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Imagine se os americanos tivessem criado o Castelo Rá-tim-bum...

Personagens do programa "Castelo Rá-Tim-Bum", da Tv Cultura - Marisa Cauduro/CEDOC FPA
Personagens do programa "Castelo Rá-Tim-Bum", da Tv Cultura Imagem: Marisa Cauduro/CEDOC FPA

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

15/08/2014 06h00

O sucesso estrondoso da mostra Castelo Rá-tim-bum no MIS (Museu da Imagem e do Som) em São Paulo, com apoio da TV Cultura e da Fundação Padre Anchieta, mostra o potencial desta inovação brasileira na área de entretenimento.

O museu já teve que ampliar os horários de visita à exposição. As pessoas chegam de manhã para poder adquirir os ingressos, e muitos não se conformam com o fato de já não mais poderem comprar entradas pela internet (posição do museu para evitar os cambistas).

Ou seja, repete-se o sucesso da série que, na época de sua exibição na TV, garantia recorde de audiência para um programa educativo focado no público infanto-juvenil, e que foi ao ar de maio de 1994 a 1997.  O programa recebeu diversos prêmios, até no Festival de Nova York. Foi mostrado pelo canal a cabo Nickelodeon para a América Latina.

O Castelo se inspirou em programa anterior da mesma TV Cultura o Rá-Tim-Bum e foi posteriormente sucedido pela Ilha Rá-Tim-Bum. A temática se estendeu em uma série de programas para o mesmo público. E, que possibilitaram também a exploração de licenciamentos de diversos produtos como livros, vídeos, jogos e objetos diversos.

Por trás desses sucessos figura o roteirista e ator Flávio Henrique de Souza Haar. Aliás, na sua obra constam diversos sucessos na TV além do Castelo, o Rá-Tim-Bum, a Ilha Rá-Tim-Bum e Mundo da Lua. Em 1996, foi roteirista do também famoso programa de humor o Sai de Baixo (da TV Globo). Ele tem também trabalhos no cinema com diversos filmes da Xuxa.

Um talento para ninguém botar defeito! Com imaginação prodigiosa. E que, juntamente com o diretor Cao Império Hamburguer, também roteirista, cineasta e produtor cinematográfico, fizeram uma dupla incrível que povoava a imaginação da criançada (será que só delas?).

Posteriormente ao Castelo na TV, Cao dirigiu o filme com o mesmo nome, que foi escrito por Anna Muylaert. Foi um dos filmes mais caros da cinematografia brasileira: R$ 7 milhões. Estreou em 1999, e ficou em segundo lugar em bilheteria na época.

Agora, imaginem se eles fossem norte-americanos. Se a série tivesse sido exibida em alguma TV norte-americana. Se o filme tivesse sido produzido e lançado lá... Com todos os ingredientes de um garoto aprendiz de feiticeiro (Nino), que tem 300 anos, que vive com o tio (Dr. Victor) que é um misto de cientista e feiticeiro e a tia-avó feiticeira de 6.000 anos de idade (Dona Morgana).

Vivendo no meio de São Paulo num Castelo povoado com animais, monstros, cobra, gralha, ratinho, passarinhos, boneco locutor de rádio, par de botas gêmeas, fantoche de dedos, gato leitor de livros e controlador da biblioteca, fadas boas, planta carnívora, um transmissor de cinema antigo, livro falante etc.

E, que recebe visitas diárias de três amiguinhos: Zeca, Biba e Pedro. Além de visitantes muito interessantes, como o jovem negro Bongô (entregador de pizzas), a Caipora (retirada do nosso folclore) e Etevaldo (que veio de outro planeta e se move por teletransporte).

Creio ser desnecessário dizer que os norte-americanos teriam criado um imenso e fabuloso parque temático que exploraria todos os recantos e encantos das histórias e tramas vividas pelos personagens do Castelo.

E criariam inúmeros shows com os personagens, oferecendo a oportunidade das crianças até contracenarem com eles. E, oficinas temáticas, aventuras especiais, visita aos estúdios da TV Rá-Tim-Bum etc.

Não parariam no Castelo. Criariam o mundo Rá Tim Bum, com a Ilha é claro, e outros itens: floresta Rá-Tim-Bum, navio Rá-Tim-Bum...

Parece que nos faltam maior arrojo e visão empreendedores para ver esta e outras possibilidades para criar nossos próprios parques temáticos – a obra de Monteiro Lobato é outro manancial – e nos divertirmos com entretenimento genuinamente nacional, sem exportação de divisas.