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Depois de aumento do juro, bolsa sobe e dólar volta aos R$ 2,40

30/10/2014 14h11

A alta surpreendente da taxa de juros básica da economia, a Selic, ontem, provoca forte reação nos mercados financeiros do Brasil. A sensação geral dos especialistas é que, com a elevação da Selic para 11,25% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central quis dar um "choque de credibilidade", que foi comprado pelos participantes do mercado.

Juros

O efeito da ação do Banco Central por meio da alta inesperada da Selic é captado nesta manhã principalmente pela inclinação da curva de juros futuros. A diferença entre o DI janeiro/2017 e o janeiro/2021 está nesta manhã negativa em 0,16 ponto percentual. Ontem, esse degrau era positivo em 0,17 ponto.

Essa diferença negativa entre os juros longos e os mais curtos confirma que o mercado voltou a considerar que o BC pode ser mais rigoroso agora e abrir espaço para alívio dos juros no futuro. Ou, em outras palavras, encoraja o investidor a diminuir o prêmio de risco exigido para carregar posições de prazo longo. Esse desenho da curva era observado antes das eleições, em meio às apostas de que haveria uma troca de governo e, com isso, um reforço da política econômica mais ortodoxa.

Na BM&F, DI janeiro/2016 opera a 12,16% (11,83% no ajuste de ontem). DI janeiro/2017 tem taxa de 12,17% (11,98%); e DI janeiro/2021 é negociado a 12,01% (12,15%)

Câmbio

Um forte movimento de venda por parte de estrangeiros levou o dólar a uma queda de quase 3% ante o real no fim da manhã desta quinta-feira, na maior desvalorização em mais de três semanas.

Além do efeito de aumentar a atratividade das aplicações em real, o que por si só exerceria pressão de alta sobre a moeda brasileira, o movimento de ontem do Copom tem um efeito mais forte por ser entendido como parte de uma tentativa do governo de recuperar a credibilidade na condução da política macroeconômica.

Às 14h, o dólar comercial recuava 2,48%, a R$ 2,4056. Na mínima, a cotação foi a R$ 2,3933, menor patamar intradia desde 14 de outubro (R$ 2,3899).

Na mínima do dia, a queda foi de 2,97%, maior baixa percentual intradiária desde 6 de outubro, quando o dólar chegou a despencar 3,88% em reação ao desempenho do então candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) no primeiro turno das eleições.

No mercado futuro, o dólar para novembro cedia 2,44%, para R$ 2,4035, após marcar mínima de R$ 2,3940.

O real é a segunda moeda de melhor desempenho ante o dólar hoje, considerando uma lista de 34 divisas, atrás apenas do rublo russo. A expansão de 3,5% do PIB americano no terceiro trimestre, ante expectativa de 3,1%, fracassou em dar suporte ao dólar ante outras divisas emergentes, uma vez que boa parte do crescimento foi ditado por gastos do governo, enquanto o consumo pessoal ficou aquém do esperado.

Bolsa

O Ibovespa tem um dia de valorização. Às 14h, o ganho era de 2,23%, para 52.190 pontos. Os bancos lideram as altas do Ibovespa e, segundo o economista-chefe da Órama Investimentos, Álvaro Bandeira, os papéis reagem aos benefícios do aumento de juros para o setor.

Itaú PN ganha 7,08%, Bradesco PN avança 6,87%, Bradesco ON sobe 6,47% e Banco do Brasil tem valorização de 6,83%.

Esses papéis também faziam parte do "kit eleições", que tem ainda Eletrobras ON em alta de 3,48% e Eletrobras PNB em alta de 2,42%.

Petrobras, que chegou a disparar na abertura e liderar os ganhos do índice, subia menos: a PN ganhava 2,07% e a ON subia 1,48%.

Normalmente, aumentos de juros são vistos negativamente pelos investidores em ações, ao deixar a renda fixa mais atrativa que a variável. Mas a decisão do Copom foi vista como uma das medidas necessárias para corrigir os rumos da economia, que o mercado vinha cobrando da presidente Dilma Rousseff.

Bandeira, da Órama, diz que a notícia pegou o mercado de surpresa, apesar de ter mostrado divisão de voto de diretores técnicos: dois votaram a favor da alta de juros e dois contra. "É importante porque sinaliza um início de ciclo de alta dos juros e o BC mostra que quer restaurar sua credibilidade", diz. Mas o foco, para ele, está no Ministério da Fazenda. "Na verdade, o que precisa ser feito no Brasil é um ajuste fiscal. Com ele, talvez não seria necessário um aumento maior de juros", afirma.

Do lado oposto, Vale PNA leva um tombo após a divulgação de seu balanço do terceiro trimestre do ano. A ação PNA cai 4,19%.