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Juros sobem com aumento de risco político e dúvida sobre ajuste fiscal

04/03/2015 17h03

Os juros futuros subiram nesta quarta-feira na BM&F. O movimento reflete a piora da percepção de risco em relação ao Brasil diante da tensão entre o governo e a base aliada, o que aumenta o risco da implantação do ajuste fiscal. As taxas dos contratos de DI avançaram, principalmente na parte mais longa da curva de juros, mais sensível aos movimentos de aversão a risco.

O DI para janeiro de 2021 tinha taxa de 12,55% , ante 12,43% do ajuste do pregão anterior, enquanto o DI para janeiro de 2016, que reflete as apostas para a política, tinha taxa de 13,21% ante 13,11% do fechamento anterior.

A alta das taxas também refletiu a busca de "hedge" (proteção) contra posições prefixadas, diante do recrudescimento das preocupações fiscais. A disparada do dólar, que encostou nesta quarta-feira em R$ 3, dá impulso extra aos DIs.

Num claro sinal da maior percepção de risco, a diferença entre o DI janeiro de 2021 e o janeiro de 2017 subiu a -0,27 ponto percentual logo na abertura, maior patamar desde dezembro. Quanto maior esse número, maior o temor com as expectativas para a economia à frente.

Demonstrando insatisfação com a presidente, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - que já havia deixado de comparecer a um jantar oferecido por Dilma na noite de segunda-feira -, devolveu na terça-feira a Medida Provisória 669, intensificando a crise entre governo e base aliada.

O Executivo reagiu enviando ao Congresso Nacional um projeto de lei, com urgência constitucional, mantendo o teor da medida. "Estamos vivendo uma crescente ingovernabilidade. Ainda não acho que isso ameaça o ajuste fiscal, mas claramente torna todo o processo de reorientação da política econômica muito mais demorado e difícil", diz o diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello.

Operadores acreditam que o embate entre as duas Casas - Congresso e Planato - vai dificultar ainda mais a aprovação das medidas fiscais, trazendo um risco de governabilidade para a presidente Dilma. Além disso, a redução nas desonerações da folha de pagamento perde 90 dias de vigência, uma vez que o projeto de lei, se aprovado no período mínimo de 45 dias na Câmara e outros 45 dias no Senado, tem de respeitar a noventena após passar no Congresso.

A preocupação dos investidores é que o avanço das instigações da Operação Lava-Jato dificultem ainda mais as negociações do governo com a base aliada. Há rumores de que os nomes de Renan Calheiros e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ((PMDB-RJ) estariam na lista entregue na terça pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com o encaminhamento dos pedidos de abertura de inquérito contra políticos supostamente envolvidos no esquema de corrupção investigado pela operação.

Para o analista de pesquisa macroeconômica do Barclays, Bruno Rovai, um problema da governabilidade da presidente Dilma poderia dificultar o avanço de reformas importantes para o médio prazo, o que poderia começar a ter impacto na parte longa da curva de juros, mais sensível ao aumento da percepção de risco. "A maior preocupação não é se o governo vai conseguir entregar a meta de superávit primário de 1,2% do PIB neste ano, até porque com o atual crescimento econômico ele não vai chegar nisso. O principal temor é com o risco político e de governabilidade da presidente que trave a discussão no Congresso e impeça o andamento das reformas de médio prazo." Rovai lembra que a dúvida dos investidores é quanto a resposta do senador Renan Calheiros reflete uma postura individual ou do partido.

Para piorar o clima, a tensão em Brasília coincide com o primeiro dia de visitas de representantes da agência de classificação de risco Standard and Poor's (S&P) ao Brasil para começar as avaliações sobre a nota de crédito soberano do país. A implantação do ajuste fiscal é essencial para o Brasil evitar o rebaixamento do rating soberano.

Nesta quarta, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará a decisão sobre o novo patamar da taxa básica de juros. No mercado de juros futuros está consolidada a aposta na alta de 0,5 ponto percentual da taxa Selic, mas há dúvida em relação à sinalização que o BC dará sobre os próximos passos no comunicado a ser divulgado após a reunião. Para analistas, a recente valorização do dólar e as dúvidas sobre a capacidade do governo em implementar o ajuste fiscal pode levar o Banco Central a ter que estender o ciclo de aperto monetário.