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A busca por investidores pode matar a start-up

José Dornelas

Colunista do UOL

16/02/2015 06h00

Um dos grandes desafios para empreendedores em fase inicial em qualquer negócio é conseguir angariar os recursos necessários para colocar a empresa em funcionamento. Mas o foco exagerado nessa atividade pode causar um efeito colateral de alto risco para o negócio.

No caso de negócios considerados tradicionais ou pouco inovadores, a principal fonte de recursos para iniciar a empresa vem do próprio empreendedor, sua família e pessoas próximas a ele. E isso ocorre no mundo todo de maneira muito similar.

Já quando falamos de negócios inovadores, como os ligados às áreas de tecnologia da informação, por exemplo, o objetivo de todo empreendedor é conseguir um investidor pessoa física, conhecido como investidor-anjo, ou obter dinheiro de um fundo de capital de risco.

Essas histórias de busca de dinheiro acabam ficando conhecidas na mídia e criam uma sensação de que o grande objetivo de qualquer start-up é conseguir o primeiro investimento de capital de risco. Mas são raras as empresas que conseguem. A maioria fica pelo caminho.

Porém, poucos empreendedores de negócios inovadores sabem que esta busca incessante por capital pode matar a empresa. Isso ocorre porque tais fundos de investimento ou mesmo os anjos investem de maneira muito seletiva, na proporção de 100 para 1.

Isso significa que de cada 100 negócios analisados apenas 1 tem o potencial real de receber aporte. E, às vezes, mesmo após inúmeras análises e reuniões com os empreendedores, o recurso do capitalista de risco acaba não sendo alocado na empresa.

Como todo negócio em fase inicial tem recursos limitados e uma equipe enxuta, o empreendedor à frente do negócio não pode se dar ao luxo de “apenas” buscar dinheiro para a empresa. Ele precisa ficar na linha de frente das vendas e contatos com os clientes chave.

Trata-se de um dilema, uma vez que sem dinheiro a empresa não funciona e sem vender e testar seu modelo de negócio fica difícil conseguir investimento. O que fazer?

Talvez valha a pena o empreendedor criar uma estratégia que vise o crescimento do negócio, mesmo que de maneira mais lenta, mas com vias de se obter resultados concretos de validação do modelo de negócio.

Assim, ele terá mais chances que apenas 100 x 1 e poderá ser ouvido e ainda negociar com mais fundos ou investidores pessoa física.

Uma sugestão que fazem aqueles que já passaram por esta situação é bastante simples e eficaz, mas difícil de mensurar. Não aguarde pela obtenção de um produto 100% perfeito!

Leve o produto bom (e não o ótimo) ao mercado, sinta a reação dos clientes e teste seu modelo de negócio (como vender, por quanto e como cobrar) para identificar qual valor você está proporcionando.

Enfim, não foque exageradamente na busca de investidores no início, mas também não invista tempo demais na obtenção do primeiro produto viável para o mercado. O equilíbrio, uma vez mais, parece ser a receita adequada.

Infelizmente, não há regras claras para serem seguidas. A dica final é você buscar conselhos diretamente com outros empreendedores e conhecer como eles fizeram, onde erraram, o que acertaram etc. Assim, você estará mais apto para tomar as próprias decisões.