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Mercado pressiona BC e empurra dólar para nova máxima desde março

18/09/2014 18h12

O dólar tornou a fechar em alta frente ao real nesta quinta-feira, renovando por mais uma sessão o maior nível desde março. A cotação, contudo, afastou-se das máximas próximas de R$ 2,38, refletindo um leve movimento de realização de lucros, conforme cresceu a expectativa de uma ação do Banco Central para impedir que o dólar atinja a marca psicológica de R$ 2,40.

Comentários de um diretor do Banco Central ajudaram a aliviar a pressão compradora, por terem sido interpretados como um "lembrete" de que o BC pode agir. O diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, afirmou que o "câmbio é flutuante" e que há um programa para absorver choques mais fortes de volatilidade no mercado. O diretor disse ainda que, do ponto de vista da estabilidade do sistema financeiro, a taxa de câmbio pode ir de um extremo ao outro sem gerar problema.

"Foi um recado", diz o profissional da mesa de câmbio de uma corretora. "O BC deve em breve passar um recado mais claro de que chega de depreciação", disse outro profissional de um banco estrangeiro.

É grande a expectativa sobre se o BC vai reforçar as intervenções no câmbio, especialmente por meio de um aumento das ofertas de swaps cambiais em leilões de rolagem, o que pode ocorrer já nesta quinta-feira. Hoje, o mercado iniciou os negócios sob forte pressão, com o dólar subindo para próximo de R$ 2,38. Operadores comentaram que ontem se esperava que o BC aumentasse os lotes nas rolagens de swap, o que não se confirmou.

Comentou-se nas mesas de operação que R$ 2,40 seria o nível acima do qual o BC intensificaria as intervenções via rolagens. Fato é que no mercado de opções de compra de dólar os contratos com preço de exercício nessa taxa foram os mais negociados hoje. Na prática, isso sugere que, salvo uma ação mais incisiva do BC, o rompimento desse patamar vai detonar mais ordens de compras, que podem levar a moeda rapidamente para R$ 2,5000, próximo alvo dos comprados em opções cambiais.

No fechamento, o dólar comercial subiu 0,29%, a R$ 2,3644. Na máxima, a moeda foi a R$ 2,3769, maior patamar intradia desde 14 de março (R$ 2,3780). No mercado futuro, o dólar para outubro operava em alta de 0,17%, a R$ 2,3710.

"Se ele não fizer nada, o dólar pode ir a R$ 2,50 fácil. Mas se ele atuar, vai mostrar que está atendendo às demandas do mercado. E o que o BC não pode é ficar refém do mercado. O sinal disso é muito pior do que deixar o dólar subir", afirma o profissional da área de câmbio de uma asset.

O BC já enfrentou neste ano pelo menos duas situações semelhantes. No início de junho, a autoridade monetária dobrou de 5 mil para 10 mil a oferta na rolagem de swaps com vencimento em julho, depois de o mercado ter "punido" o real com uma queda de 1,6% num só dia pela expectativa de que o BC retirasse do mercado cerca de US$ 5 bilhões em swaps. Em agosto, a moeda superou os R$ 2,30 e, novamente, o BC aumentou o montante diariamente rolado de 8 mil para 10 mil papéis.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, diz que o BC não reforçou as rolagens ainda por entender que o movimento de depreciação do real está alinhado ao de outras moedas, num quadro de fortalecimento global do dólar. Mas ele pondera que o desempenho mais forte do dólar frente ao real desde a última semana sugere que o mercado tem imposto mais pressão para que o BC reveja a dinâmica de suas atuações.

Na semana passada, o real caiu 4,07% ante o dólar, maior queda semanal desde agosto de 2013, dias antes de o BC anunciar o programa de leilões de câmbio. O dólar australiano recuou 3,62% na semana passada, enquanto o rand sul-africano perdeu 2,99%, a lira turca retrocedeu 2,33%, e o peso mexicano teve baixa de 1,59%.

É preciso lembrar, contudo, que o real teve em agosto uma performance mais forte que seus pares, na esteira do fortalecimento da perspectiva de vitória da oposição nas eleições presidenciais. A moeda brasileira avançou no mês passado 1,38%, o dobro da alta de 0,70% do índice MSCI de moedas emergentes.

O BC rolou hoje os 6 mil contratos ofertados, postergando o vencimento de cerca de US$ 300 milhões em papéis que iniciamente expirariam no início de outubro.

O lote de swaps com vencimento em outubro é de US$ 6,677 bilhões ou 133.540 contratos. Mantido o ritmo de rolagens, o BC deve postergar o vencimento de 96 mil contratos (US$ 4,80 bilhões), deixando vencer, portanto, US$ 1,88 bilhão em swaps.

Dessa forma, a porcentagem dos swaps não rolados sobre o lote total subiria ao fim de setembro para 28%. Em agosto, essa proporção ficou em 11%.

Para o BNP Paribas, a depreciação do real dos últimos dias foi "rápida demais" e é provável que haja uma estabilização ou alta da moeda brasileira à frente.

No acumulado de setembro, o real acumula perdas de 5,05% ante o dólar. O desempenho da moeda brasileira é pior que o do dólar australiano (-4,26%) e do peso mexicano (-1,34%) e até mesmo que o da lira da Turquia (-2,83%), do rand da África do Sul (-3,43%), da rupia da Indonésia (-2,22%) e da rupia da Índia (-0,57%) - países que, junto com o Brasil, integram a lista dos "Cinco Frágeis, nações consideradas mais vulneráveis a reversões nos fluxos de capitais no mundo devido a suas elevadas necessidades de financiamento externo.

O BNP diz que, mesmo considerando a alta global do dólar, o movimento do real parece "muito grande e muito rápido". O modelo do banco indica uma taxa "justa", que considera tanto fatores macroeconômicos quanto de mercado, de R$ 2,276.

"Considerando as taxas de juros locais [o ?carry trade'] e a magnitude do ajuste dos últimos cinco dias, esperamos uma estabilização ou apreciação do real. Mantemos uma posição tática vendida em dólar contra o real, com alvo em R$ 2,280", dizem estrategistas do banco em nota enviada a clientes.