Como escolher fundo de ações

Investidor deve pesquisar sobre o gestor e conhecer o histórico de ganhos ou perdas recentes de cada fundo

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, em São Paulo Olivier Le Moal/iStock

Os fundos de investimento em ações (ou FIAs) são opção para quem quer ter parte do patrimônio aplicado em renda variável. A lógica é parecida com a de um condomínio. Os investidores colocam um valor no fundo e, em troca, ganham uma participação nele, tornando-se cotistas.

Os fundos negociam ações de diversas empresas —hoje, podem chegar a ter cem papéis, graças a recursos tecnológicos. Assim, basta comprar a cota no fundo para ter investido em várias empresas, sem precisar acompanhar individualmente as ações de cada uma delas.

Veja as recomendações para escolher o melhor fundo de ações para você.

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Avalie seu perfil de risco

Antes de mais nada, é preciso avaliar qual é o seu perfil de investidor, ou seja, quanto risco você consegue tolerar. Fundos de ações são investimentos de renda variável, ou seja não dá para saber de antemão quanto o dinheiro investido irá render. Existe inclusive a possibilidade de perdas.

Se não estiver preparado para passar por momentos de instabilidade, os fundos de ações podem não ser a melhor escolha, segundo Pedro Paulo Silveira, economista da Nova Futura Investimentos.

Em 2020, por exemplo, por causa dos efeitos da pandemia na economia global, o desempenho dos fundos decepcionou parte dos investidores. Apenas 45,45% dos fundos de ações livres que terminaram o ano com pelo menos cem cotistas conseguiram superar o Ibovespa (sem descontar as taxas de administração e de performance).

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Investir sozinho ou por um fundo: o que é melhor?

Há vantagens e desvantagens em cada forma de investir em ações.

Se o investidor optar por comprar diretamente as ações de uma empresa, terá mais autonomia para compor sua carteira. Mas terá que se dedicar à tarefa da analisar e acompanhar cada empresa para fazer as melhores escolhas. Além disso, precisa pulverizar o risco, investindo em várias companhias.

Quando investe via fundos, o cotista perde autonomia. Quem toma as decisões passa a ser o gestor do fundo, um profissional qualificado que estuda e avalia, por meio de análises sofisticadas, quais papéis vão compor o fundo. Vem daí a importância de se escolher bem a gestora de ativos.

Mas a gestão profissional dos recursos tem um preço. O investidor paga, anualmente, uma taxa de administração para o banco ou corretora. Alguns fundos também cobram uma taxa de performance, ou seja, caso o gestor consiga resultados acima do esperado, ele também recebe uma porcentagem do lucro. Isso serve para estimular o desempenho dos gestores, segundo especialistas.

Normalmente, o investidor usa a rentabilidade recente do fundo como critério de escolha, mas a estratégia deve ser outra. É preciso conhecer quem é a equipe por trás da gestão, qual é a experiência dos profissionais e por quais gestoras eles passaram. Outra forma de conhecer o trabalho é saber como funciona a estrutura de tomada de decisão, se é de forma colegiada ou concentrada apenas no gestor. Hoje essas informações são de fácil acesso.

Arthur Spirandelli, sócio da Acqua-Vero

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Bolsa brasileira tem poucas ações?

A Bolsa brasileira não ter muitas empresas listadas, quando comparada, por exemplo, à Bolsa dos Estados Unidos. Mas isso não impede que haja grande variedade de fundos de ações no Brasil, porque há muitas combinações possíveis. Os fundos podem variar tanto em relação a quais ou quantas empresas incluir quanto em relação ao volume de ações de cada companhia na carteira.

Esses fatores afetam o desempenho de cada fundo. Em agosto, o fundo mais bem posicionado gerou ao cotista um retorno de 11,25%. Já o pior gerou perdas de 14,75% no período.

Os fundos de ações, que vinham numa sequência de saldo positivo mensal desde fevereiro, registraram em agosto a saída de R$ 176,1 milhões, segundo dados mais recentes da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Essa perda de recursos está atrelada ao desempenho negativo do Ibovespa em agosto, quando acumulou queda de 2,48%. Ainda assim, no ano, os fundos registraram entrada de R$ 9,2 bilhões.

Seja qual for a estratégia na composição do fundo, o objetivo é superar o "benchmark", ou referência, explica o economista da Nova Futura Investimentos Pedro Paulo Silveira. No caso dos fundos de investimentos, costuma ser o Ibovespa.

Cada gestor tem sua forma de trabalhar, com riscos e resultados diferentes. Há, por exemplo, quem prefira um fundo composto por empresas novas, com crescimento e retorno elevados. Outros optam por companhias mais maduras, com valor de mercado reconhecido. Há ainda quem prefira adotar uma estratégia mista, de acordo com a conjuntura que vê pela frente, como de valor, crescimento, proteção da carteira com opções ou futuro.

Pedro Paulo Silveira, economista da Nova Futura Investimentos

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Composição do fundo revela quais os riscos

Especialistas também recomendam analisar a composição do fundo para determinar qual o risco dele.

Há fundos concentrados em algumas empresas, com gestores que geralmente entendem muito daquelas companhias. Mas, se houver um problema, o investidor fica mais exposto, porque todas as empresas podem ser comprometidas. Foi o que vimos, por exemplo, no setor aéreo, com a pandemia.
Julio Erse, sócio da Constância Investimentos

Outro ponto de atenção levantado por ele é que há fundos muito alavancados. Ou seja, o fundo movimenta um volume financeiro superior ao seu patrimônio líquido. Isso aumenta o risco do fundo.

Fundos de investimento em ações alavancados podem expor o investidor a um montante maior do que ele aplicou. Por exemplo, seu desembolso foi de R$ 100, mas o fundo usa algum derivativo para expor o cliente a R$ 150, R$ 200. Isso faz com que o risco do fundo seja muito maior, o que pode levar o cotista a ter um prejuízo. Não sou contra, mas é bom que se tenha em mente quais são os riscos.

Julio Erse, sócio da Constância Investimentos

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Olho no longo prazo

Num ano de tantas turbulências como foi 2020, o que se viu foi um comportamento de extremos entre os fundos de ações. O fundo com melhor desempenho teve uma alta de 56,7% (um fundo atrelado a ações brasileiras).

Na outra ponta, o fundo com pior desempenho gerou perdas de 45,38%. Para efeito de comparação, o Ibovespa subiu 2,92% em 2020.

Apesar dos resultados tão díspares, Ítalo Palácio, sócio e assessor da Aplix Investimentos, observa que não se deve olhar o desempenho do fundo apenas no último ano, porque esse pode não ser o retrato real do seu potencial, e sim uma foto de um determinado intervalo de tempo.

Palácio prefere fundos com um desempenho intermediário, um pouco acima da média —nem no topo nem na lanterna da lista em termos de rentabilidade. Esses fundos, segundo ele, costumam ter um comportamento consistente por vários anos.

Analisar apenas o resultado do último ano costuma ser uma das falhas mais comuns. Normalmente esses fundos acabam sendo os piores no ano seguinte. É muito difícil o melhor fundo ter a mesma consistência nos períodos seguintes. Porque, para ter sido o melhor fundo, geralmente ele tomou mais risco. Minha sugestão é olhar para uma janela de pelo menos cinco anos.

Ítalo Palácio, sócio e assessor da Aplix Investimentos

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Quanto aplicar em fundos?

Não existe uma regra sobre quanto do seu dinheiro você deve aplicar em um fundo de ações. Silveira lembra que, como os perfis das pessoas são diferentes, não é possível definir uma fatia ideal que se aplique a todos. Há aqueles que começam com 10% da carteira, outros com 90% e ainda há quem tenha 100% em fundos, diz.

Já Spirandelli adota como modelo o investimento de até 15% do patrimônio em ações (orientação que varia segundo o cenário econômico e político) para quem tem o perfil moderado e de 20% para os arrojados.

Independentemente do percentual investido ou do número de fundos selecionados, o investidor deve constantemente buscar informações sobre as gestoras, diz Igor Cavaca, gestor de Investimentos da Warren.

Pesquisar quem são os gestores e a casa, além da estratégia que está por trás de cada um dos seus fundos, deve fazer parte da lição de casa. O investidor também precisa ficar atento para ver se esses gestores vêm fazendo aquilo que tem falado. Hoje há muita informação em diferentes plataformas, como o YouTube.

Igor Cavaca, gestor de Investimentos da Warren

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