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Dólar dispara após Fed sugerir alta mais forte do juro em 2015

17/09/2014 17h42

O dólar disparou 1,3% ante o real nesta quarta-feira e mais uma vez renovou a máxima de fechamento em mais de seis meses. O empurrão nas cotações ocorreu após o Federal Reserve sinalizar um ritmo mais forte de alta de juros em 2015, algo que até então não estava nas contas do mercado.

O Fed aumentou o intervalo para o patamar do juro básico ao fim do próximo ano de uma faixa entre 1% e 1,25% para 1,25% e 1,50%. Além disso, o BC americano melhorou sua expectativa para a taxa de desemprego no país neste ano, apesar de ter reduzido a projeção de crescimento do PIB em 2014.

O Fed até manteve a expressão "período considerável" ao se referir aos juros perto de zero (elemento que centrou os debates do mercado nos últimos dias), mas ponderou que ela é "altamente condicional". Além disso, dois membr os do Fomc - Charles Plosser, presidente do Fed da Filadélfia, e Richard Fisher, presidente do Fed de Dallas - votaram contra a permanência dessa expressão, o que foi interpretado como um sinal de que os EUA estão se aproximando cada vez mais do início da normalização de sua política monetária. Isso porque a dissensão sugere um debate mais acirrado sobre o momento de finalmente se tirar os juros das mínimas históricas próximas de zero, as quais têm vigorado há quase seis anos.

A leitura geral é que o Fed não chegou a mudar seu "plano de voo" para a normalização de sua política monetária, mas se mostrou mais disposto a alterá-la caso a economia permita.

Para o especialista em câmbio da ICAP Corretora, Italo Abucater, a primeira "prova dos nove" ocorrerá quando os mercados não contarem mais com essa injeção mensal de liquidez. "O fim desse programa é o sinal claro de que o paciente está se recuperando. O passo é retirar os aparelhos e depois observar a recuperação", diz Abucater, referindo-se à análise do desempenho econômico que o Fed fará após o fim do programa de compra de ativos.

"No todo, o que parece claro hoje é que há mais apostas de alta de juro para 2015 do que para 2016. Eu acredito que será no primeiro trimestre já, mas certamente deve vir ainda nos primeiros seis meses do ano."

Abucater diz que ainda há risco de as moedas emergentes sofrerem uma onda de ajustes como a vista no ano passado, quando o BC americano sinalizou pela primeira vez a intenção de normalizar sua política monetária. "E aí o fundamento vai voltar a pesar. [As moedas de] países com déficits em transações correntes mais altos, como Brasil e Turquia, podem sentir mais", diz o especialista. "E mesmo o ?carry', que ainda é alto, está diminuindo. Mesmo do lado técnico essas moedas podem sofrer."

O gerente geral de tesouraria do Banco Daycoval, Gustavo Godoy, chama atenção para o patamar do dólar, que hoje superou os R$ 2,36 - mais próximo, portanto, do nível de R$ 2,40, visto pelo mercado como uma espécie de "teto", acima do qual aumentam as chances de intervenções extraordinárias do Banco Central. "Que esse nível chama atenção do BC não há dúvidas, mas o dólar precisa continuar em alta, e isso ainda não me parece algo totalmente certo", afirma.

Diante de um cenário de alta de juros nos EUA no próximo ano, Godoy afirma que a reação do real vai depender em grande medida da mensagem a ser passada pelo próximo governo. "A alta de juros nos Estados Unidos já tende por si só a mexer com os fluxos de capitais. Se isso acontecer num momento em que a desconfiança com o Brasil aumentar, o mercado pode começar a especular sobre a perda do grau de investimento. Isso, sim, provocaria um movimento amplo de saída de dinheiro do Brasil, que empurraria o dólar para níveis há muito tempo não vistos."

No fechamento, o dólar comercial subiu 1,27%, a R$ 2,3576. É a maior nível desde 13 de março, quando a cotação terminou em R$ 2,3640. Essa, aliás, foi a máxima alcançada pela moeda hoje, o maior patamar intradia desde 14 de março (R$ 2,3780).

No mercado futuro, onde os negócios vão até as 18h, o dólar para outubro avançava 0,81%, a R$ 2,3650.

No exterior, o dólar saltava 1,36% ante a moeda da Austrália, 0,68% frente ao peso mexicano, 1,21% contra o rand sul-africano e 0,97% na comparação com a lira turca.