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Dólar dispara mais de 2% e alcança R$ 2,8391, máxima em dez anos

10/02/2015 14h25

As compras de dólares não dão trégua nesta terça-feira e não só empurraram a moeda americana acima de R$ 2,80 como consolidaram a cotação além desse patamar. Operadores comentam que a alta ganhou força conforme ordens de "stop-loss" (mecanismo que, quando ativado, limita perdas em determinada posição) foram acionadas, levando investidores que estavam preparados para venda de dólares a inverter a posição e passar a comprar moeda.

O real é a divisa de pior desempenho ante o dólar nesta sessão, considerando uma lista das 34 moedas mais negociadas frente ao dólar americano. A forte alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos (Treasuries), que torna as aplicações em dólar mais atrativas, e o recrudescimento das preocupações com a China ditam a valorização generalizada do dólar contra divisas emergentes.

Não bastasse isso, questões domésticas seguem pesando. Crescem as dúvidas sobre a viabilidade das medidas de ajuste fiscal anunciadas até então, em meio a um cenário de risco de aprofundamento das incertezas sobre governabilidade da presidente Dilma Rousseff, que tornaria os ajustes ainda menos prováveis.

Isso sem falar na crise da Petrobras e de chances aumentadas de racionamento de água e energia, que afetariam uma economia que já não deve crescer nada neste ano.

De acordo com o estrategista para mercados emergentes do banco Brown Brothers Harriman, Ilan Solot, em Londres, os ruídos em torno de um impeachment da presidente Dilma ameaçam aprofundar a crise institucional do governo e consolidar a posição enfraquecida da presidente em seu segundo mandato. Para Solot, isso significa que o processo de adoção de reformas econômicas vai desacelerar, elevando a probabilidade de o Brasil ter sua nota de crédito soberano rebaixada.

Solot afirma ainda que muitos dentre investidores internacionais acreditam que o risco de impeachment precisa ser precificado. "Isso será outro item na crescente lista de obstáculos para os ativos brasileiros, que devem continuar sofrendo", conclui o estrategista em nota a clientes.

Fora isso, o mercado coloca mais fichas na ideia de que o governo deixará o câmbio se desvalorizar ainda mais, após declarações do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel. Maciel afirmou que o câmbio mais depreciado "se traduz em maior competitividade" para a indústria brasileira, tanto nas exportações quanto na disputa com os produtos importados no mercado interno. Maciel afirmou ainda que o repasse da variação cambial aos preços é menor do que em "anos anteriores".

A leitura do mercado é que mesmo o risco de repasse do câmbio mais fraco à inflação - elemento que até então desestimulava apostas de um desmonte de ações de suporte ao real - pode estar perdendo espaço, o que reforça avaliações de que uma desvalorização adicional da moeda brasileira é desejada para amparar o comércio exterior.

Às 14h19, o dólar comercial subia 2,01%, a R$ 2,8391.No mercado futuro, o dólar tinha alta de 2,28%, a R$ 2,8485, após máxima de R$ 2,8525. No exterior, o dólar australiano caía 0,33%, o peso mexicano recuava 0,89%, a lira turca cedia 0,92% - chegando a bater uma nova mínima recorde de R$ 2,5069 por dólar -, e o rand sul-africano se depreciava 1,07%.