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Brasil urgente: precisamos de empreendimentos inovadores de alto impacto

Linha de produção em fábrica de cerveja - Roosevelt Cassio/Folhapress
Linha de produção em fábrica de cerveja Imagem: Roosevelt Cassio/Folhapress

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

08/08/2014 06h00

O brasileiro tende a se ver como um povo criativo e empreendedor. Os dados do último relatório de Empreendedorismo no Brasil (GEM Brasil 2013) indicaram 32,3% de empreendedores, na população brasileira, sendo 17,3% empreendedores nascentes e novos e 15,4% já estabelecidos.

Deste modo, estimavam-se cerca de 40 milhões de brasileiros de 18 a 64 anos envolvidos com atividades empreendedoras. Bastante. Mas, outros dados nos ajudam a distinguir impactos econômicos bem distintos entre os diversos portes e naturezas de empreendimentos.

Assim, o esforço denominado Empresômetro, criado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação – IBPT -, utiliza todos os dados públicos sobre empresas públicas e privadas ativas no país. Contabilizam todos os formatos jurídicos (o que inclui, por exemplo, cooperativas, consórcios, fundações etc.).

Quando os dados ainda não foram disponibilizados usam as estatísticas de três anos anteriores atualizando-os com as taxas de crescimento médio setorial. Assim, graças a modelos e cálculos matemáticos informam em tempo real o número de empresas por setor, por atividade, cidade, Estado etc.

Informam que existem no Brasil 17,4 milhões de empresas ativas. Número considerável. Examinados por setores distribuem-se deste modo: cerca de 8 milhões em serviços, 7,15 milhões no comércio, 1,25 milhão na indústria e 720 mil em agronegócio.

Mesmo com número bem menor de empresas o agronegócio tem escorado o PIB brasileiro, e demonstrou vigor e cresceu no ano passado 7% comparativamente ao pibinho de 2,3%. Mas, a criação de novas empresas neste setor tem declinado nos últimos 4 anos, o que é um sinal de alerta!

O Empresômetro informa que 9 milhões das empresas são empresários individuais e mais 375 mil são contribuintes individuais. Ou seja, mais de 50%. Assim, são brasileiros que geram sua própria renda e ajudam a movimentar a economia. Mas, seu impacto econômico, individualmente, é muito pequeno.

As sociedades empresárias limitadas são 5,78 milhões, adicionando-se 818 mil associações privadas. Esse tipo de empresas tem mais chances de agregar valor e introduzir inovação por reunirem mais pessoas e recursos: desde empreendedores a colaboradores.

Entretanto, o maior impacto econômico resulta de um subconjunto de empresas que consegue crescer a taxas elevadas, graças à agregação de inovação quer em produtos, serviços, processos, matérias-primas, modelos de negócios, ampliação de mercado, estratégias de marketing etc.

Os negócios que agregam mais de 20% ao ano de pessoal ocupado por 3 anos consecutivos são denominados empresas de alto impacto. E, se mantém este crescimento por cinco ou mais anos são chamados de empresas gazelas.

Para se ter uma ideia de quantas são e o de seu impacto, a parceria entre o IBGE e a Endeavor, usando dados de 2005 a 2008, identificaram cerca de 31 mil empreendimentos de alto impacto. Poucas: 1,7% do total de empresas brasileiras. Mas a onda de choque que criam é imensa: quase 17% do pessoal ocupado assalariado e 18% da agregação de valor em indústria, construção civil, comércio e serviços.

E, é esse o tipo de empreendimentos que mais precisamos! Urgentemente!

Pois, estamos perdendo feio na competitividade tecnológica. O Monitor de Déficit Tecnológico de 2013, que focaliza apenas a indústria, informa que em 2013, importamos US$ 93 bilhões a mais do que exportamos, sobretudo em bens de alta e média alta intensidade tecnológica.

Daí que, na agenda política deveríamos ter como estratégia, num esforço conjunto com a sociedade e empreendedores, investimentos e estímulos para agregação de mais inovação, transformando conhecimento e tecnologia em negócios de alto impacto.

Para isto há muito a fazer, sobretudo reduzindo os fatores desfavoráveis aos nossos empreendedores. Basta consultar, por exemplo, o Doing Business 2014, para ver os pontos críticos a serem atacados para não sermos apenas um país exportador de commodities e um grande mercado a ser explorado.