Juro menor com open banking

Sistema que compartilha seus dados entre os bancos deve baixar juros, diz CEO do BMG

Beth Matias Colaboração para o UOL, em São Paulo Silvia Zamboni/Divulgação/Arte UOL
Silvia Zamboni/Divulgação

Ana Karina Bortoni, CEO do banco BMG, diz acreditar que a chegada do open banking, sistema que compartilha seus dados entre bancos, deverá baixar os juros no país.

Em entrevista exclusiva na série UOL Líderes, a executiva, uma das primeiras mulheres a ocupar o cargo de CEO de uma instituição financeira, fala sobre a missão de popularizar os serviços financeiros, tornando o banco mais "figital" (físico e digital).

O BMG, fundado há 91 anos, é um dos maiores na concessão de crédito consignado no país. Nos últimos dois anos, passa por diversas mudanças, com a criação de produtos para conquistar os clientes de fora do consignado.

A executiva fala também sobre a importância da segurança de dados e sobre investimento em projetos internos para aumentar a diversidade e a inclusão.

Ouça a íntegra da entrevista com Ana Karina Bortoni, CEO do Banco BMG, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler os destaques da conversa.

Juros mais baixos

UOL - As taxas de juros devem cair com a chegada do open banking?

Ana Karina Bortoni - Acredito que ele terá um impacto positivo, porque melhora a concorrência e é possível ter informações mais completas. O cliente começa a ser protagonista das suas informações e pode seguir o caminho que considerar melhor.

Há receio das pessoas em relação ao open banking e à abertura de seus dados?

Não vejo as pessoas mais cautelosas ou receosas. No open banking, os bancos estão preparando suas plataformas para que possam oferecer melhor os serviços.

Acredito que será uma questão de 'aculturamento'. O cliente precisa aprender a usar, entender o seu poder e o seu papel, que é muito importante.

No BMG, fizemos uma parceria com a Quantum, seguindo todas as regras de LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados], para começar a aculturar o cliente neste sentido, de passar seus dados de uma forma segura e melhorar o serviço. Este foi o primeiro passo.

Como funcionará o open banking em relação à concorrência? Os pequenos bancos e as fintechs devem perder mercado?

Haverá uma acomodação do mercado. O principal não é o open banking, mas o cliente entender suas possibilidades. Com isso, ele vai procurar os melhores serviços.

Vejo todos os bancos se movimentando. Quando fazemos uma análise da concorrência, não tem niguém ficando para trás.

O BMG é assim:

  • Fundação

    1930

  • Funcionários

    1.300

  • Clientes

    5,8 milhões (ativos)

  • Faturamento (2020)

    R$ 4,763 bilhões

  • Lucro (2020)

    R$ 381 milhões

  • Principais concorrentes

    Banco Inter e Banco Pan

Aumentam as fraudes

UOL - A chegada do Pix trouxe novas formas de fraudes. Como proteger os clientes?

Ana Karina Bortoni - Com a digitalização, veio a importância de reforçar a segurança. Quanto mais bancos digitais existem, há também mais oportunidades para fraudes.

É importante ter um olhar sobre a segurança. O cliente precisa se proteger no sentido da "engenharia social", não clicar em links desconhecidos, checar o SMS, de onde veio o email. E os provedores —os bancos, as fintechs— devem fazer constantes investimentos e investigações para oferecer as melhores soluções.

Qual sua opinião sobre a Lei Geral de Proteção de Dados?

É extremamente importante. Infelizmente, veja quantos vazamentos de dados já aconteceram. Que bom que a lei veio antes até do open banking, o que permitiu que as organizações se preparassem.

O que os empresários podem fazer pelo Brasil?

Ter um papel importante de protagonista. Não só os empresários, mas todos nós, tanto na conscientização social quanto para olhar temas importantes, como diversidade.

O Brasil está em um momento de incertezas na economia. Qual sua opinião a respeito das reformas do governo?

Estamos vivendo um momento de aumento da volatilidade. E esses são temas [reformas] nos quais devemos ficar de olho e prestar atenção. Mas considerando que somos um banco de 91 anos, que já passou por muita coisa, temos resiliência necessária para enfrentar este período.

Mistura entre mundos físico e digital

UOL - Há algum tempo o sistema bancário está se transformando, atendendo digitalmente e reduzindo as agências. O que mudou no BMG e qual o futuro dos bancos tradicionais?

Ana Karina Bortoni - O BMG tem passado por uma transformação muito forte, deixando de ser um banco de nicho, forte nos canais de franquias e correspondentes, para ser um banco completo, mais digital.

Por isso, dizemos que somos uma fintech de 90 anos: um banco digital novo entrando no mercado com 4,6 milhões de contas.

Nossa estratégia é "figital" [físico e digital]. Há um perfil de clientes para quem o autosserviço é a melhor solução, e outro perfil com a combinação de digital com a oportunidade de falar com alguém, em uma loja real. O "figital" reforça o autosserviço com apoio humano.

Qual é o perfil hoje do cliente do BMG?

O BMG era muito conhecido por ser o banco do consignado. Fomos evoluindo com novos produtos, como cartão de crédito consignado, tendo um público específico com este perfil, como o servidor público, o pensionista.

Com a vinda do banco completo, expandimos par o público "mar aberto", que é o cliente não consignado. Continuamos sendo muito fortes no consignado, mas agora estamos expandindo.

Temos inclusive parcerias com times de futebol, como Corinthians, Atlético Mineiro e Vasco. Apoiamos o torcedor com produtos, cartão, promoções.

Silvia Zamboni/Divulgação Silvia Zamboni/Divulgação

Consignado mais seguro

UOL - O BMG é conhecido como o banco do consignado, mas há no mercado críticas em relação às empresas que oferecem esse tipo de crédito. O que o BMG faz de diferente?

Ana Karina Bortoni - No nosso processo de digitalização, criamos uma formalização segura, com biometria, que pode ser feita inclusive a distância. O cliente consegue ter uma visibilidade muito maior do que ele está assumindo, do produto que ele está adquirindo.

Atualmente, 99% da nossa produção em consignados é feita desta forma. Com isso, temos incentivos de qualidade para os nossos colaboradores. Quem possui um índice de reclamação alto, ou reclamações de primeira e segunda instância, tem penalização nos seus incentivos.

Apesar do crescimento dos bancos digitais, percebemos que muitas pessoas estão ficando para trás, sem acesso aos serviços bancários. Como fazer a inclusão dessas pessoas?

Um ponto importante é que a maioria das contas digitais é gratuita, qualquer pessoa pode ter. Mas precisamos investir na educação financeira para que o cliente realmente entenda as suas possibilidades, que possa se "bancarizar" mais.

O nosso canal digital funciona bem em diferentes celulares. Não requer um aparelho ultrassofisticado para funcionar. É preciso ter esse olhar, preparar um banco digital que funcione em aparelhos diferentes, por exemplo.

O machismo ainda é estrutural

UOL - Houve dificuldades para chegar à liderança por ser mulher?

Ana Karina Bortoni - Se falasse que não tive, estaria mentindo. Lógico que você passa por algumas situações ruins ao longo da sua carreira, porque ainda existe um machismo estrutural.

Isso tem mudado. Gosto muito do fato de as pessoas falarem sobre isso. Quando você fala muito, com o tempo, vem a mudança.

Que bom que eu fiz a minha carreira em uma organização [consultoria McKinsey & Company] que promovia a equidade de gênero. Mas de quantas reuniões eu participei sendo a única mulher da reunião? Quantas situações em que você é a minoria... Isso nunca é simples, nunca é fácil.

Como aumentar a diversidade, principalmente feminina, nas empresas?

Hoje, metade do conselho do BMG é de mulheres. O banco como um todo tem mais ou menos 50% de mulheres, mas ainda há muitas oportunidades. Não estou falando que está ótimo, não. Temos semanas específicas de conscientização, e as nossas pesquisas mostram um impacto positivo. Há um sentimento de pertencimento, de maior inclusão.

Começamos um programa chamado Mulheres em Tech, com a ONG Programaria, para promover um ciclo de palestras no sentido de engajar cada vez mais mulheres em tecnologia.

Existe um caminho para fomentar o empreendedorismo feminino?

Estudar e continuar aprendendo o tempo todo. O que fez a diferença na minha carreira foi o quanto eu estudei. E é preciso ser curioso também.

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