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Formas de o Estado promover o empreendedorismo em tempos de crise

José Dornelas

Colunista do UOL

16/03/2015 06h00

Diz o ditado que é na crise que grandes oportunidades podem ser identificadas e, com isso, muitos empreendedores criam negócios que se tornarão sucesso em alguns anos. Mas, além do empreendedor, o que os governos podem fazer para estimular o empreendedorismo?

Essa questão sempre vem à tona quando o país precisa retomar o desenvolvimento econômico, pois no sistema capitalista são os empreendedores e suas empresas que movem a economia, criam empregos, geram renda, pagam impostos etc.

Ao observar as iniciativas de promoção do empreendedorismo no Brasil nos últimos anos, muitas delas podem ser consideradas bem-sucedidas, principalmente as que se referem ao ensino do empreendedorismo nas universidades, algo já bem disseminado no país.

Outras, porém, carecem de estudos mais profundos e de uma análise englobando longos períodos para poder ser bem avaliadas. O interessante é que várias iniciativas empreendedoras que desenvolvemos por aqui foram inspiradas em experiências americanas.

Não por acaso, o país com o maior desenvolvimento econômico do planeta tem no empreendedorismo o seu talismã para retomar o crescimento, que foi desacelerado nos últimos anos.

Um estudo recente publicado pela Fundação Kauffman nos EUA apresenta o que os pesquisadores consideram como linhas mestras para a promoção do empreendedorismo naquele país, com vistas a retomar o crescimento econômico por vários anos.

Nossos governantes deveriam, no mínimo, ler o relatório, pois traz alertas para as atividades de promoção do empreendedorismo que são perfeitamente aceitáveis aqui no Brasil. Algumas verdades tidas como "imexíveis" por aqui são confrontadas sem rodeios por lá.

Uma delas é o estímulo às incubadoras de empresas. Historicamente, as incubadoras têm sido um modelo de promoção do empreendedorismo no Brasil, que foi inspirado na experiência americana, entre outras.

O problema identificado pelos americanos é na pouca escalabilidade do modelo, por não atender muitos empreendedores.

Em tempos de recursos escassos, eles recomendam mais ações práticas, que promovam encontros com empreendedores em suas regiões e não necessariamente o investimento em infraestrutura para a instalação de startups.

Um resumo do que eles recomendam:

- Facilitar eventos catalíticos que possibilitem os empresários se reunir para aprender e se conectar;

- Reinventar os fundos públicos de risco (subvenção e outros) de forma que distribuam vários pequenos investimentos e envolver os empresários locais na seleção dos contemplados;

- Reorganizar as incubadoras existentes ao longo de um formato holístico que integre empresas incubadas, outras startups locais e experientes empreendedores locais;

- Identificar e celebrar os empresários locais bem-sucedidos;

- Rever a burocracia para a redução de barreiras legais para a criação de startups;

- Simplificar os códigos fiscais e sistemas de pagamento;

- Repensar acordos de não concorrência...

Será que tais recomendações cabem apenas para a realidade americana? O que você acha?