IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Cenário político azeda, mas Bovespa fecha em leve alta

16/07/2015 17h51


A bolsa brasileira fechou em alta nesta quinta-feira, após um pregão de volatilidade e baixo volume, com o Ibovespa oscilando ao sabor de notícias positivas no exterior e tensões no cenário político doméstico. Pela manhã, o mercado reagiu em alta à aprovação, no Parlamento da Grécia, do plano de austeridade imposto pelos credores para que o país possa receber uma nova ajuda financeira.

À tarde, a bolsa virou para terreno negativo e o dólar disparou com a notícia de que Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF) abriu investigação criminal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por suposto tráfico de influência nacional e internacional em defesa dos interesses da Odebrecht.

Na investigação, o Ministério Público cita que Lula teria a intenção de "influir" em atos praticados por agentes públicos estrangeiros, especificamente os governos da República Dominicana e Cuba. Também menciona que, no último caso, as obras teriam sido custeadas, direta ou indiretamente, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No fim do dia, o mercado voltou para o terreno positivo.

O Ibovespa fechou em alta de 0,32%, aos 53.069 pontos, com volume financeiro de apenas R$ 3,903 bilhões, pouco mais da metade do giro esperado em um pregão normal. "A investigação em torno do Lula tende a agravar o cenário político", observa o diretor da corretora Mirae, Pablo Spyer. "Se encontrarem alguma coisa, pode aumentar a especulação sobre um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Por outro lado, se não aparecer nada, o PT pode ganhar força e conseguir jogar um balde de água fria nessa fogueira do impeachment."

Mais cedo, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), voltou a cutucar o governo, ao afirmar que é a primeira vez na história recente que o governo não tem maioria no Congresso. "O governo finge que tem maioria, e a maioria finge que é governo, mas não é", afirmou.

Para o pemedebista, o governo "não tem a menor capacidade" de assumir sua agenda e comete erros na condução do processo político que tem fragilizado a economia e levado a uma crise. "[O governo] começa a por em risco o grau de investimento do país, que é uma avaliação muito mais do cenário político do que econômico", disse. Por fim, Cunha declarou que o Congresso deverá voltar do período de recesso mais duro com o governo.

As declarações acontecem justamente no momento em que técnicos da agência Moody's visitam membros do governo em Brasília para reavaliar a nota soberana brasileira. A expectativa é que a nota soberana seja cortada em um degrau, mas continue como grau de investimento. As expectativas recaem sobre a perspectiva: o mercado torce para que não seja negativa, o que poderia abrir espaço para um novo rebaixamento no curto prazo, levando o país a perder o grau de investimento.

A Moody's afirmou hoje, em relatório, que a fraqueza da economia continuará a pesar sobre as empresas até, pelo menos, meados de 2016. A agência espera que o PIB do Brasil recue 1,8% neste ano e cresça 1% em 2016. "Investigações de corrupção tem colocado a economia sob pressão, arrastando os setores de engenharia, construção e energia, com efeitos nas indústrias de aço e materiais de construção", afirmou o analista da agência Marcos Schmidt no comunicado.

Entre as principais ações do Ibovespa, Petrobras PN (1,01%), Vale PNA (2,27%) e Itaú PN (0,28%) terminaram em alta, enquanto Bradesco PN (-0,20%) marcou leve baixa. Mas o destaque do dia foi Banco do Brasil ON (-3,25%).

As ações do BB reagiram à informação que o Fundo Soberano está vendendo ações do banco. O Tesouro afirmou, em nota, que as vendas tiveram início no fim de junho para "readequação técnica" da carteira do Fundo, "visando tornar a carteira aderente à conjuntura macroeconômica atual". Ainda segundo o Tesouro, trata-se de "medida prudencial em contexto de política de consolidação fiscal do Setor Público". O Fundo possui mais de 109 milhões de ações do BB.

A lista de maiores baixas do Ibovespa trouxe TIM ON (-3,90%), Natura ON (-3,83%) e Usiminas PNA (-3,48%). Na ponta positiva do mercado ficaram Sabesp ON (5,09%), Smiles ON (4,50%) e Pão de Açúcar PN (3,15%).

Após dois reajustes tarifários em 6 meses, a conta de água e esgoto da Sabesp pode subir de novo para os consumidores da capital paulista. Reportagem de "O Estado de S.Paulo" diz que a companhia quer repassar para a fatura dos clientes paulistanos o encargo de 7,5% da receita bruta obtida na cidade que é obrigada a depositar no Fundo Municipal de Saneamento Ambiental e Infraestrutura para execução de obras.