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Turismo educacional ainda oferece oportunidades

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

27/03/2015 06h00

A humanidade sempre foi curiosa e desbravadora. Sempre gostou de conhecer outros lugares e povos. Visitar, interagir, conhecer diferentes hábitos, formas de se relacionar, de morar, comer, vestir, organizar família, sociedade e Estado, formas de se relacionar com o divino, de se entreter, de praticar esportes.

Se a pessoa puder ficar por um período no local visitado entrará em contato com aspectos históricos, culturais, artísticos, gastronômicos, políticos. Conhecerá a formação deste povo, sua língua, artesanato, além da flora e fauna.

Com o crescimento dos meios de transporte e da comunicação se estimulou tanto o interesse quanto as possibilidades de troca. E a globalização acirrou tanto as trocas quanto as exigências de formação de pessoas e de profissionais mais flexíveis e habilitados para se deslocar, adaptar, interagir, trabalhar e produzir em outras regiões e países.

As viagens de intercâmbio se tornaram mais comuns e ampliaram as possibilidades de destino e formas de viabilização. Mesmo sem ter todo o dinheiro para pagar o intercâmbio, há como viajar e trabalhar, fazer estágio, ou residir e ajudar a família hospedeira a cuidar dos filhos em troca de moradia e alimentação, mantendo os seus estudos no país escolhido.

No cenário mais amplo do turismo educacional percebe-se que é um campo extremamente amplo. Abrange as viagens de um dia para um destino mais próximo que servem os propósitos pedagógicos da escola, inserindo-se no contexto de uma ou mais disciplinas, ou como uma experiência de enriquecimento de repertório dos alunos.

Podem ser viagens para turmas de alunos do ciclo fundamental como do segundo grau. Neste caso, a iniciativa pode ser da própria escola e de seus professores, mas podem também ser oferecidas por agências. Podem ser viagens de curta duração, envolvendo visitas a locais históricos, a eventos culturais e artísticos. Já necessitam de hospedagem na cidade ou região visitada.

Há viagens de maior duração, feitas em grupo acompanhadas por professores com apoio de agências ou instituições dedicadas a este tipo de turismo e que atende a necessidades específicas. Exemplo: se a turma for de alunos de artes com especialidade em fotografia, podem ser levados para museus e exposições, para fotografar lugares e cenas.

Os tipos de viagens mencionados até agora são normalmente feitos em grupos e a iniciativa tende a ser da escola ou da faculdade. Entretanto, se o jovem quer ir sozinho, descortina outras possibilidades. A depender de sua motivação: aprender ou aperfeiçoar o idioma, ter uma experiência de trabalho, estudar por um período, fazer a graduação fora, morar com uma família, ou fazer um trabalho voluntário.

E também da duração: durante suas férias, semestre, anos. De olho neste grande mercado, muitas empresas se organizaram para oferecer e facilitar desde a oferta de cursos de idiomas associada à imersão na cultura local como a interligação dos interessados com as instituições educacionais em diversas partes do mundo.

No primeiro caso de aprender idioma enquanto vivencia a cultura local. Fugindo do caso mais comum que é aprender inglês, têm-se exemplos como a Don Quijote, fundada em 1986 e que rapidamente ofereceu sua própria escola de espanhol e cresceu, tendo 35 centros de estudos em 11 países, não somente na Espanha, como América Latina e México. Deste modo recebe mais de 15 mil alunos por ano.

No Brasil temos uma diversidade de agências que organizam viagens de turismo educacional. Tanto no sentido de levar brasileiros quanto de receber estrangeiros. Um dos pioneiros neste tipo de turismo, e que iniciou em 1971, foi o Student Travel Bureau (1971) que se dedica a organizar experiências educacionais tanto para jovens quanto para adultos.

Já está presente em 19 estados brasileiros e em 73 cidades. E desenvolveu uma rede extensa de conexões com escolas, universidades, empresas. É licenciada por instituições internacionais que se dedicam a viagens para jovens como a International Student Travel Confederation – ISTC.

Você empreendedor pode pensar que o mercado já está explorado e não teria mais oportunidades. Pode estar equivocado. Decerto que para entrar neste mercado é necessário desenvolver conexões, sobretudo com universidades, faculdades, escolas e empresas. Muitas viagens são demandadas por professores focalizando áreas específicas, com experiências acadêmicas e não acadêmicas.

Esses interesses podem incluir: visita a empresas, a regiões agrícolas, contato com empreendedores, com a comunidade, oportunidade para participar de um projeto ou desafio com estudantes locais. Veja neste caso a agência Campus Brasil, fundada por dois empreendedores brasileiros que focalizam a organização de viagens para universitários, oferecendo customização.

O Brasil passa por um período difícil, de retração de gastos e de investimentos. Contudo, mesmo em crises, há muitas pessoas, especialmente jovens, que querem se desenvolver e se diferenciar agregando conhecimento e experiências educacionais autênticas, ampliando seu repertório e possibilidades de se inserir no trabalho e na sociedade. Pode ser uma oportunidade para novos empreendedores também!