IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Dólar sobe quase 3% com cenário externo e declaração de Levy

30/01/2015 17h55

O dólar em alta frente ao real, refletindo preocupações com o mercado doméstico e piora do cenário externo. Declarações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, aumentaram os temores de que o governo possa desmontar as ferramentas de suporte à taxa de câmbio. A notícia, somada a uma série de eventos negativo no âmbito doméstico como o rebaixamento do rating da Petrobras pela Moody's e o pior déficit primário do setor público da série histórica, levaram o real a liderar as perdas frente ao dólar.

O dólar comercial subiu 2,99%, encerrando a R$ 2,6889, maior patamar desde 7 de janeiro. Com isso, a moeda americana encerra a semana em alta de 3,82%, acumulando valorização de 1,10% no mês.

No mercado futuro, o contrato para fevereiro avançava 2,15% para R$ 2,662, enquanto o contrato para março subia 2,95% para 2,703.

O dólar chegou a disparar mais de 3%, alcançando o patamar de R$ 2,6914 na máxima do dia, em meio a uma série de ordens de "stop-loss" após declarações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, aumentarem temores de que o Banco Central possa reduzir as intervenções no mercado de câmbio.

A forte alta do dólar no exterior e a "disputa" pela Ptax de fim de mês também adicionaram volatilidade aos negócios.

Lá fora, o cenário de aversão a risco pesou sobre as moedas emergentes. Notícia de corte inesperado da taxa básica de juros na Rússia e maior intervenção política na Turquia ajudaram a aumentar o mau humor dos investidores com os mercado emergentes.

No mercado doméstico, declaração do ministro da Fazenda, Joaquim Levy ajudaram a intensificar a pressão no câmbio.

Ao ser questionado a respeito do que podia ser feito para ajudar as empresas exportadoras neste momento, Levy afirmou, em evento em São Paulo, que o câmbio não é uma variável que se controla facilmente e que o trabalho para melhorar a competitividade dos exportadores é via investimento em infraestrutura, e não por meio de intervenções cambiais.

"Câmbio não se controla tanto assim, não é uma variável macro onde dê para se fazer grandes operações. O que é importante, porque a capacidade de um país ser competitivo está em um câmbio que reflita a força da economia de várias maneiras", afirmou Levy.

A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda procurou o Valor para esclarecer que o ministro Joaquim Levy teve a intenção de reafirmar que a política cambial do Brasil é flutuante e que não haverá grandes intervenções com o objetivo de desvalorizar a moeda. Segundo a assessoria, o ministro não teve o objetivo de dar qualquer sinal a respeito do futuro do atual programa de oferta de swap cambial, nem mesmo de criticar o BC em sua estratégia. A assessoria disse ainda que não havia nas declarações de Levy avaliação de que o câmbio está ou não excessivamente valorizado.

Na dúvida, no entanto, investidores preferiram tomar dólares, por entenderem que as declarações de Levy são mais um elemento que reforça a visão de que o governo pode estar mais disposto a desmontar medidas de apoio à moeda brasileira.

A ausência de sinais sobre a rolagem do lote de US$ 10,438 bilhões em swaps cambiais que vence em março e a sinalização do BC de que pode reduzir o ritmo de aperto monetário têm sido interpretados como sinais de que as autoridades podem estar vendo agora menos necessidade de suporte ao câmbio, devido ao aumento da liquidez após o anúncio do programa de estímulos monetários do Banco Central Europeu (BCE) , que vai injetar pelo menos 1,14 trilhão de euros até setembro de 2016.

Para Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação nacional de Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, o BC não tem espaço agora para reduzir as atuações no câmbio dada a alta pressão inflacionária. "O BC vai evitar dar uma dose maior na política monetária dado o fraco crescimento econômico e , por isso, terá de continuar a intervir no câmbio", afirma.

No entanto, Freitas defende que o BC deve continuar a rolar os contratos de swap que estão vencendo e não deveria renovar o programa de intervenção nos moldes atuais, mantendo a atuação no câmbio quando necessário, sem um prazo definido.

Segundo Freitas, o BC poderá até reduzir o tamanho das intervenções se a maior liquidez no mercado após o anúncio do programa do BCE aumentar o fluxo de investimentos para o Brasil.

O economista também lembra o alto custo fiscal da manutenção do programa da ração diária.

No ano passado, o BC teve um prejuízo contábil de US$ 17,329 bilhões com os ajustes das operações de derivativos cambiais. Neste ano, até o dia 23, o BC estava com ajuste positivo de US$ 15,285 bilhões com o câmbio acumulando uma valorização de 2,62% até então.

O problema é que os analistas preveem uma desvalorização do câmbio, diante de um ambiente de fortalecimento global do dólar. A mediana da previsão dos analistas no último Boletim Focus é de um câmbio a R$ 2,80 no fim do ano. Para Freitas, o câmbio deve fechar o ano próximo de R$ 3.