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Inovação marca a trajetória dos empreendedores brasileiros do vinho

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

22/05/2015 06h00

Nas últimas décadas, assistimos a uma grande evolução na variedade e qualidade de vários produtos “made in Brazil”. Exemplos: cervejas, chocolates, queijos, vinhos, pães, iogurtes etc.

Particularmente no caso dos vinhos, saímos do patamar da produção de vinhos tintos de mesa em garrafões para vinhos e espumantes elaborados. Essa evolução tem colocado o país em renomados concursos como o Mundial de Bruxelas, o International Wine Challenge ou nas listas da Associação Mundial de Jornalistas e Escritores de Vinhos e Licores (WAWWJ).

Exemplos: na lista dos 100 melhores vinhos do mundo constaram, em 2014, dois espumantes – o Aurora Espumante Moscatel da Vinícola Aurora – na 56ª posição -, o Garibaldi Espumante Moscatel  da Vinícola Garibaldi – 97ª posição , também da Garibaldi e o Aurora Reserva Merlot 2011, da Aurora – na 65ª.

O Salão Internacional do Vinho – ExpoVinis (19ª edição) - apontou entre dez melhores vinhos os brasileiros Aracuri Brut Chardonnay 2013, da gaúcha Aracuri Vinhos Finos, o Vigneto Sauvignon Blanc 2014, da vinícola catarinense Pericó e o Valmarino Cabernet Franc 2012, da gaúcha Valmarino Vinhos Finos e Espumantes.

Na viticultura da Serra Gaúcha três regiões se destacam: o Vale dos Vinhedos (com Denominação de Origem – DO), Pinto Bandeira e Altos Montes, que já têm Indicações de Procedência. E, há alguns anos, temos o Vale do São Francisco e o Planalto Catarinense, que já produzem vinhos de melhor qualidade.

Estamos avançando não somente em espumantes, segmento em que o Brasil tem se colocado repetidamente entre os melhores. Também há melhorias nos vinhos tintos, brancos e rosês. Graças a investimentos realizados por empreendedores, em importação e plantio de cepas.

Também temos ampliado o conhecimento tanto na vinicultura, vitivinicultura, e na enologia; já temos enólogos renomados; estamos formando mão de obra especializada; temos pesquisa pela Embrapa Uva e Vinho e formação de sommeliers.

Diversos eventos são realizados anualmente sobre a viticultura e enologia. Neste ano, serão realizados conjuntamente o 13º Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia e o 15º Congresso Latino-Americano de Viticultura e Enologia. 

Assim, o consumidor brasileiro pode ampliar seu conhecimento de castas de uvas e experiência com os vinhos nacionais e importados: Chardonnay, Cabernet, Sauvignon, Pinot Noir, Riesling, Tannat, Shiraz, Sauvignon Blanc, Malbec, Alicante Bouschet, Peverella, Teroldego, Touriga Nacional, etc.

Contudo, os empreendedores da viticultura e enologia brasileiras não se contentam em investir apenas em plantio de uvas e produção de vinhos. Procuram inovar. Exemplo: a Vinícola Pericó lançou (2010) o primeiro Icewine brasileiro (as uvas congeladas naturalmente são colhidas ao amanhecer).

Para isto, o vinhedo deve se situar em grande altitude, como é o caso da Pericó, em São Joaquim, a 1.300 metros de altitude. Deste modo, Wandér Weege empreendedor da Pericó e dono da malharia Malwee, inscreveu o país na raridade que é o vinho do gelo, doce e caro.

Outro exemplo é o da família Dal Pizzol, de Faria Lemos, RG, cuja vinícola completou 40 anos no ano passado. A história da família é entrelaçada à do vinho: sete gerações na Itália, em Vêneto e mais seis gerações no Brasil. É dirigida atualmente pelos irmãos Dal Pizzol – Antônio e Rinaldo.

Encaram o vinho como cultura. Assim, também encabeçam: o Ristorante Enoteca Dal Pizzol, o Museu o Museu da Cultura do Vinho (com relíquias da vitivinicultura) e o Ecomuseu, mais conhecido como Vinhedo do Mundo. Esta é uma coleção viva de mais de 390 castas de uvas de uns 30 países.

Desse modo, o vinhedo se situa hoje como o maior da América Latina e está entre as três maiores coleções privadas de uvas do mundo. Para isso eles se inspiraram em Luigi Soini, italiano, cuja coleção abriga 950 variedades de uvas de 70 países.

Tudo isso está à disposição para visita bem como degustação dos brasileiros, que precisam saber mais e valorizar mais os esforços feitos no país no sentido de amplificar a experiência e a cultura do vinho. Ou seja, falta ao público olhar e dar mais valor “à prata (por vezes, ouro) da casa”!