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Aí vem a Páscoa, a melhor época para os negócios de chocolate

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

20/02/2015 06h00

Enquanto grande parte da população brasileira desfrutava o período de férias e de Carnaval, muitos empreendedores e negócios estavam agitados para a Páscoa que representa para eles o seu Natal: estavam ocupados, pelo menos desde outubro do ano passado, com o desenvolvimento dos produtos, produção, vendas e distribuição.

De acordo com a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates) somos o terceiro maior produtor de chocolates do mundo, atingindo mais de 732 toneladas em 2012 e o Brasil desponta como um dos maiores consumidores de ovos de Páscoa do mundo, somente atrás dos EUA. Nosso consumo anual do chocolate sob todas as formas gira num patamar acima de 2,5 kg por brasileiro (as indicações variam até 3,5 kg).

Este quadro mudou muito após campanhas  de marketing para impulsionar o seu consumo, visto que até o início dos anos 70 este alimento era percebido negativamente -- “afetando o fígado”, “um produto quente”, “que engorda” --, considerado supérfluo e dispensável. Os produtores de cacau, num movimento articulado internacionalmente, promoveram campanhas institucionais nacionais para reverter esta imagem.

Desde a introdução do cacau no país em 1746 no Pará e no sul da Bahia, a indústria cacaueira floresceu muito, sobretudo no início do século passado. Em 1983 a produção tinha sido alavancada e atingiu-se na época 121 mil toneladas de produção. Éramos o maior exportador mundial, o segundo maior produtor em 1989, quando a entrada da doença vassoura da bruxa dizimou a produção no sul da Bahia.

Assim, hoje somos grandes consumidores de chocolate mas nos situamos mundialmente como quinto produtor de cacau. Desde o final dos anos 80 passamos a importar muito, e estamos no patamar de mais de 65 mil toneladas (dados de 2012, segundo a Organização Mundial do Cacau). Mas atualmente há cacauicultores brasileiros apostando em mais qualidade e espécies e variedades mais resistentes.

Em termos de balança comercial a indústria de chocolate, em toneladas ano, está a desfavor do Brasil, pois caímos nas exportações de 32 para 30 mil toneladas em 2013, e importamos 20 mil no mesmo ano (dados do MDCIC – SECEX apresentados pela Abicab). Houve decréscimo de 31%, e caímos em número de países atendidos (de 111 em 2012, para 106 em 2013).

No polo interno o mercado cresceu e o consumidor se sofisticou, principalmente no maior mercado que é o Sudeste. Há maior abertura para experimentação de novos sabores e misturas, para chocolates mais amargos e gourmets, para chocolates diet, marcas estrangeiras. Entretanto, a preferência pelo chocolate ao leite continua imbatível.

As marcas de chocolate produzidas no país continuam na liderança do mercado, sendo o maior canal de compra os supermercados (76% das vendas). As caixas com variedades de sabores continuam campeãs. As mulheres lideram o consumo com 56%.

Contudo os jovens, e pessoas de classes mais afluentes consomem mais produtos premium e gourmet, mais chocolates escuros e conhecem mais os produtos estrangeiros e associam o chocolate premium à qualidade dos ingredientes e à marca.

Na Páscoa de 2014 três empresas detiveram 76% do mercado: Mondelez com 32,7% (graças à força da Lacta fundada em 1912), Garoto com 22,5% e Nestlé com 21,1% (apesar de dona da Garoto os resultados são desmembrados pois devem ser consideradas empresas distintas). 

No que se refere a chocolates considerados premium desponta a brasileira CacauShow, que desponta como uma das marcas mais reconhecidas pelos consumidores, e apesar de ter apenas 25 anos, é dona da maior cadeia de lojas de chocolate do mundo (mais de 1600 lojas). Cadeia que cresce graças ao modelo de franquias.

Outras marcas de chocolates, incluindo os fabricados artesanalmente também oferecem franquias. A Abicab, numa pesquisa recente em 764 municípios acima de 20 mil habitantes, localizou 3.254 lojas de chocolate premium. Destas 76% são franquias e as restantes 24% são independentes ou licenciadas.

Estão concentradas no Sudeste do país. Só em São Paulo eram 1259; 372 no Rio de Janeiro, Minas Gerais com 276, Rio Grande do Sul com 257 e 220 no Paraná.

Apesar do cenário econômico pouco promissor, parece que o setor de chocolates ainda oferece espaços para empreendedores, sobretudo no varejo, e nas franquias. Mas, há como se lançar independentemente, procurando manufaturar novas receitas e produtos, aproveitando o crescimento do interesse pelos chocolates premium e gourmet, chocolates de origem controlada, diet e outros.