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Bovespa sente pressão da Grécia e fecha em baixa

29/06/2015 18h05


O clima de aversão ao risco que tomou conta dos mercados globais após a Grécia decretar feriado bancário influenciou o comportamento dos ativos na Bovespa nesta segunda-feira. Das 66 ações do Ibovespa, apenas sete encerraram o pregão em alta. Apesar do dia tenso, a bolsa brasileira caiu menos que suas pares internacionais, especialmente as europeias. O destaque do dia foram os papéis da Petrobras, que registraram forte volatilidade e terminaram entre as maiores baixas depois da estatal divulgar seu novo plano de investimentos para os próximos cinco anos.

O Ibovespa caiu 1,86%, para 53.014 pontos, com volume fraco, de R$ 5,072bilhões. "O mercado aqui ficou pesado por causa do clima lá fora, mas não houve um movimento de venda intenso. Não vejo um desembarque de estrangeiros do Brasil nesse momento", afirma o especialista em bolsa da Icap Brasil, Rogério Oliveira.

Nos Estados Unidos, Dow Jones caiu 1,95%, Nasdaq perdeu 2,40% e o S&P 500 recuou 2,09%. Na Europa, as bolsas registraram perdas ainda mais expressivas: o Dax, da Alemanha, caiu 3,56%; o CAC 40, de Paris, recuou 3,74%; e o FTSE 100, de Londres, fechou em baixa de 1,97%. Na China, o índice Shanghai Composite fechou em queda 3,29%. O ChiNext, que reúne empresas de pequena capitalização e que é conhecido como Nasdaq da China, terminou o dia abaixo de 7,9%. Em Hong Kong, o índice Hang Seng caiu 2,61%.

A possibilidade iminente de um calote da Grécia - o país tem que honrar um pagamento de cerca de 1,6 bilhão de euros (US$ 1,7 bilhão) ao FMI até amanhã - ganhou forma neste fim de semana, após o país implementar controles de capital para evitar uma corrida aos bancos. O governo grego também decidiu convocar um referendo no próximo domingo para que a população diga se aceita ou não os termos exigidos pelos credores para conceder ajuda adicional ao país.

Por aqui, investidores e analistas se debruçaram sobre o novo plano estratégico da Petrobras, aprovado na sexta-feira pelo conselho de administração e divulgado hoje cedo ao mercado, após partes do documento terem vazado para a imprensa no fim de semana. Petrobras PN (-3,48%) e ON (-4,09%) chegaram a subir pela manhã, mas terminaram entre as maiores baixas. Os dois papéis responderam juntos por quase 22% de todo o volume da bolsa, ou R$ 1,098 bilhão. "O corte nos investimentos ficou em linha com a previsão do mercado. Mas a Petrobras escolheu o dia errado para divulgar o plano", comentou um operador, referindo-se ao cenário externo turbulento.

A estatal anunciou um corte de 37% na previsão de investimentos para o período de 2015ª 2019, para US$ 130,3 bilhões. As estimativas do mercado oscilavam entre 30% e 40% de corte. Em relatório, o BTG Pactual comentou que o principal desafio para a Petrobras será a execução desse plano, especialmente no que se refere à política de preços de combustíveis.

O banco lembra que a política de paridade com a realidade internacional estava presente nos planos anteriores, mas não era implementada. O BTG lembra que a gasolina está sendo vendida com um desconto em relação aos preços internacionais há um mês. Em relação à previsão de desinvestimentos de US$ 15 bilhões para 2015 e 2016, a meta é considerada positiva pelo banco, mas a execução também é vista como um desafio, "a menos que a companhia aceite vender fatias majoritárias nos ativos que serão desinvestidos".

O diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, disse que o tamanho do corte no novo plano mostra que o conselho de administração está com autonomia para tomar as medidas que julgar serem necessárias para solucionar o problema de caixa da empresa. "Um corte dessa grandeza mostra que a direção da Petrobras está ciente do problema financeiro e com mandato para fazer o que precisa. O corte não é bom, mas é realista", afirmou o especialista.

Segundo Pires, o corte de 37% não resolverá o problema de caixa da empresa, mas "estanca o sangramento". "A solução mesmo para o caixa passa pelo aumento do preço dos combustíveis e de desinvestimentos. Mas não vai ser fácil aumentar o preço da gasolina e do diesel neste ano, porque a inflação está alta e a popularidade da presidente Dilma Rousseff, em baixa", observa.

Entre as maiores baixas do Ibovespa ficaram Gol PN (-5,16%), Oi PN (-4,81%), CSN ON (-4,31%) e TIM ON (-4,29%). Além de TIM e Oi, Vivo PN (-3,17%) também registrou perda expressiva, com a expectativa de aumento de 189% na taxa do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel). Segundo relatório da Citi Corretora, o Ebitda do setor pode cair até 30% por conta do aumento da taxa. A TIM seria a mais afetada, devido à estratégia focada em telefonia móvel. Na Vivo e Oi, as operações de telefonia fixa amenizam a exposição ao Fistel.

Entre as poucas altas do dia ficaram Natura ON (1,40%), Marfrig ON (0,71%) e Gerdau PN (0,64%).