IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Todos a Bordo

REPORTAGEM

Mistério no ar: Avião com soldados dos EUA completa 60 anos desaparecido

Um Lockheed Constellation da Flying Tiger Line, similar ao que realizava o voo 739 e desapareceu a caminho do Vietnã - RuthAS/WikimediaCommons
Um Lockheed Constellation da Flying Tiger Line, similar ao que realizava o voo 739 e desapareceu a caminho do Vietnã
Imagem: RuthAS/WikimediaCommons

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/03/2022 11h19

No dia 16 de março de 1962 desaparecia sobre o oceano Pacífico o voo 739 da Flying Tiger Line. Esse era um voo especial que levava 107 pessoas a bordo, sendo 11 tripulantes civis e 96 militares (93 dos Estados Unidos e três do então Vietnã do Sul).

Esse sumiço é um dos maiores mistérios da aviação, e completa 60 anos nessa quarta-feira (16).

Os militares viajavam para lutar na Guerra do Vietnã (1955-1975), conflito fortemente atacado pela opinião pública e um dos mais longos nos quais os Estados Unidos já se envolveram.

A operação de busca é considerada uma das maiores de todos os tempos, com 520 mil km² de área vasculhada em busca do avião.

Até hoje, o Lockheed Constellation e seus passageiros não foram encontrados. Isso gerou, inclusive, teorias da conspiração sobre seu desaparecimento.

Escalas antes do sumiço

O voo 739 decolou da base aérea de Travis, na Califórnia (EUA), no dia 14 de março de 1962 com destino a Saigon (atual Ho Chi Minh), no Vietnã. Ele foi operado pela Flying Tiger Line, uma empresa que realizava voos de carga e fretamento para transporte militar nos Estados Unidos.

O avião, um Lockheed Constellation, inicialmente fez uma escala técnica em Honolulu (Havaí). Ali foi realizado o reabastecimento e a manutenção para reparar pequenos problemas encontrados na aeronave.

Em seguida, partiu para a ilha Wake, território dos EUA onde há uma base militar daquele país. Os passageiros foram vistos pela última vez na próxima escala, feita Guam, também território dos EUA.

Após reabastecer, o voo partiu para a base aérea de Clark, nas Filipinas, última parada antes do Vietnã, mas jamais chegaria ao destino.

Mistério sobre o mar

Após a decolagem de Guam, foram feitas algumas comunicações via rádio entre a tripulação do voo 739 e as equipes de controle de voo. Na última delas, realizada alguns minutos após a decolagem, foi informado que o avião estava a 450 km da costa do território.

Cerca de uma hora depois, naquele dia 16 de março de 1962, era aguardada uma nova comunicação via rádio para informar a posição do avião, mas isso não ocorreu. As equipes de rádio em solo passaram a tentar o contato com o voo 739, mas não conseguiram.

Diante da ausência de comunicação, a aeronave foi declarada desaparecida, dando início a uma megaoperação de busca.

Guerra do Vietnã e especulações

O desaparecimento sempre foi cercado de mistério e acompanhado de perto pela mídia à época, que observava os desdobramentos da Guerra do Vietnã. Uma das condições mais estranhas para o sumiço foi o fato de que o clima estava bom, com céu claro e mar calmo naquele momento.

Por isso, especulou-se que o Lockheed Constellation foi alvo de uma sabotagem a bordo. Isso era atribuído às fortes críticas à guerra, que teria favorecido um suposto plano para evitar que o avião chegasse ao seu destino.

Foi detectado que, nas escalas anteriores ao desaparecimento, o avião ficava em locais cuja segurança permitia que alguém de fora tivesse acesso a ele. Entretanto, nada foi comprovado.

Essa tese ainda foi reforçada à época pelo relato de tripulantes de um navio naquela região de que foram vistas luzes vindas do céu e, em seguida, caindo no mar. Em operações normais, o avião não teria como explodir daquele jeito, e acreditava-se que algo violento e repentino teria acontecido, já que a tripulação do voo sequer teria tido tempo de comunicar uma emergência.

Entretanto, nunca foram encontrados destroços na região onde a equipe do navio relatou ter visto as bolas de fogo caindo do céu.

Outra teoria é de que o voo teria sido sequestrado. Mas até hoje não há nenhum indício de que isso tenha ocorrido e ninguém reivindicou a autoria desse possível crime.

As investigações concluíram que o mais provável é que o avião foi destruído ainda em voo, mas que, devido à falta de qualquer prova, não é possível determinar o que aconteceu de verdade com o 739.

Memorial

739 - Facebook/Wreaths Across America - Facebook/Wreaths Across America
Memorial em homenagem aos 93 militares e 11 tripulantes civis do voo 739 da Flying Tiger Line
Imagem: Facebook/Wreaths Across America

Os militares e tripulantes civis que perderam a vida durante o voo com destino à missão secreta no Vietnã foram homenageados nos EUA com seus nomes inscritos em um memorial. Após anos de luta para que os nomes fossem incluídos no monumento dedicado aos veteranos da Guerra do Vietnã, em Washington (DC), os parentes dos desaparecidos conquistaram um monumento próprio.

Segundo os organizadores do espaço, o nome dos integrantes do voo não foram inseridos no memorial localizado na capital dos Estados Unidos devido à falta de informações sobre a missão que estavam cumprindo naquele dia, o que não permitiria enquadrá-los na homenagem feita pelo governo aos seus soldados.

Por isso, apenas após mais de cinco décadas, uma organização particular de apoio a veteranos conseguiu inaugurar junto aos familiares um monumento próprio.