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Índice de Confiança da Indústria tem menor nível desde janeiro de 2009

31/03/2015 14h28


A percepção mais clara dos empresários de que a primeira metade deste ano será tão difícil quanto ou até pior do que o semestre anterior provocou um baque na confiança da indústria em março, na avaliação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

Entre fevereiro e o mês atual, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) medido pelo Ibre recuou 9,2%, de 83 para 75,4 pontos. Com esse movimento, o indicador superou três marcas históricas de baixa: atingiu seu menor nível desde janeiro de 2009, quando estava em 74,1 pontos; registrou sua retração mais forte na comparação mensal desde novembro de 2008, período em que caiu 18%; e, por fim, a perda de confiança alcançou todos os 14 gêneros industriais pesquisados, algo que não ocorria também desde novembro do ano do início da crise financeira internacional.

"A situação ruim do setor dura muito tempo", disse Aloisio Campelo, superintendente-adjunto de ciclos econômicos da entidade, para quem o tombo do ICI não foi causado por uma questão específica referente ao último mês. "É como se o setor tivesse expectativas de um primeiro semestre um pouco melhor, mas agora tivesse certeza de que vai ser um período muito difícil", completou, devido a uma série de fatores, com destaque para o nível fraco da demanda doméstica.

De acordo com Campelo, os industriais veem de forma bastante desfavorável não só o ritmo atual dos negócios, mas também as possibilidades de melhora em um horizonte de três a seis meses. Nesse ambiente, a taxa de câmbio em patamar mais depreciado é o único alento com o qual a indústria pode contar, mas, por enquanto, seus impactos ainda não foram percebidos.

Na passagem mensal, o Índice de Situação Atual (ISA) - componente do ICI que avalia o momento presente - diminuiu 10,4%, para 75,3 pontos. A principal influência negativa partiu do grau de satisfação do empresariado com o nível de demanda, indicador que encolheu 16,4% em março sobre o mês anterior e ficou em 67,3 pontos no mês, seu nível mais baixo desde julho de 2003, com percepção de desaquecimento tanto no setor externo como doméstico.

Entre fevereiro e o mês atual, o índice referente à demanda externa teve redução de 4,8%, para 80 pontos. Embora, mesmo com o aumento de insumos importados, o setor se beneficie de forma geral com o dólar mais alto, os efeitos positivos do câmbio depreciado demoram a ser colhidos, disse Campelo.

Já o indicador de demanda interna - que, na opinião do economista da FGV, é o principal problema enfrentado pela indústria no momento atual - diminuiu 14,3% de fevereiro para março, para 67 pontos, com avanço de 28,6% para 37,6% na fatia de empresas que avaliam esse quesito como fraco. "Parece que esse é o maior problema, seja pela competição externa, seja porque o mercado doméstico desacelerou fortemente".

Em relação aos estoques, que também compõem o ISA e cujo índice teve alta de 1% na comparação mensal, para 111,3 pontos, o superintendente afirmou que, de forma geral, o setor continua sem conseguir equilibrar seu nível de mercadorias paradas, mas, no ciclo atual, este não é um problema tão sério.

Segundo a metodologia da FGV, quando a diferença entre a proporção de empresas com estoques excessivos e insuficientes atinge dez pontos ou mais, como agora, a indústria está superestocada. Campelo observou, no entanto, que a piora no mês foi concentrada em três segmentos (bens de capital, não duráveis e intermediários), enquanto outros estão conseguindo calibrar a produção após terem notado perda de fôlego da demanda.

Expectativas

No campo das expectativas, cujo indicador recuou 7,8% entre fevereiro e março, para 75,5 pontos, Campelo destacou quão pessimistas estão os empresários em relação à evolução da situação dos negócios nos próximos seis meses: na passagem mensal, a parcela dos que preveem piora aumentou de 22,9% para 25,9%, enquanto o grupo otimista subiu mais moderadamente, de 19,8% para 20,7%. Em março, o índice referente à situação futura dos negócios, ao cair 12,5%, para 84,8 pontos, se situou abaixo da linha divisória dos 100 pontos pelo terceiro mês seguido.

As previsões para a contratação de mão de obra também são pouca animadoras. Neste mês, o Índice de Emprego Previsto caiu 8,3%, para 85,4 pontos, ficando abaixo de 100 pontos pelo 11º mês consecutivo, trajetória que, para o superintendente, sinaliza que a tendência de redução da população ocupada na indústria deve continuar. "A indústria está tomando decisões de investimento e contratações com base nesse cenário amplamente desfavorável", comentou.

Outro ponto que indica condições menos favoráveis aos investimentos, segundo Campelo, é o aumento da capacidade ociosa na indústria. Na medição da FGV, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) recuou 1,2 ponto percentual entre fevereiro e março, para 80,4%. A retração foi disseminada entre as cinco categorias de uso pesquisadas.