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'Não leve a mal, mas são só negócios'

Marco Roza

Colunista do UOL

26/11/2014 06h00

É comum em filmes violentos, quando há desentendimento entre os participantes das organizações (criminosas ou não) que, no ajuste de contas, surja a frase: “Não leve a mal, mas são só negócios”. A expressão justificaria as ações agressivas, a demissão de um profissional ou a tomada de controle hostil de uma empresa.

A frase se repete nos mais diferentes contextos de ruptura porque deve ter uma boa parcela da população, em vários lugares do mundo, que realmente acredita que o mundo dos negócios é um ambiente brutal, sem nuances emocionais. Um lugar destinado aos fortes, impávidos, cruéis.

Mas esse é mais um super clichê que o empreendedor de primeira viagem descobrirá de pouca valia no seu dia a dia como gestor do próprio negócio.

Ao contrário das figuras que se apresentam como determinadas e implacáveis, gerenciar um empreendimento rumo à sobrevivência exige muita calma, muita paciência e um jogo de cintura de fazer inveja aos campeões de bambolê.

Nas raras ocasiões em que o novo empreendedor puder usar toda a sua fúria para “executar” um contrato, se já tiver adquirido um mínimo de visão estratégica do seu negócio, apostará na gentileza, para gerar gentileza em prováveis disputas no futuro.

Porque na vida real não existem os personas de cinema que são construídos para mostrar ao público as diferenças nítidas entre o bem e o mal, entre o mocinho e o bandido.

Aqui, fora da tela, na batalha diária para manter as portas da empresa abertas, raramente existem negociações com termos implacáveis. Pois mesmo os eventuais conflitos (e existem muitos) se transformam em obstáculos que geralmente são contornados para se confirmar e manter relacionamentos perenes.

É assim que se constrói, aos pouquinhos, a confiabilidade da empresa e transforma seu gestor, também aos pouquinhos, num líder do seu setor. Porque é a respeitabilidade da empresa que pode torná-la, eventualmente, uma “durona” nas negociações com seus fornecedores.

Mesmo assim só depois de ter desenvolvido uma cultura organizacional que seja aceita, consensualmente, por todos os agentes envolvidos na cadeia produtiva que a empresa esteja inserida.

Nesse caso, o rigor reforça o estilo, a seriedade, a competência da organização. Muito longe, portanto, da brutalidade da frase “Não leve a mal, mas são só negócios”.