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Desistir de um negócio é também um ato empreendedor

Marco Roza

Colunista do UOL

09/07/2014 06h00

Muitos empreendedores fixam a existência de suas empresas em escritórios bem montados e bem localizados, com computadores de última geração e cartões de visita envernizados.

É da nossa natureza, por sabermos, intuitivamente, que qualquer organização é uma abstração. Só é viável pelo resultado das relações que cada um dos elos da cadeia produtiva (fornecedores, empregados e clientes) estabelecem entre si.

Por isso, nos convencemos que para manter a “empresa aberta” é necessário que sejamos hábeis em gerenciar os relacionamentos com a cadeia produtiva, instável e líquida, que nos sustenta.

O que nos obriga a participar de travessias inseguras todos os dias. Rumo a uma reunião que pode nos levar, quem sabe, a um acordo comercial. Que, por sua vez, pode nos aproximar de um contrato. Ou não.

Cada dia exige, portanto, fé e persistência. E apesar dos engarrafamentos, dos gastos com restaurante e estacionamento, o negócio que era quase garantido, se esvai. O contrato, prestes a ser assinado, é adiado. Os ganhos que nos manteriam de portas abertas por mais um mês ou um ano se transformam em perdas e frustrações.

É hora, pensamos, de aceitar o conselho daquele parente funcionário público, e desistir. Principalmente porque ele (ou ela) exala vitórias depois de décadas de empenho em empregos frutos de ótimos concursos públicos. A ponto de ter acumulado uma sobra que nos emprestou, a qual ainda não conseguimos pagar.

Seu parente pode estar certo e você errado. Mas antes de jogar a toalha definitivamente tente ganhar mais um dia ou dois. E invista parte dessas horas para incluir seus principais erros e derrotas no seu plano de negócios inicial.

É um excelente exercício. Pois ao incluir suas falhas e ter a ousadia de registrá-las com o propósito de começar tudo de novo, você perceberá todos os desdobramentos positivos, os enganos, acertos e as frustrações embutidas na sua aventura empreendedora.

Com esse exercício, que exige coragem e determinação, você terá produzido e dirigido um minidocumentário a respeito de sua própria organização. E, ao assisti-lo de fora, na solidão de suas noites, reavaliará, com neutralidade, as suas chances futuras.  Terá condições, então, de decidir, serenamente, se deve ou não fechar o negócio.

Porque tanto a decisão de fechar quanto de abrir uma empresa é um ato empreendedor. Requer serenidade para evitar que fiquemos presos para sempre a decisões adotadas, precipitadamente, nas travessias nebulosas.