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O que rituais da cerimônia do chá ensinam sobre relacionamento com clientes

Marco Roza

Colunista do UOL

25/02/2015 06h00

Muitas vezes o sucesso de um negócio está na entrega ao ritual de nos relacionar com a clientela. Quem me chamou a atenção para os rituais com a clientela como determinantes no sucesso de um novo negócio (mais do que o acerto da vinculação da mercadoria ou serviço com o nicho de mercado), foi meu guru João Célio Brandão, professor aposentado da PUC-Rio.

O professor João Célio criou um pequeno paraíso em torno de sua residência em Juiz de Fora (MG) e é lá que recebe os amigos e discípulos (que me incluo) para algumas reflexões.

O tema que discutiu comigo, numa das raras vezes que tem tempo para nos dar uma atenção individualizada, foi o prazer de ver a competência sendo exercida nos atos de compra, venda, negociação.

“É como se percebêssemos, em cada relacionamento do lojista com o cliente, do fornecedor com o lojista, do cliente com vendedor, o pano de fundo de um ritual, que optasse, permanentemente, pela competência”, me disse. Essa ideia me remeteu, posteriormente, às cerimônias do chá, comuns nas culturas chinesas e japonesas.

Uma consulta na internet me trouxe uma descrição que acredito estimulante, como o café que o professor João Célio nos serve enquanto nos ensina: “O espírito da cerimônia do chá chinesa é descrito como “he, jing, ji, qing” o que se traduz em “paz, respeito, harmonia, pureza”.

Se buscássemos no relacionamento com nossa cadeia produtiva gerar o prazer da competência, evitaríamos, provavelmente, os atendimentos apressados e impessoais.

Voltaríamos aos velhos tempos em que o balcão nos servia de uma mesa de negociação que igualava cliente e vendedor, nos garantindo apoio e uma proximidade que nos possibilitava o olho no olho, o cuidado para entender o que cada um propunha em cada etapa da negociação.

Resgataríamos o ritual, me conta o professor João Célio, de nos manter plenamente atentos às nuances que o ser humano (vendedor ou comprador) manifesta em torno da negociação de uma mercadoria ou serviço.

Fugiríamos das ideias e atitudes preconcebidas que muitos lojistas assumem quando percebem um consumidor em sua loja. Acreditam, piamente, que se entramos ali é porque vamos comprar o que tem a venda, e partem para propostas agressivas, sem querer entender o que nos fez entrar no seu estabelecimento.

Sem nos olhar no olho, sem perceber nossa linguagem corporal, sem querer saber que provavelmente estamos atrás inicialmente de um copo de água ou de uma xícara de chá, para, quem sabe, em seguida iniciarmos um relacionamento de toda uma vida com aquela loja, empresa ou escritório.