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Divergência nas políticas explica juro alto no Brasil, diz Eichengreen

07/11/2014 17h16

A divergência entre as políticas fiscal e monetária é um dos motivos que podem explicar por que os juros no Brasil são tão elevados, avaliou nesta sexta-feira Barry Eichengreen, professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Ele participou hoje do Encontro de Política Fiscal 2014, na Fundação Getulio Vargas (FGV), promovido pela FGV Projetos.

"O Brasil tem uma combinação diferente do mix dos EUA, mas eu não criticarei a política fiscal brasileira, como o ministro achou que faríamos, e eu imagino que os próximos palestrantes farão", disse Eichengreen, se referindo a uma afirmação que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez na abertura do evento.

No entanto, o professor avaliou que, se o setor público brasileiro fosse um pouco menor, as políticas monetária e fiscal poderiam ser "um pouco mais bem acomodadas". Mas ele considera que o Brasil tem tido "relativo sucesso" na adoção de uma política fiscal contracíclica nos últimos anos,

Eichengreen disse que a desaceleração da economia é um motivo de preocupação. "Agora é o momento em que a política fiscal tem que ser extremamente contracíclica para dar conta do crescimento da demanda", afirmou. Como, no momento, não há muito espaço para estimular a atividade por meio da política fiscal, disse Eichengreen, o Brasil deveria ter se preparado melhor para o período de "chuvas intensas" quando crescia a taxas maiores.

Uma lição que pode ser aprendida do caso brasileiro é qual indicador fiscal deve ser monitorado com mais atenção, se a dívida líquida ou bruta. Para Eichengreen, ambos os indicadores são importantes, já que se o governo tem ativos, é importante levá-los em conta. "Mas no Brasil temos bons motivos para priorizar a dívida bruta", disse.

Outro ponto, afirmou, é a necessidade de tornar o orçamento menos rígido. Aqui, como nos Estados Unidos, disse o acadêmico, a despesa mais flexível é o investimento, que por isso costuma ser cortado em anos ruins, o que torna o ajuste mais doloroso em termos de crescimento. "É preciso tornar o lado da despesa mais flexível, torná-la menos indexada, reduzir salários e pensões, é algo que seria muito positivo não só nos EUA, como no Brasil também".