vencimento em 1º de agosto (US$ 9,457 bilhões), ainda restam 77.130 (US$ 3,857 bilhões) passíveis de rolagem.

Mantido o atual ritmo de rolagens (7 mil papéis por dia), o BC deve deixar vencer 49.130 contratos, algo como US$ 2,457 bilhões.

Para setembro, está previsto o vencimento de 201.400 contratos de swap, num total de US$ 10,070 bilhões.

Juros

Os juros futuros até ensaiaram dar continuidade ao movimento de alta de ontem, quando avançaram na esteira da ata do Copom, mas acabaram perdendo força ainda pela manhã e trabalham em queda neste início de tarde. Segundo operadores, as tesourarias recalibram as posições mantendo na curva a termo as chances, embora mais modestas, de que haja um afrouxamento monetário ainda este ano.

Como sinalizado na ata ontem, segundo interpretação majoritária dos analistas, o BC anunciou hoje o relaxamento de medidas macroprudenciais, como as exigências de recolhimentos compulsórios. A leitura inicial é que o BC trocou o uso de um instrumento abrangente de desaperto monetário (a meta da taxa Selic) por uma medida que específica de estímulo ao crédito.

Segundo um operador, parte do mercado leu as medidas do BC como um "início de afrouxamento", mesmo que tímido e "prefere se armar para a possibilidade de um corte da Selic", já que até dezembro a desaceleração da economia pode ser mais profunda. "Se o BC não cortar a Selic, perde-se pouco. Se reduzir a taxa, é possível ganhar muito. Quer dizer, o risco e retorno é favorável", afirma.

As mudanças no compulsório liberam para os bancos um valor estimado em R$ 30 bilhões.

Em todo caso, a sensação entre operadores é que o BC tenta evitar a imagem de leniência com a inflação ao manter a Selic em 11% ao mesmo tempo que busca combater o desaquecimento da economia com um desperto das condições de crédito.

"É uma flexibilização monetária que não passa pela mudança da taxa de juros. É mais impulso para o consumo, para a demanda, o que não combina com a inflação ainda elevada", afirma Flávio Serrano, economista sênior d o BES, que não vê uma moderação relevante do ritmo de alta dos índices de preços nos próximos meses.

Para Serrano, a despeito da sinalização do BC de que não pretende cortar os juros, o mercado deve manter embutida na curva a termo uma ligeira possibilidade de afrouxamento monetário ainda neste ano. Isso porque o BC comandado por Alexandre Tombini tem um histórico de mudanças abruptas de direção e há possibilidade de retomada das pressões por um corte caso a economia desande ainda mais.

Entre os contratos ligados diretamente ao rumo da Selic, o DI para janeiro de 2015 passa de 10,78% para 10,76%, e o DI/ janeiro 2016, de 11,09% para 11,03%. Entre os longos, o DI janeiro/2017 cai 11,29% para 11,27%.

Mercados Internacionais

Um dado pior que o esperado da Alemanha e notícias negativas de empresas importantes nos Estados Unidos provocam quedas nos mercados internacionais nesta sexta-feira.

Por volta das 13h50, o Dow Jones perdia 0,71%, o Nasdaq recuava 0,47% e o S&P 500 declinava 0,40%.

Entre as empresas, a ação da Amazon recuava 10%, após a varejista da internet divulgar resultado pior que o esperado, ainda que com aumento de 23% em sua receita.

Na agenda de indicadores, o destaque nos Estados Unidos foi a divulgação do dado de encomendas de bens duráveis. Os pedidos avançaram 0,7% em junho, na comparação com maio, quando a previsão era de alta de 0,5%. Ainda assim, as notícias mais fracas de empresas prevalecem hoje.

Na Europa, um dado fraco da Alemanha afetou o humor das bolsas. O Instituto Ifo informou que seu índice de sentimento para os negócios caiu de 109,7 em junho para 108 em julho, quando a expectativa dos economistas era de 109,4. O resultado sugere que as empresas mostram-se mais temerosas, diante de incertezas na política internacional, com a crise no leste da Ucrânia entre separatistas pró-Rússia e as forças de Kiev e os confrontos no Oriente Médio.

Também na Alemanha, a confiança do consumidor subiu de 8,9 pontos em julho para 9 na projeção para agosto, segundo o Instituto GfK. No Reino Unido, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre cresceu 0,8% no segundo trimestre na comparação com o primeiro, como esperado pelos analistas.

Na Rússia, o banco central decidiu elevar a taxa de juros de 7,5% para 8%, para conter a alta inflação. Também hoje, o Ministério da Economia russo informou que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 0,1% no segundo trimestre, evitando uma recessão técnica após queda de 0,5% no primeiro trimestre. Autoridades da União Europeia discutem na semana que vem a possibilidade de adoção de sanções mais duras contra a economia russa, por causa da suposta interferência de Moscou nos distúrbios no leste ucraniano.