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Bovespa sente risco de perda do rating e passa a cair no ano

23/07/2015 17h51


A possibilidade de o Brasil perder sua nota de grau de investimento no curto prazo entrou na conta do mercado nesta quinta-feira. As apostas pessimistas ganharam força após o governo anunciar, ontem à noite, um corte maior do que o esperado na meta de superávit primário para este e os próximos anos.

O Ibovespa fechou em baixa de 2,18%, aos 49.806 pontos, com volume expressivo de R$ 7,333 bilhões. O índice registrou sua quinta queda consecutiva, deixou para trás o patamar dos 50 mil pontos e passou a acumular perda de 0,40% em 2015. Somente nesta semana, já recuou 4,84%.

A redução drástica na meta fiscal, de 1,1% para 0,15% do PIB, e a criação de uma espécie de "banda fiscal", em que o governo admite a possibilidade de déficit primário neste ano, foram os motivos do mau humor dos investidores, observado desde ontem, quando os rumores sobre o corte na meta já circulavam nas mesas de operação.

O UBS afirmou que a redução da meta eleva significativamente as chances de a nota de crédito do país ser rebaixada. O economista da casa, Guilherme Loureiro, diz em nota que as metas não são suficientes para estabilizar a relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB) até 2018.

"Enquanto reconhecemos a importância de uma nova e mais realista meta de superávit - os números do segundo trimestre já estavam provando serem muito piores do que o esperado, o que estava nos forçando a reconsiderar o crescimento - acreditamos que as novas metas são muito baixas para sinalizar uma melhora contínua das contas fiscais", afirma Loureiro.

Na visão do UBS, entre as principais implicações da decisão de ontem para o cenário macroeconômico está o fato de as novas metas não serem suficientes para estabilizar a dívida pública do Brasil até 2018. De acordo com as estimativas do banco, o governo precisa de um superávit entre 2% e 2,5% do PIB para estabilizar a dívida, assumindo um crescimento do PIB de 2% nos próximos anos.

"O mercado está embutindo um cenário de ?downgrade' [rebaixamento] do rating soberano. Esse corte da meta fiscal alimenta as apostas de que a nota do país pode recuar dois níveis no curto prazo, o que levaria à perda do grau de investimento", comenta o analista da Clear Corretora, Raphael Figueredo.

A brasileira Austin Ratings foi a primeira agência de classificação de risco a colocar a nota do país em nível especulativo. A Austin cortou hoje a nota soberana em dois degraus, de "BBB-" para "BB+". Embora menos relevante do que as grandes - S&P, Moody's e Fitch - o movimento da Austin já sugere o que pode vir pela frente.

Segundo Figueredo, a análise gráfica aponta que o Ibovespa deve seguir em queda firme pelo menos até os 48.800 pontos. "A inclinação do mercado é claramente de venda. As ações dos bancos, que sustentaram a alta recente do mercado, ainda têm gordura para queimar, o que tende a pressionar o Ibovespa."

Entre as principais ações do índice, Bradesco PN (-4,43%) e Itaú PN (-4,16%) concentraram as perdas, acompanhadas de longe por Petrobras PN (-1,83%) e Ambev PN (-1,07%), enquanto Vale PNA subiu 0,98%, refletindo os dados operacionais divulgados pela manhã.

A produção própria de minério de ferro da Vale atingiu 85,3 milhões de toneladas entre abril e junho, a segunda maior produção da história da companhia e a maior produção da empresa para um período de segundo trimestre. O montante representou uma alta de 7,4% em comparação a igual período do ano passado.

Na ponta negativa do Ibovespa ficaram Localiza ON (-6,94%), BR Malls ON (-6,01%), Estácio ON (-5,76%) e Rumo ON (-5,76%). Na outra ponta resistiram Suzano PNA (4,37%), Fibria ON (3,69%) e Usiminas PNA (3,47%).

Fibria tirou proveito da alta de mais de 2% do dólar e também refletiu seu resultado do segundo trimestre. A produtora de celulose registrou lucro líquido de R$ 611,7 milhões, uma queda de 2,8% frente ao ganho de R$ 630 milhões no mesmo intervalo de 2014. O resultado foi prejudicado pela linha de Imposto de Renda diferido, no valor de R$ 375 milhões. A receita líquida cresceu 36,4% para R$ 2,309 bilhões, beneficiada principalmente pelo aumento dos preços da matéria-prima em dólar e pelo impacto positivo do real desvalorizado.