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Dólar dispara e tem setembro mais forte em três anos

30/09/2014 17h47

O dólar até caiu ante o real nesta terça-feira, mas o ajuste técnico num dia sem novidades nos planos doméstico e externo pouco fez para impedir que a moeda terminasse setembro e o trimestre com a maior valorização em três anos.

O dólar de balcão fechou em queda de 0,32%, a R$ 2,4476. No mês, contudo, o salto é de 9,34%, o mais forte desde setembro de 2011, quando a moeda disparou 18,14%. No trimestre, a valorização é de 10,76%, a maior desde o terceiro trimestre também de 2011 (+20,49%). No acumulado deste ano, o dólar sobe 3,84%.

Três anos atrás, o voo do dólar fora ditado pelo medo crescente de um calote da Grécia, que poderia pôr em risco a integridade da zona do euro. A desaceleração da economia global e as medidas impostas pelo governo brasileiro para dificultar a venda de dólares no mercado futuro também pesaram.

O real liderou as perdas frente à divisa americana em setembro, considerando o grupo das 34 moedas mais líquidas globalmente.

E investidores não descartam que outubro seja mais um mês marcado pela apreciação da divisa americana, já que os fatores por trás do movimento deste mês - incerteza eleitoral, expectativa de normalização da política monetária americana e desaceleração na economia chinesa - devem persistir nas próximas semanas.

De certo mesmo, o mercado deve seguir lidando com uma maior volatilidade, em boa parte ditada pela realização das eleições presidenciais em outubro.

Esse vaivém nos preços já tem impactado o apetite de investidores estrangeiros por ativos locais, o que por tabela mexe com o preço do dólar aqui. "O que eu tenho percebido é uma postura de ?esperar para ver' do estrangeiro. Há muita incerteza, e nem um juro de 11% compensa se arriscar agora", diz o economista-chefe para a América Latina do banco ING, Gustavo Rangel.

A volatilidade afeta sobretudo a demanda por operações de "carry trade", em que o investidor toma recursos a juros mais baixos em países como Japão e os aplica em ativos de mercados com taxas mais elevadas, caso do Brasil. Numa conta rápida, quem realizou esse tipo de operação no início de setembro viu seu lucro anualizado ser reduzido a um décimo do esperado caso o dólar tivesse se mantido estável.

O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, concorda que a volatilidade ainda deve marcar os negócios com câmbio no Brasil ao longo de outubro. Mas ele pondera que, à medida que o cenário ficar mais claro - ou seja, quem ganhará as eleições presidenciais -, deve haver alguma acomodação no dólar passada uma reação mais forte.

"O Banco Central tende a manter as intervenções por meio de derivativos. A liquidação desses contratos é em reais, e as reservas ainda oferecem um bom respaldo para esse tipo de atuação", afirma, minimizando as chances de o BC ter de atuar por meio de ofertas de dólares no mercado à vista.

Além das pesquisas eleitorais, o mercado deve operar ainda na expectativa pelas rolagens de swaps cambiais com vencimento em novembro. A leitura é que, com a disparada do dólar neste mês, o BC deve anunciar rolagens que contemplem todo o vencimento daquele mês, que soma US$ 8,84 bilhões. Hoje, são esperados resultados de sondagens do Datafolha e do Ibope para intenções de voto à Presidência da República.

Ontem, o BC fez o último leilão de rolagem do vencimento outubro. Com o aumento da oferta para 15 mil papéis por dia, o BC postergou a expiração de praticamente todo o lote de US$ 6,68 bilhões. Com a venda de US$ 200 milhões em swaps cambiais hoje, a colocação líquida desses contratos ao longo de setembro foi de US$ 4,32 bilhões, ante expectativa anterior de US$ 2,52 bilhões.

O que tem chamado atenção nos últimos dias é o aumento das taxas do cupom cambial (juro em dólar), movimento que ficou ainda mais evidente ontem e que persistiu hoje. Na operação de hoje, o BC pagou prêmio em torno de 10 pontos-base em relação às taxas de vencimentos similares de contratos de cupom cambial negociados na BM&F. Na véspera, o BC aceitou pagar ao mercado um cupom cambial 16 pontos-base acima do de prazo equivalente na BM&F.

Segundo o profissional da área de câmbio de uma asset, os prêmios sugerem que o mercado está prevendo um aumento da taxa do cupom cambial, o que sinalizaria uma expectativa mais fraca para o fluxo cambial nos próximo s meses.

"É estranho, por exemplo, ele [BC] aceitar pagar esses prêmios. Ele poderia fazer um leilão de linhas [de dólares] para baixar as taxas exigidas", afirma. O BC não faz leilão de linhas de dólares, no qual oferta moeda americana co m compromisso de recomprá-la, desde o fim de julho.