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Duvidar diante de qualquer certeza aumenta a chance de sobrevivência

Marco Roza

Colunista do UOL

24/09/2014 06h00

Acreditamos ser treinados, desde os tempos ancestrais, a nos focarmos nas certezas imediatas. Ou a caça escaparia ou teríamos virado caça nas savanas e florestas que habitávamos.

Quando assumimos o controle dos nossos empreendimentos buscamos, intuitivamente, gerenciar a partir de degraus de certezas.

Por mais que percebamos a fluidez que interfere na cadeia produtiva, com incertezas de todo tipo nos fornecedores com oscilações imprevistas na entrega dos insumos, no cotidiano do nosso operacional e, especialmente, nas infidelidades de nossa clientela, ainda assim acreditamos que os acertos se repetirão indefinidamente.

Até que um incidente qualquer nos escape ao controle e a empresa desanda. Um fornecedor que não aparece com os insumos. Um profissional de nossa equipe que falha. Uma clientela inteira que nos abandona. Um empréstimo que vence e não conseguimos honrar. São tantos os imprevistos que depois de sobrevivermos por determinado período nos indagamos como é que foi possível surfar diante de tantas dificuldades.

Talvez ao refletirmos sobre essas incertezas que fazem parte do nosso dia a dia gerencial nos convençamos da necessidade de duvidar, sempre, de nossas certezas imediatas, de curto e médio prazos.

É uma tarefa difícil. Porque, aparentemente, vai contra nosso condicionamento ancestral. Mas sempre que formos colocados diante de alguma proposta gerencial que pretenda repetir ou ampliar algum acerto, seria conveniente ligarmos nossos alertas.

Eles deverão ser sempre considerados como estágios intermediários essenciais à consolidação dos projetos que tocamos. Etapas que devemos aprender a alinhar no fluxo das tendências macroeconômicas e das necessidades da clientela e que determinarão quais respostas gerenciais serão premiadas (ou não) com a lucratividade buscada.

Aprenderemos, quem sabe, que para conduzir um empreendimento devemos harmonizar as pequenas certezas de curto prazo com os fluxos que as realimentam.

O que nos obrigará a gerenciar as pequenas (e curtas) certezas cotidianas sem perder nosso olhar nas tendências, de toda ordem, a médio e longo prazos.

Entenderemos, assim, que nossos ancestrais muito provavelmente sobreviveram por terem assimilado o equilíbrio entre o fluxo e a certeza. Pois quanto mais nos antecipássemos naquela época às intenções dos ataques das feras e organizássemos nossa fuga, mais chances de sobrevivência teríamos. Sobrevivência que tentamos reproduzir, hoje, na condução de nossos empreendimentos.