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Reinaldo Polito

A simpatia de Francisco

24/07/2013 11h54

O papa Francisco conquistou os brasileiros assim que pôs os pés em nosso país. Ele disse em seu primeiro discurso: "Para ter acesso ao povo brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente nesta porta".

Sua Santidade abriu o portal que dá acesso ao coração dos brasileiros antes mesmo de pronunciar a primeira sílaba, valendo-se apenas da sedução do seu sorriso e da simpatia natural que transpira de suas atitudes. Cada gesto, cada movimento, cada olhar é sempre um exemplo eloquente de uma pessoa humilde, simples e generosa.

Nem a falta de segurança que provocou risco extremo de vida em sua passagem pelas ruas do Rio de Janeiro tirou seu humor. Sempre com boa vontade, beijou amorosamente as crianças e tocou com afeto as pessoas que aproximaram do carro que o conduzia. Era como se aquele momento imprevisto tivesse sido programado para que pudesse estar ainda mais perto do povo.

Essa lição sobre a importância da simpatia na comunicação me foi ministrada há muitos anos também por um religioso, o padre Vasconcelos. Extraordinário orador e estudioso dedicado da Arte de Falar em Público. Eu era muito jovem, e já nessa época ávido por aprender tudo o que poderia me ser ensinado sobre oratória.

Em uma palestra que proferiu na escola do meu querido professor Oswaldo Melantonio, ouvi um conselho precioso que nunca mais esqueci, e que tem sido personificado nessa passagem do papa Francisco pelo Brasil.

Disse o padre Vasconcelos: "Quando o orador abre um sorriso sincero, verdadeiro, autêntico ele não abre apenas um sorriso, abre também um campo magnético que envolve a todos. E nós ouvintes, conquistados por sua simpatia, às vezes, chegamos a aceitar sua mensagem antes mesmo de conhecer seus argumentos".

Quantos problemas, desavenças e rancores são superados não pelos argumentos, mas sim pela simpatia e pelo sorriso verdadeiro. Só para nos atermos "às fronteiras do Vaticano", o Brasil tem sido abençoado por essa simpatia papal. Acompanhei de perto as vindas do Papa João Paulo 2º ao território brasileiro.

O discurso que proferiu em Belo Horizonte foi um dos mais sensíveis e tocantes que já presenciei. Vale a pena recordar essa página tão extraordinária da oratória mundial que teve como cenário o Brasil. Ao falar aos jovens mineiros, de maneira poética e habilidosa fez um elogio que conquistou a todos:

"Peço que me seja permitido dedicar aos jovens do Brasil esta homilia. Pode-se olhar as montanhas, atrás, e se pode dizer: belo horizonte! Pode-se olhar a cidade, e se deve dizer: belo horizonte! Mas, sobretudo, pode-se olhar a vocês, e se deve dizer: que belo horizonte!"

Não é à toa que João Paulo 2º está prestes a se tornar santo. Com aquela cara de vovô bonzinho também conquistava plateias por onde passava. Quer outro exemplo da extraordinária comunicação dele? Veja o trecho desse discurso que proferiu no Rio de Janeiro:

"Redentor. Os braços abertos abraçam a cidade aos seus pés. Feita de luz e de cor e, ao mesmo tempo, de sombras e escuridão, a cidade é vida e alegria, mas é também uma teia de aflições e sofrimentos, de violência e desamor, de ódio, de mal e de pecado. Radiosa à luz do sol, silhueta luminosa suspensa no ar à noite, o Redentor, em pregação muda, mas eloquente, aqui continua a proclamar que 'Deus é luz', 'é amor'.

"Um amor maior do que o pecado, do que a fraqueza e do que a 'caducidade do que foi criado' mais forte do que a morte.
Sim, no cume destes montes, não há quem não possa contemplar a sua imagem, em atitude de acolher e abraçar, e imaginá-lo como é, sempre disposto ao encontro com o homem, desejo de que o homem venha ao seu encontro".

Diante de comunicadores tão excepcionais, até que Bento 16 cumpriu bem seu papel. Sem ser uma figura carismática, fez discursos no Brasil que foram verdadeiras obras-primas. Com extrema habilidade associou o conteúdo da sua mensagem ao Hino Nacional Brasileiro. Com o objetivo de sensibilizar a plateia para a preservação da Amazônia e o cuidado que devemos ter com seus habitantes, bastou dizer: "Nossos bosques têm mais vida".

A permanência do papa Francisco no Brasil será lembrada com alegria e saudade. Sua simpatia poderá ser a esperança de que dias melhores sempre estarão por vir. É a oportunidade que temos de pôr em prática também um pouco da nossa simpatia.

Mesmo que não seja por alegria, que seja para resolvermos de maneira mais leve os problemas que nos cercam. Ou será que o papa Francisco com sua alegria e bom-humor não enfrenta no dia a dia desafios que parecem ser até intransponíveis?!

SUPERDICAS DA SEMANA

- Faça da simpatia um de seus argumentos mais eloquentes
- Aprenda a sorrir com sinceridade e abra seu campo magnético
- Antes de pronunciar a primeira palavra analise o que já fez para conquistar as pessoas
- Faça com que suas atitudes deem respaldo às suas palavras

Livro de minha autoria que ajuda a refletir sobre esse tema: "O que a vida me ensinou", publicado pela Editora Saraiva, também no formato digital