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Dólar fecha em alta impulsionado por PIB americano

30/07/2014 18h05

Embora o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) tenha sinalizado que não tem pressa de alterar a politica monetária em seu comunicado, divulgado hoje ao fim da reunião, o crescimento acima do esperado do PIB americano no segundo trimestre levou a um fortalecimento do dólar frente às principais moedas, aumentando as apostas de que o Federal Reserve pode elevar a taxa básica de juros mais cedo que o esperado.

O dólar comercial subiu 0,58%, encerrando a R$ 2,2432, maior nível desde 17 de julho. O contrato futuro para agosto avançava 0,51% para R$ 2,245.

Depois de romper a barreira técnica de alta, de R$ 2,25, a moeda americana recuou após o comunicado do Fomc, que manteve o tom ?dovish" das últimas reuniões, destacando que a taxa de juros vai continuar na faixa atual, entre zero e 0,25%, por período considerável depois do fim do programa de compra de bônus, previsto para outubro. Hoje o Fed cortou mais US$ 10 bilhões, reduzindo o volume mensal de compra de ativos para US$ 25 bilhões.

A primeira leitura do PIB americano no segundo trimestre mostrou expansão de 4%, em termos anualizados, acima da expectativa do mercado que era de 3%. Além disso, o PIB do primeiro trimestre de queda de 2,9% para um recuo de 2,1%. O dado levou a uma correção das moedas emergentes, depois de um longo período de baixa volatilidade.

A ADP também informou que foram criados 218 mil postos de emprego no setor privado em julho. Apesar do número ter vindo abaixo da expectativa do mercado, de 238 mil, ele segue apontando uma melhora permanente no mercado de trabalho americano, um dos elementos mais importantes para o Fed na definição de sua política monetária.

Lá fora, o dólar subia 0,63% frente ao dólar australiano, 0,66% em relação ao rand sul-africano e 0,83% diante da lira turca.

O Fomc destacou hoje em comunicado que as condições do mercado de trabalho melhoraram e que taxa de desemprego caiu, mas que a recuperação do mercado imobiliário segue lenta e que os salários também têm avançado de forma moderada.

Para o economista-chefe para América Latina do ING, Gustavo Rangel, se os dados continuarem mostrando uma recuperação

mais forte da economia americana é possível que o Federal Reserve venha a mudar o tom do discurso já na próxima reunião em setembro, adotando uma mensagem mais significativa sobre a condução da normalização da política monetária nos EUA. "O que a gente viu hoje é que a economia americana está mais forte do que se imaginava, o que reduz a habilidade do Fed de manter uma posição ainda ?dovish' em relação à política monetária", afirma Rangel.

Nesse cenário, afirma o economista, o real, assim como outras moedas emergentes, pode passar por um movimento de correção, com os juros das Treasuries voltando a subir.

No caso do real, destaca Rangel, as intervenções do Banco Central podem ajudar a conter a pressão de alta do dólar, principalmente por meio da rolagem dos contratos de swap cambial que estão vencendo.

O BC vem fazendo a rolagem parcial dos lotes de swap cambial a vencer, mas pode optar pela renovação integral dos contratos em caso de uma pressão maior de alta do dólar. "Com uma inflação ainda alta [perto do teto da meta de 6,5%], a tendência é que o BC se torne mais sensível a uma desvalorização do câmbio", afirma Rangel.

O economista do ING afirma que as intervenções do BC no câmbio têm se mostrado eficazes e impediu, por exemplo, que o real tivesse uma desvalorização mais forte em julho, com o dólar acumulando alta de 1,51% no mês, diante de um cenário de fluxo cambial fraco, que acumulava déficit de US$ 4,680 bilhões em julho, até o dia 25. No ano, o fluxo cambial está negativo em US$ 534 milhões.

Hoje o BC rolou mais 7 mil contratos de swap cambial, com vencimento previsto para 1º de agosto, cuja operação somou US$ 345,5 milhões. Caso o BC role integralmente os 7 mil contratos esperados para amanhã, ele deve deixar vencer no fim do mês algo como US$ 2,457 bilhões do lote total de US$ 9,457 bilhões que vence no início de agosto. Para setembro, está previsto o vencimento de 201.400 contratos de swap, num total de US$ 10,070 bilhões. O BC ainda não se pronunciou sobre as rolagens referentes a esse vencimento.

Ainda está marcado para amanhã leilão de rolagem de US$ 2,25 bilhões em linhas de dólares com compromisso de recompra. Caso o BC não aceite nenhuma proposta e liquide essa operação, ele zera a sua posição em linha de dólar.

A autoridade monetária ainda vendeu todos os 4 mil contratos de swap cambial ofertados no leilão do programa de intervenção, cuja operação somou US$ 198,8 milhões.

O economista do ING destaca, no entanto, que uma mudança na direção da política monetária do BC em direção a um afrouxamento monetária pode contribuir para o enfraquecimento do real. "O BC já relaxou as exigências de depósito compulsório para estimular o aumento do crédito, sinalizando uma postura mais ?dovish', e se confirmada uma recessão da economia em agosto [quando sai o PIB do segundo trimestre] é possível que o BC mude de ideia e corte a taxa básica de juros."

Outro fator que pode trazer maior volatilidade para o câmbio é a aproximação das eleições em outubro e a incerteza sobre o quadro eleitoral.

Por isso, o banco mantém a projeção de R$ 2,40 para o câmbio para o fim de 2014, prevendo um aumento das taxas de juros nos Estados Unidos e em função do alto déficit em conta corrente do Brasil, que está em 3,47% do PIB no acumulado de 12 meses até junho. "O real vai ter que se depreciar para se aproximar do nível de taxa de câmbio de equilíbrio", afirma Rangel.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, também vê a tendência de que a economia americana continue dando sinais de fortalecimento, o que por si só tende a puxar o dólar para cima. "E ainda tem toda a tensão antes das eleições. Devemos voltar a ver o dólar oscilando mais nos próximos meses", diz.