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Que atitudes adotar para dar a volta por cima

Marco Roza

Colunista do UOL

19/11/2014 06h00

A sequência é mais ou menos a seguinte: uma alma inquieta e acima da média consegue um ótimo emprego; expande-se rapidamente para além dos limites da função, assimila a visão gerencial do segmento e do negócio, demite o patrão e abre o próprio negócio. E toma o primeiro grande tombo de sua vida.

É quando vê escapar pelos dedos os grandes parceiros e seus eufóricos projetos. Lá se vai o carro do ano para quitar dívidas de honra.  Desaparecem as reservas e os amigos.

E você, que resiste o quanto pode a se reconhecer falido, recita Carlos Drummond de Andrade na sua oração noturna: “E agora José?”

Agora é hora de fazer o plano de negócios para dar a volta por cima. Não é fácil. Porque exige alta dose de humildade, dificílima para quem estava numa curva ascendente, aparentemente.

Mas, ao avaliar os amigos, aliados e parceiros que deixam um enorme deserto emocional ao seu redor, você, mais uma vez inspirado em Drummond, verá com clareza as pedras que sempre estiveram no meio do caminho.

Descobrirá num aliado ou outro que te resta, na confiança irrestrita de seu cônjuge e no afeto respeitoso de seus filhos ou pais, que perdeu o pé do negócio por ter investido grande parte de seu capital para jogar para a plateia.

Agora entende por que o carrão era tão necessário, assim como os restaurantes sofisticados e as joias que ostentava. Pedras brilhantes que você pendurou no balanço de sua organização. Como se sacasse vaidade adiantada do lucro da empresa que, infelizmente, não se realizou a tempo.

Sua sorte é que todo falido que se prepara para dar a volta por cima amplia sua visão de mundo. Também, pudera. Agora tem tempo para remoer as alternativas que o teriam salvo se ouvisse mais do que falasse.

Ao se recolher mais cedo, sem dinheiro para financiar os encontros caríssimos com a plateia que, agora, nem sequer o registra fora do palco dos negócios, o empresário que reconstrói seu retorno ao controle da próxima empresa é sereno, desconfiado, cuidadoso. Avalia as pessoas à medida que se provam agregadoras de valores, não mais pelas mirabolantes ofertas que lhe induziam a investir.

Aos poucos, falido, descobrirá outra qualidade essencial para sobreviver no mundo dos negócios: a sorte chega para quem se prepara, com muita dedicação e trabalho pesado, para aguardá-la com paciência.

E aos pouquinhos garimpará talentos, muitos tão caídos que nem você, para moldar um novo empreendimento. Que já trará o plano de negócios de como dar a volta por cima no próximo tombo, que ocorrerá. E a exemplo dos monges budistas adotará como lema: "A melhor oração é a paciência".