IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Discutir tarifas é bobagem para acordos comerciais, diz Thorstensen

22/08/2014 18h21

Barreiras tarifárias, listas de exceção e inserção em cadeias globais de valor. Esses termos, em voga nos últimos dois anos na boca dos empresários brasileiros quando o comércio exterior é colocado em pauta, já não têm efeito prático para aumento no nível de comércio.

Na visão de Vera Thorstensen, economista e pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV), europeus e norte-americanos estão usando outras ferramentas para se proteger de concorrentes e aumentar suas fatias em mercados preferenciais.

O conceito utilizado pelos países desenvolvidos é o de barreiras regulatórias. Esse tipo de defesa está sendo costurada no acordo entre Estados Unidos e União Europeia e pode ser feito em duas frentes: pelo Estado e por empresas multinacionais, que colocam padrões "risíveis", na visão de Vera, para frear a entrada de importações em seus mercados.

"Tudo o que havíamos estudado, discutido e implementado em acordos comerciais e na própria OMC não vai mais acontecer. O mundo desenvolvido, que forma o comércio exterior, vai se proteger através das barreiras regulatórias, que são as especificações que cada produto precisa ter para entrar em determinado mercado", afirmou ela durante seminário promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet), em São Paulo.

O Brasil, tanto na formulação do acordo com a União Europeia quanto na abertura de novas frentes de negociações com outros países, deveria atuar com foco na nivelação dos padrões regulatórios.

"Eu vejo a burocracia sentada e rodando equivalência para 10 mil produtos para tentar conseguir um acordo. Aonde vemos mais problemas para produtos brasileiros hoje no mundo? Em barreiras fitossanitárias, por exemplo. Barreira tarifária era central no mundo antes do acordo entre americanos e europeus. Hoje você pode abaixar a tarifa de seu mercado para entrar no mercado do outro e depois barrar o produto alegando uma incompatibilidade regulatória qualquer", disse Vera.

Outro ponto que tira força de focar políticas nacionais de comércio exterior sob a ótica de barreiras tarifárias é o uso do câmbio que os países fazem com o manejo da política monetária. "O câmbio comeu a tarifa. Todo mundo mexe na sua moeda e com isso pode anular o efeito das tarifas", afirmou.