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Intenção de contratação do comércio é a menor em 4 anos, mostra CNC

05/03/2015 12h00

A intenção de contratação do comércio em fevereiro atingiu o nível mais baixo em quatro anos, afetada pelo menor ritmo de consumo. É o que informou hoje a Confederação Nacional de Comércio, Bens e Serviços (CNC). A confiança do empresário do setor registrou recorde negativo no mês passado, prejudicada pelo cenário de juros altos, crédito mais caro, elevado patamar de endividamento das famílias, além da ameaça de racionamento de energia e de água.

Para Fábio Bentes, economista da entidade, caso as condições atuais permaneçam, o varejo corre o risco de encerrar 2015 com recuo de vendas. Em sua análise, uma reação na demanda do comércio deve ocorrer apenas em 2016, tendo em vista o atual contexto desfavorável para o setor, com problemas de difícil resolução no curto e médio prazo.

O ambiente pessimista para o comércio, nos primeiros meses de 2015, é mensurado pela trajetória dos indicadores do setor, afirmou Bentes. A confederação anunciou hoje o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), que mostrou recuo de 2,5% ante janeiro e de 14,6% ante fevereiro do ano passado, para 100,6 pontos, o nível mais baixo da série histórica, iniciada em março de 2011.

Um dos tópicos usados para cálculo do Icec é o de expectativas de contratação nos próximos meses, que mostrou queda de 6,5% ante janeiro, e de 10% ante fevereiro de 2014, passando para 104,3 pontos, também o menor patamar da série do índice. "Se o empresário não detectar reação na demanda, ele não faz novos investimentos, nem novas contratações", avaliou o economista da CNC. "O fato é que o pessimismo entre os empresários, em fevereiro, foi generalizado", resumiu ele.

No Icec, a percepção de condições atuais mostrou queda de 1,6% ante janeiro e de 25,8% ante fevereiro de 2014. A expectativa geral teve queda de 3,2% em comparação com janeiro e recuou 10,7% em relação a fevereiro do ano passado. Já a intenção de investimentos teve retração de 1,9% ante janeiro; e de 10% na comparação com igual mês no ano passado.

Segundo o especialista, o fato de não se detectar sinais de reversão da atual conjuntura desfavorável para o consumo vai fazer com que a entidade revise para baixo, pela terceira vez consecutiva, a sua projeção de alta de vendas para o comércio varejista restrito, atualmente em 1,7% ante o desempenho de 2014. No ano passado, o setor já fechou o ano com alta de apenas 2,2%, o pior resultado desde 2003 (-3,7%).

O mais grave, avaliou o economista, é que a falta de reação de demanda pode conduzir a um círculo vicioso na economia este ano. Ele lembrou que, durante anos, a demanda interna foi uma das maiores influências para o fortalecimento da atividade econômica. Mas agora, esse fator parece muito enfraquecido, avaliou ele. "Se a demanda se retrai, o comércio não contrata. E, se não contrata, quem vai salvar o mercado de trabalho, o único [indicador] que mostrava bom desempenho, entre os indicadores macroeconômicos? Eu digo que não será o comércio", afirmou.