Na crise, RI foca na percepção do investidor estrangeiro, diz Deloitte
A piora no cenário macroeconômico e político, com efeito sobre o mercado de capitais brasileiro, provocou uma mudança de foco na atuação da área de relações com investidores (RI) das empresas, aponta estudo realizado pela consultoria Deloitte em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), divulgado nesta terça-feira.
"Há uma redução na prioridade em expandir a base acionária, este não é mais o cenário hoje. Com a conjuntura dos fatores e desafios que estamos passando nesse momento, claramente esse esforço foi redirecionado para melhoria na percepção dos investidores, especialmente estrangeiros", destaca o sócio da área de auditoria da Deloitte, Bruce Mescher.
Em 2014, ganhar novos acionistas era uma prioridade para 22% dos respondentes da pesquisa, realizada anualmente há oito anos. Esse patamar caiu pela metade, a 11%, no estudo realizado em 2015.
Já a melhora de percepção dos investidores estrangeiros ganhou relevância, passando de 7% a 12% na escala de prioridades dos profissionais de RI, de 2014 para 2015, abaixo apenas da melhoria de percepção do acionista nacional, apontada como ponto prioritário por 15% dos participantes (ante 14% em 2014).
"O grande desafio que a economia coloca às empresas faz com que o profissional de RI tenha papel mais ativo, torna necessário estreitar o canal entre ele e o conselho de administração, para reduzir o ruído de informação aos investidores, diminuindo a lacuna na percepção de valor das empresas", disse Rodrigo Luz, diretor-presidente do Ibri, em coletiva de imprensa durante o 17º Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, em São Paulo.
Segundo a pesquisa, quase 70% dos profissionais de RI entrevistados enxergam uma lacuna entre o valor percebido da empresa pela administração e por analistas e investidores.
Apesar do momento difícil para economia e empresas, o diretor-presidente do Ibri não vê efeitos acentuados sobre a área de RI em termos de demissões. Segundo ele, diferentemente de 2009, quando a crise havia sido antecedida de uma onda de aberturas de capital, com a entrada no mercado de empresas com estruturas de governança frágeis, agora as companhias são mais robustas e têm experiência maior. "Não temos notícias de demissões nas áreas de RI, mas sim de aumento na demanda", afirmou.
Acionista engajado
Ainda de acordo com a pesquisa, apesar da tendência global de acionistas cada vez mais dispostos em influenciar as políticas operacionais e de governança das empresas em que investem, as organizações brasileiras ainda são tímidas em responder à essa expectativa de maior engajamento dos investidores com os conselhos de administração.
Segundo o estudo, 69% dos profissionais de RI consultados - em um universo de 54 respondentes - percebem um forte desejo de engajamento direto com o conselho de administração por parte dos investidores e 61% veem aumento significativo nos pedidos de acionistas para falar diretamente com o conselho nos últimos 12 meses.
Mesmo assim, apenas 16% das empresas participantes do estudo têm uma política relacionada ao contato direto entre conselho e acionistas. De acordo com pesquisa realizada pela Deloitte nos Estados Unidos, naquele país, esse percentual é mais do que o dobro, de 34%.
As áreas de RI das empresas também percebem um aumento no ativismo de acionistas - considerada uma forma mais contundente e engajada de engajamento, que traz demandas e pressões sobre os conselhos. Um total de 47% dos respondentes diz já ter presenciado ação de ativismo, com assuntos estratégicos e a composição e funcionamento do conselhos como principais assuntos levantados por parte do investidores ou grupo de investidores.
A situação não parece ser suficiente para levar as empresas a se prevenirem. Dos que responderam, 43% afirmam que sua empresa não tem planos de fazer uma avaliação periódica de vulnerabilidade em relação a campanhas ativistas por parte de acionistas.
Mescher destaca o papel do profissional de RI para identificar sinais de ativismo. A comunicação indireta, através da imprensa e mídias sociais, já é a segunda forma de percepção de ativismo, seguindo a comunicação direta com o conselho de administração.
"As mídias sociais crescem em importância, e é muitas vezes ali que serão percebidos o primeiros sinais de ativismo, assim como na análise da base acionaria - por exemplo, com o aumento de participação de acionista percebido como ativista", destacou.
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