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Rodeios trazem o country para a cidade incentivando negócios locais

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

28/08/2015 06h00

A acelerada urbanização do Brasil nas últimas décadas distanciou grande parte da população do campo. Decerto que campo e cidade são interdependentes dado que necessitamos, nas metrópoles e cidades, dos produtos lá plantados, criados, colhidos, embalados, distribuídos pelos diferentes agentes da cadeia de logística e de comércio.

O que se colhe ou cria no campo é abatido, processado, embalado, movimentado, distribuído na cidade, quer por atacados ou pelo varejo. Das cidades e de suas fábricas, o campo recebe muitos insumos, matérias primas, ferramentas, equipamentos e veículos. Além de serviços, informação, tecnologia. De fato, há intensa troca de conhecimento entre os dois.

Já temos gerações nascidas, criadas, educadas nas cidades, sem qualquer intimidade ou até mesmo experiência superficial com o campo. Deste modo, uma das formas deste campo chegar até estes citadinos é por meio de feiras agropecuárias, outras feiras que celebram as colheitas ou dos rodeios.

De simples brincadeiras e competições entre peões, que após a lida com o gado, se reuniam para bater papo, tocar e cantar ao som da viola e fazer disputas entre si sobre habilidades desenvolvidas na condução dos rebanhos nasceu, de modo despretensioso, o que já se tornou uma indústria de entretenimento no país, que são as festas de rodeio.

Pelo menos em Barretos, essas disputas se iniciaram oficialmente em 1955. Sessenta anos. Período em que os rodeios se profissionalizaram e ganharam grandes proporções. Já não são mais apenas disputas de peões. São eventos que movimentam uma variedade de agentes, players, negócios. Envolvem shows, rodeios com touros, provas de três tambores.

Essas provas são com cavalos de raça com mulheres que montam – as amazonas. Também existem as provas de cutiano, estilo tipicamente brasileiro no qual o peão não utiliza sela para montar o cavalo, segurando-o por tiras de cordas presas ao animal, com uma mão obrigatoriamente livre, não podendo tocar em nada, e as esporas são sem pontas.

Neste caso, como no dos touros, o desafio é ficar mais do que oito segundos no dorso do animal. As provas são reguladas por Associação, Confederação, e até entidades internacionais, pois no caso da Festa do Peão de Barretos, nela ocorrem provas da Professional Bull Riders Brasil, que classificam o campeão para a competição mundial. A amazona ganhadora também ganha o passe para disputar internacionalmente.

Estima-se que os amantes e frequentadores dos rodeios sejam muito mais de 36 milhões. Os milhares de rodeios que acontecem no país anualmente atraem sobretudo um público jovem, na faixa de 17 e 37 anos. Um cálculo do Ministério do Turismo, de algum tempo atrás, estimou que cada visitante deixaria $ 70 dólares no destino.

Imagine o impacto desta atividade em empregos diretos e indiretos. Entre os diretos tem-se as pessoas que trabalham na montagem das estruturas, na recepção, orientação, iluminação, som, limpeza, vigilância, segurança, comunicação, alimentação, venda de roupas e acessórios e de souvenires.

Decerto que a Festa de Barretos, na edição especial deste ano em que completa 60 anos, é a maior delas. E, para se ter uma dimensão de seu impacto, só na infraestrutura de internet foi investido cerca de R$ 3 milhões para servir até 20 mil visitantes ao mesmo tempo. Lembre-se que eram esperados cerca de 900 mil visitantes durante os 10 dias de festa.

Os shows de música sertaneja envolvem duplas e cantores nacionais. Entretanto, neste ano, a celebridade country americana Garth Brooks constava como um grande chamariz. E, ele não teria cobrado cachê, pois o show seria beneficente para o Hospital de Câncer da mesma cidade.

Ora, imagine que há toda uma cadeia de negócios de turismo, agências, empresas de transporte interurbano e aéreo, hotelaria, de restaurantes, lanchonetes e bares para levar e atender a todos os visitantes que se deslocam para as festas. Logicamente que as menores atraem menos gente, que não se hospeda no local. Vai no esquema de bate e volta.

Mas, mesmo assim, se diverte e consome. E conhece a cidade e a região, caso sejam de outras cidades e estados. Levam lembranças reais – artesanato, souvenires. E tiram muitas fotos, compartilhadas pelas redes sociais, disseminando a festa e a imagem da região.

Se pensarmos que esse tipo de evento começa nas fazendas, na criação dos animais envolvidos, no seu trato e transporte, cuidados veterinários etc, percebe-se quão longa é esta cadeia de negócios. Que tem recebido pressões sobre o trato com animais e também dos humanos envolvidos, havendo exigências de seguros, cuidados médicos e veterinários.

Trata-se de atividade que interessa aos municípios e aos diferentes setores envolvidos, bem como dos produtos, marcas, patrocinadores e mídias – rádio, televisão, agências de comunicação físicas e virtuais. Pois representa cifras de bilhões de dólares e centenas de milhares de empregos diretos e indiretos. Afinal, o povo quer ter momentos de diversão para esquecer as operações do tipo Lava-Jato.