Dados vazados

Tecnologia tem problemas, mas ciberataques também ocorrem por falha humana, diz chefe da Oracle

Beth Matias Colaboração para o UOL, em São Paulo Divulgação
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Alexandre Maioral, presidente da Oracle Brasil, diz, em entrevista exclusiva na série UOL Líderes, que os ciberataques estão crescendo e que as falhas acontecem não apenas nos sistemas, mas também por algum erro ou falha humana durante o processo de utilização da tecnologia.

O executivo também fala sobre a segurança dos supercomputadores da Oracle nas próximas eleições no Brasil, alerta para o momento importante da aceleração da tecnologia e que os projetos da empresa no Brasil contemplam maior diversidade e inclusão.

Ouça a íntegra da entrevista com Alexandre Maioral, presidente da Oracle Brasil, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler os destaques da conversa.

Vazamento de informações

UOL - Quais são os negócios da Oracle?

Alexandre Maioral - A Oracle nasceu em 1977 em uma garagem. O objetivo era participar de uma licitação do governo americano para o Pentágono, que queria ter o banco de dados mais seguro do mundo. A Oracle ganhou. De lá para cá, desenvolvemos, além da parte de banco de dados e segurança, modelos de "nuvem" e automação e as mais diferentes soluções para as empresas.

O Brasil é o sétimo país do mundo em ataques cibernéticos. Qual a vulnerabilidade hoje dos nossos sistemas?

A questão dos ciberataques é iminente e crescente. Existem várias falhas nos sistemas, e muitas dessas falhas em ciberataques ocorrem por algum erro ou falha humana durante o processo de utilização da solução dentro das empresas. Os estudos mostram que, na grande maioria dos casos, alguém deixou alguma porta aberta ou abriu alguma porta para invadir.

Segurança virou a primeira preocupação em todos os negócios, e as empresas investem para diminuir esse impacto no país.

A segurança de dados é uma tendência mesmo entre as médias e pequenas empresas?

As empresas que nascem agora vêm com a questão da segurança no DNA. Vemos empresas muito tradicionais, que deixavam está questão para o fim da fila, priorizando absurdamente porque estão olhando o mercado, o concorrente ou o parceiro sendo atacado e querem se preparar para isso. Os crimes de ciberataque aumentam porque cada vez mais dados são trafegados dentro das redes, e este é um tipo de tesouro.

A Oracle Brasil é assim:

  • Fundação

    1977 (EUA); 1988 (Brasil)

  • Funcionários

    133 mil (mundo)

  • Clientes

    430 mil (mundo); 5.000 (América Latina)

  • Países em que atua

    175

  • Receita global (2020)

    US$ 39,1 bilhões

  • Principais concorrentes (Brasil/mundo)

    AWS, Azure, Google Cloud

Eleição segura

UOL - Em 2020, tivemos atrasos na apuração das eleições. Houve algum problema com o supercomputador da Oracle?

Alexandre Maioral - Esse processo aconteceu no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Eles migraram para uma solução Oracle, mas devido ao atraso na chegada de máquina e nos testes necessários, ocorreram alguns erros. Não foi a nossa tecnologia, mas a falta de testes no ambiente em que estavam trabalhando. O próprio TSE explicou.

Depois disso, acompanhamos e nunca tivemos nenhuma crise de performance ou de segurança dentro dessas soluções. Estamos com o TSE desde 1996. O que ocorreu foi um atraso de chegada de máquinas, porque estava tudo complexo [durante a pandemia] e, diante desse atraso, a decisão foi de colocar sem terminar os testes. Depois que passou, foram feitos os testes, e tudo se regularizou.

Todos os testes foram realizados e teremos eleições tranquilas em 2022?

Exato. Temos um acompanhamento muito de perto, em uma "sala de guerra" no momento das eleições para garantir que não ocorra nenhum tipo de problema com as nossas tecnologias.

Qual a expectativa que o CEO da Oracle tem para o Brasil em 2022 em relação às questões políticas?

Há a expectativa de um reaquecimento forte da economia e de investimentos que estavam muito represados pela insegurança da pandemia. Crises vão existir o tempo todo. Passamos por uma crise de pandemia que ninguém imaginava. Haverá crises econômicas, políticas, e temos que estar mais bem preparados.

Mulheres têm preferência na contratação

UOL - Quais são os projetos da Oracle em 2022?

Alexandre Maioral - Passamos esses últimos meses ouvindo muito e entendendo todas as iniciativas dentro da empresa. Deste processo, um dos pilares que surgiu foi a diversidade e inclusão.

Entendemos que para acelerar uma indústria, que até agora sempre foi muito masculina, precisávamos trabalhar em processos e formas de fazer a equidade acontecer de maneira mais rápida. E a diversidade não envolve só gênero, mas etnia, todas as inclusões.

Criamos uma área dentro de Recursos Humanos e Recrutamento e contratamos uma pessoa que só olha para isso. Ela é responsável por achar talentos femininos, pretos, pardos e todo tipo de diversidade. Queremos ter esse banco de talentos disponível para contratação em momentos de vagas em aberto ou em um momento de promoção.

Qual é a sua opinião a respeito das cotas no momento da contratação?

Acredito que é preciso ter um processo diferenciado. Que tenhamos uma disputa justa nessa questão de gênero. Não trabalhamos com cota em si, mas estamos procurando aumentar a probabilidade de mulheres na empresa.

Por exemplo, em caso de empate das competências entre um homem e uma mulher, optaríamos pela mulher. São alguns processos que estamos criando para poder acelerar essa equidade.

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Crises vão existir o tempo todo. Passamos por uma crise de pandemia que ninguém imaginava. Haverá crises econômicas, políticas, e temos que estar mais bem preparados.

Alexandre Maioral, presidente da Oracle Brasil

IA aprende com os humanos

UOL - A avanço da tecnologia nos últimos tempos tem surpreendido até mesmo os cientistas. Qual a sua opinião a respeito da autonomia da inteligência artificial?

Alexandre Maioral - A tecnologia é o meio para que as coisas aconteçam quem sabe de forma mais autônoma, mais rápida e com menos erros humanos, mas nunca vai deixar de ter as pessoas no centro de tudo. Tudo isso vem para acelerar uma série de processos e formas de trabalhar e dar espaço para que as pessoas se tornem mais relevantes.

Elas terão mais tempo para pensar em coisas disruptivas do que efetivamente mexer no banco de dados.

Mas como fica a questão ética nas decisões da IA?

Quando falamos das soluções da Oracle, não há essa questão ética porque tratamos de soluções regulamentadas, com certificações de segurança. Mas, quem ensina a inteligência artificial, é o ser humano. A IA vai aprendendo e entendendo para poder ter os insights.

E quais os desafios do setor da tecnologia no Brasil?

O maior desafio que hoje as empresas têm é educacional, de novas tecnologias, de conceitos; cultural também porque falamos muito internamente que não adianta ser digital pensando analógico, precisamos da transformação cultural e acredito que nas empresas o maior desafio está nisso.

Hoje há tecnologias que o ser humano ainda não consegue utilizar, por isso, o maior desafio é mudar o "mindset". Para ser digital, precisamos transformar também as pessoas dentro das companhias.

No 5G, dados estarão na "nuvem"

UOL - Na Espanha, a Telefónica fez um acordo com a Oracle para migrar a maioria do seu sistema de dados para a nuvem. Como está essa questão no Brasil?

Alexandre Maioral - As telcos começaram até antes de outras indústrias a correr atrás de inovação, pensar em nuvem, exatamente por isso. Primeiro porque o 5G tem um enorme impacto positivo para todos.

No Brasil, começamos a trabalhar com a Telefónica também. Estão migrando todos os sistemas para a nuvem. E a TIM foi a primeira telco que anunciou que vai desligar 100% os datacenters para levar para a nuvem. E essa nuvem é datacenter Oracle e Microsoft, uma parceria entre as duas empresas.

No dia a dia das pessoas, o que o 5G vai mudar?

O 5G vai trazer produtividade e flexibilidade em uma escalabilidade muito forte para nós porque tecnologias que dependem de infraestruturas e de dados e que não chegam hoje a muitas regiões do Brasil poderão ser utilizadas.

E para terminar... quais foram os conhecimentos aprendidos na experiência de ter um bar marroquino?

Abri o Marroco Bar com um amigo. Foi muito importante porque era muito envergonhado. Aprendi a lidar com todos os tipos de pessoa. Hoje digo para a equipe não adianta você gritar com as pessoas. Se você grita com a equipe, 50% vão correr de você e outros 50% vão correr para você. Quando voltei ao mundo corporativo, aprendi o que é o intraempreendedorismo, de primeiro errar rápido, testar, mudar até dar certo.

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