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Dólar sobe e atinge R$ 3,29, maior cotação desde 19 de março

23/07/2015 17h51


O anúncio de uma redução maior que a esperada da meta de superávit primário para este ano e o corte da previsão do esforço fiscal para 2016 e 2017 abalaram a confiança dos investidores na política econômica atual e levaram o dólar a fechar no patamar mais alto desde 19 de março.

O dólar comercial subiu 2,15%, encerrando em R$ 3,2939. Já o euro avançava 2,90% para R$ 3,6217. No mercado futuro, o contrato para agosto avançava 2,23% para R$ 3,307. O dólar comercial chegou a renovar a máxima no ano, de R$ 3,2941, no pregão intradia, chegando a R$ 3,2986.

O real apresentou nesta quinta-feira a segunda pior performance frente ao dólar entre as principais divisas emergentes, atrás apenas do peso colombiano, após o governo ter anunciado ontem a revisão da meta de superávit primário de 1,1% para 0,15% do PIB para este ano e cortado a previsão de esforço fiscal para 2016 e 2017 , com a meta só atingindo o patamar de 2% do PIB, que seria o mínimo para colocar a dívida pública em trajetória de queda, só em 2018.

"O declínio do real tem se intensificado nos últimos dias com a moeda enfrentando uma tempestade perfeita dada a rápida desaceleração do ritmo de crescimento da economia [frente à queda forte dos preços das principais commodities nas últimas semanas], escândalos de corrupção e deterioração do ambiente externo com o Fed [Federal Reserve, banco central americano] mais perto de subir a taxa básica de juros", aponta o Société Générale em relatório.

Com a deterioração das contas fiscais e o fraco crescimento da economia brasileira, aumentando o risco do país perder seu status de grau de investimento, o banco prevê a possibilidade do real intensificar a desvalorização, com o dólar podendo alcançar o patamar de R$ 3,60 dentro das próximas oito semanas. O banco cita entre as razões para isso a piora do cenário interno, em um ambiente menos favorável para moedas com alto retorno.

Com a rápida desvalorização do real, os analistas veem a possibilidade do Banco Central aumentar a rolagem dos contratos de swap cambial. A autoridade monetária tem renovado 6 mil contratos de swap cambial por dia do lote de US$ 10,675 bilhões que vence mês que vem.

Se mantiver o mesmo ritmo, o BC deverá renovar 56,72% do lote total, inferior à rolagem 70% do lote de swaps que venceu em 1º de julho, com a autoridade monetária buscando reduzir o estoque de US$ 108,182 bilhões nesses instrumentos cambiais.

Para o economista-chefe para a América Latina do ING, um aumento do volume da rolagem agora teria pouco efeito para conter a disparada do dólar. "Aumentar o volume de rolagem, além de não ter muito efeito, seria um retrocesso."

O economista do ING afirma que o dólar ainda tem espaço para subir mais se ficar mais claro que a perspectiva para o rating soberano brasileiro deve piorar. Na semana passada, analistas da Moody's estiveram no Brasil para avaliar as contas públicas. A revisão da meta fiscal aumentou o risco da agência rebaixar o rating do Brasil para grau de investimento e manter em perspectiva negativa. "O cenário político mais complicado também pesa na avaliação do rating e se vier um rebaixamento seguido de perspectiva negativa poderemos ter um ?overshooting' [disparada] do dólar", diz. O economista prevê um câmbio a R$ 3,40 no fim de 2015.

Lá fora, a moeda americana subia frente às principais divisas após a divulgação de dados melhores que o esperado do mercado de trabalho nos Estados Unidos, que reforçaram a expectativa de que o banco central americano deve subir a taxa básica de juros ainda neste ano. A moeda americana subia 0,26% frente ao dólar australiano, 0,44% diante do rand sul-africano e 0,92% em relação à lira turca.