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Bovespa fecha estável após releitura de decisão do Fed

17/09/2014 18h12

A Bovespa iniciou a quarta-feira em forte alta, diante da surpresa dos investidores com o avanço da oposição na pesquisa Ibope divulgada ontem à noite. Porém, o mercado doméstico perdeu força ao longo do dia, na expectativa da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), fechando o pregão estável.

O comunicado e a revisão das projeções do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) provocou volatilidade, mas não chegou a derrubar a bolsa brasileira. A avaliação é que a autoridade monetária dos Estados Unidos não sinalizou nenhuma alteração no rumo de sua política, mantendo o tom "dovish " - favorável ao afrouxamento monetário.

O principal detalhe do comunicado não sofreu alteração: a frase "período considerável", em referência à manutenção de juros em patamares baixos. No entanto, a entrevista coletiva da presidente do Fed, Janet Yellen, foi consi derada confusa por alguns agentes, o que colaborou para que a Bovespa perdesse força no fim do dia.

"Yellen disse inicialmente que a expressão ?tempo considerável' permanece apropriada diante das atu ais condições econômicas. Pouco depois ela declarou que a mesma expressão é ?altamente condicional'", observou o gestor da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira. "Na prática, o Fed deixou a porta aberta para mexer na política monetária assim que a economia permitir."

O estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, esperava que a frase fosse substituída "por algo tão ambíguo quanto", dando espaço para o Fed agir no momento que achar necessário. "No fim das contas não houve grandes novidades. Até mesmo os votos dissidentes já eram esperados."

Gala chamou atenção apenas para a revisão das projeções por parte do Fed, que agora mostram uma expectativa mais lenta de crescimento da economia americana. A previsão de avanço do PIB em 2014 desacelerou para o intervalo de 2,0% a 2,2%, frente à expectativa anterior de 2,1% a 2,3%. Em 2015, o Fed espera avanço de 2,6% a 3,0%, ante projeção anterior de 3,0% a 3,2% feita em junho.

O estrategista da Fator lembra que o Fed é hoje o principal risco de restrição da liquidez mundial, visto que os bancos centrais da Europa (BCE) e do Japão (BoJ) estão caminhando no sentido contrário, de ampliação da liquidez.

No cenário doméstico, o foco foi mais uma vez a corrida presidencial. A pesquisa Ibope divulgada on tem pelo "Jornal Nacional" mostrou Marina Silva com 43%, mesmo percentual que possuía na pesquisa anterior, enquanto Dilma Rousseff (PT) recuou de 42% para 40%.

A surpresa veio da reação de Aécio Neves (PSDB) no primeiro turno. O tucano, que estava estagnado em 15% de intenções de voto na semana passada, subiu quatro pontos percentuais, para 19%. Dilma caiu três pontos, para 36%. E Marina oscilou de 31% para 30%. O avanço inesperado de Aécio - e a queda de Dilma - favorecem o cenário de mudança no comando do país, o que agrada ao mercado. O fortalecimento da oposição, a apenas duas semanas do pleito, promete dar novo fôlego à Bovespa nos próximos pregões.

"Numa leitura rápida da pesquisa, a oposição tem muito o que comemorar, pois o crescimento de Aécio Neves não ameaça a polarização entre Dilma e Marina. Todavia, marca posição de um eleitorado que deve migrar maciçament e para a candidata do PSB. Juntos, Aécio Neves e Marina Silva têm 49% das intenções de voto, muito próximo de uma maioria decisiva num eventual segundo turno", destaca o estrategista da CM Capital Markets, Marco Aurélio Barbosa, em nota a clientes.

O Ibovespa fechou em leve baixa de 0,01%, aos 59.108 pontos, com volume de R$ 6,166 bilhões. Entre as principais ações do índice, Petrobras PN ganhou 2,64%, a R$ 22,12; seguida por Itaú PN (0,43%, a R$ 39,13) e Bradesco PN (0,50%, a R$ 39,42), enquanto Vale PNA caiu 0,62%, a R$ 25,55, e Ambev ON recuou 1,72%, a R$ 15,95.

No topo do Ibovespa ficaram TIM ON (3,33%) e Oi PN (2,43%). A Oi colocou à venda a Africatel, holding que reúne a participação detida pela Portugal Telecom em empresas na África e que deve ficar abaixo da tele brasileira após a fusão com a Portugal Telecom. A venda integra a estratégia da companhia para levantar caixa, diminuir o endivida mento e, eventualmente, fazer aquisições para não ficar atrás do movimento de consolidação do setor no Brasil.

O Valor apurou que a Oi vê com bons olhos uma eventual aproximação da TIM para uma oferta de compra ou fusão, com troca de ações. A informação sobre uma eventual parceria entre as duas companhias foi levantada ontem pelo jornal italiano "Il Sore 24 Ore".

Se a TIM comprar a Oi, numa troca de ações, o resultado prático será o mesmo. A previsão é que os órgãos reguladores do setor (Anatel) e da concorrência (Cade) exijam a venda de parte da operação. Haveria, portanto, uma distribuição dos negócios entre os três maiores operadores de telecomunicações do país. A TIM negou hoje que sua controladora indireta, a Telecom Italia, esteja discutindo qualquer tipo de negócio com a Oi.

Na ponta negativa, o destaque pelo segundo pregão seguido foi Cemig PN (-6,48%). Desde ontem o ativo reage à reportagem do Valor, de que o candidato do PT para governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, prepara uma série de mudanças na gestão da companhia. Pesquisa Ibope divulgada ontem mostrou que Pimentel ampliou a vantagem sobre Pimenta da Veiga, do PSDB, aumentando as chances de uma vitória já em primeiro turno.

Em entrevista ao Valor PRO, o coordenador geral do programa de governo de Pimentel, Marco Aurélio Crocco, disse que entre as intenções de um governo petista está a redução das tarifas de energia. Segundo a CM Capital Markets, opiniões como essa exacerbam o chamado "risco político".